"O aumento vertiginoso do preço das casas na Margem Sul está a impedir a autarquia de comprar casas para mais de 150 famílias que vivem em torres de tijolo, com janelas e portas precárias."
"À medida que a pandemia ia alastrando, fui lendo e ouvindo que o Bolsonaro isto, que o Bolsonaro aquilo e que quando o vírus entrasse nas favelas seria a desgraça que está a ser. Concordei com a maioria, enjoei-me com algumas tiradas que mais não eram do que meros exercícios de retórica de profissionais ou amadores do aplauso, surpreendeu-me o deslumbramento de quem dizia umas coisas do alto das suas tamanquinhas, como se aqui não houvesse miséria daquela. Mas há. Em Portugal, embora não lhes chamemos assim, também temos favelas. E agora o Corona entrou em força numa delas. Chama-se Bairro da Jamaica. E não dá para ignorar toda aquela miséria e que ali mora gente que vive naquelas condições deploráveis. Gente que convive com outra gente menos desafortunada no transporte público que eles também usam, gente que limpa os escritórios onde trabalha a gente que os ignora, gente que serve nas casas onde vive gente indiferente à sua miséria porque o mundo, que diabo, é mesmo assim. Era. Mas agora eles trazem o vírus consigo, da favela invisível para o mundo visível dos telejornais. O resto do mundo pode continuar a ignorá-los até descobrir que o problema deles num espirro pode tornar-se também o seu."
Filipe Tourais
"À medida que a pandemia ia alastrando, fui lendo e ouvindo que o Bolsonaro isto, que o Bolsonaro aquilo e que quando o vírus entrasse nas favelas seria a desgraça que está a ser. Concordei com a maioria, enjoei-me com algumas tiradas que mais não eram do que meros exercícios de retórica de profissionais ou amadores do aplauso, surpreendeu-me o deslumbramento de quem dizia umas coisas do alto das suas tamanquinhas, como se aqui não houvesse miséria daquela. Mas há. Em Portugal, embora não lhes chamemos assim, também temos favelas. E agora o Corona entrou em força numa delas. Chama-se Bairro da Jamaica. E não dá para ignorar toda aquela miséria e que ali mora gente que vive naquelas condições deploráveis. Gente que convive com outra gente menos desafortunada no transporte público que eles também usam, gente que limpa os escritórios onde trabalha a gente que os ignora, gente que serve nas casas onde vive gente indiferente à sua miséria porque o mundo, que diabo, é mesmo assim. Era. Mas agora eles trazem o vírus consigo, da favela invisível para o mundo visível dos telejornais. O resto do mundo pode continuar a ignorá-los até descobrir que o problema deles num espirro pode tornar-se também o seu."
Filipe Tourais
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