sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Já que não posso ir passear para o Cabedelo por causa do confinamento e do tempo e também não me apetece ver televisão...



O Cabedelo foi fechado. 
E, ao contrário do que acontece hoje na marginal citadina (Avenidas 25 de Abril e do Brasil), não foi o confinamento, nem o mau tempo, que o fechou.

Ao longo da vida sempre fui um self-made man. 
Mas, puro, autêntico, concreto e absoluto. 
Bem ou mal, foi assim. Bem ou mal, é assim.

Venho de uma família modesta, mas onde, desde sempre, a verdade, a autencidade e a seriedade são valores fundamentais.
Foram valores preservados e transmitidos às gerações que me antecederam e às que me vão seguir.

Em casa, desde sempre, os estímulos para a leitura vieram do meu Pai. 
Morreu jovem em 1974. Tinha 47 anos de idade.
Antes de mim, tirando o meu Pai, não havia leitores na minha família.

Com as novas gerações, a minha filha, as minhas sobrinhas, o meu sobrinho, tudo mudou.
Se na minha famíla houve antepassados analfabetos, depois de mim já existem vários licenciados e uma com um Mestrado de 19 valores.

Na minha juventude, na minha Aldeia, fosse no círculo familiar, ou num espectro mais alargado, eu fui das poucas aves raras que tinham gosto e apetência pela leitura. 
Muito jovem, lia tudo a que tinha acesso: jornais (sobretudo, os desportivos que o meu Pai comprava quando estava em terra no intervalo das viagens à pesca), os romances que ele comprava em segunda mão num alfarrebista em Lisboa, os livros que o carro Biblioteca da Gulbenkian emprestava.

Depois, quando comecei a ganhar algum dinheiro comecei a comprar os meus primeiros livros. Até hoje nunca mais parei. 
Não tenho os que quero. Tenho os que posso, pois o dinheiro nunca abundou para as bandas deste jovem há muito tempo.

Num País onde muita pouca gente continua a ler, continuo a sentir-me uma ave rara. 
Por vezes, mesmo algo exótica.
Chego a ter inveja daquele género de pessoas que levam a vida ao nível da inutilidade intelectual. Não veem, não olham, não reparam e não falam.
Como diz o povo, «eles é que a levam direita».

«O mundo é dos burros e dos espertos», ouve-se dizer muitas vezes.
Porventura, será assim em alguns casos.
Essa, aliás, é a normalidade nos dias de hoje.

Todavia, este jovem há muito tempo, ainda não teve necessiade de ir parar ao hospital psiquiátrico. 
Todos sabemos que a normalidade actual, é a nova loucura. 
Mas não se pense que me sinto bem na pele de marginal, ou ovelha perdida do rebanho.

Aliás, nem admito que seja assim: como a maior parte casei, tive uma filha e divorciei-me.
Marginal ou ovelha perdida porquê? 

E tenho uma mais valia de que poucos se podem gabar: tenho gente em quem confio e a quem me posso confessar sem medo.
São os Amigos. E as Amigas.
Quem, como eu tem Amigos e Amigas, só pode ser um gajo porreiro. E rico.
Resumindo: isto, hoje, vai ainda vai dar chuva...

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