A Selecção Nacional sempre que jogava em Portugal, porque havia sempre alguém na tribuna que pertencia a uma entidade oficial, era obrigada a fazer a "saudação fascista". Esta, que a imagem mostra, foi feita num Portugal vs Espanha, em 30 de Janeiro de 1938, quando os espanhóis vieram a Lisboa.
Recordo, três jogadores que, na altura, incomodaram o regime fascista, como agora o Quaresma, incomoda o André Ventura: o guarda-redes Azevedo, do Sporting; e os belenenses Mariano Amaro e Manuel Quaresma (tio avô do actual Quaresma). Azevedo seria o guarda-redes da famosa equipa do Sporting que contou com os Cinco Violinos na linha de ataque. Quaresma viria a ser um dos campeões do Belenenses de 1946: driblador exímio, ficou conhecido pela sua habilidade e pelo seu repentismo. Mas Amaro foi, seguramente, a maior figura humana de todos eles. Os três ficaram ligados a um dos acontecimentos marcantes da história da nossa seleção. No dia 30 de janeiro de 1938, na recepção à Espanha, no momento de cumprimentarem o público com a saudação fascista, Azevedo esticou o braço mas manteve os dedos encolhidos, Quaresma limitou-se a ficar em sentido e José Simões, também do Belenenses, e Mariano Amaro levantaram os punhos. Os jornais dos dias seguintes procuraram não tocar no assunto, a revista “Stadium” chegou mesmo a retocar a fotografia das equipas alinhadas de forma a que nada se notasse. Mas nenhum deles escapou às incómodas perguntas da PVDE, tendo José Simões e Mariano Amaro sido mesmo presos para interrogatório. Uma exibição pública de coragem e de convicção que marcava a sua personalidade. André Ventura, só engana quem quiser ser enganado... |
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
quarta-feira, 6 de maio de 2020
O fascismo, a escola de André Ventura, nunca apreciou a coragem de assumir as convicções
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário