“Quando Portugal Ardeu” é uma dolorosa e inovadora descida ao inferno profundo dos bastidores da rede bombista de extrema-direita nos idos de 1975/76. Foi uma realidade que muita gente desconhece. Centenas de atentados e acções violentas levados a cabo pela rede bombista de extrema-direita deixaram Portugal a ferro e fogo no pós-25 de Abril. O Verão Quente de 1975 fez subir a temperatura política, mas os atentados mais violentos aconteceram já em 1976, depois da alegada "pacificação" permitida pelo 25 de Novembro.
Depois, seguiu-se a construção da sociedade onde desembocámos. Ficámos entregues a maus alunos, com cursos incompletos ou mal acabados, que fizeram a vida na sombra de padrinhos, que os levaram pela mão das secções partidárias aos gabinetes. Tal como hoje ainda acontece, até no poder local. Basta olhar para a Figueira. Sublinhe-se, porém, que os jovens tinham de militar nas juventudes de PS, PSD e CDS. Os jovens nos partidos mais à esquerda foram os chamados "idealistas". A construção do "Portugal europeu" passou por esta gente. Vamos então a um pequeno conto de Cristina Torrão, que dá perceber muita coisa.
«Estava-se no verão de 1976. Mário Soares acabara de tomar posse como Primeiro-Ministro, depois de ganhar as primeiras eleições legislativas. Um conhecido de Leonel tornara-se Secretário de Estado do governo minoritário do PS e, sabendo que ele acabara de se formar, ofereceu-lhe um lugar de assessor.
Leonel não pensara em seguir a carreira política. Se o fizesse, aliás, via-se mais nas fileiras de um partido como a UDP, já que o partido que se formara a partir das Brigadas Revolucionárias se tinha ficado por uma votação irrisória. Seria preciso unir a esquerda que rejeitava o imperialismo soviético, de forma a torná-la uma alternativa credível. Mas Leonel não estava com vontade de se envolver em projetos desses, planeava apenas construir a sua carreira de advogado.
Na verdade, também a integração do amigo no governo PS o surpreendia, um amigo que igualmente andara metido em organizações marxistas-leninistas. O Secretário de Estado cozido de fresco lembrou-lhe, porém, que os tempos revolucionários já tinham passado à História. O futuro estava com Mário Soares e os Socialistas, seria essa a esquerda portuguesa! O PCP jamais alcançaria votação suficiente para ser alternativa de governo, para já não falar da UDP e quejandos.
- Leonelzinho, isto, daqui prá frente, vai ser assim: ou o PS, ou a direita!
Com a ideia de amealhar algum dinheiro, acabou por aceitar o cargo. O governo minoritário, contudo, não se aguentou e, com a dinâmica impressionante adquirida pela AD, Leonel, já se movimentando com à vontade nos meandros da política, acabou por se filiar no PS, a fim de fazer oposição. As eleições que deram a vitória retumbante a Sá Carneiro fizeram-no deputado e ele não mais deixou a Assembleia da República até às europeias de 1989, as primeiras em Portugal, que o catapultaram para Estrasburgo, ganhando mais dinheiro e viajando mais do que algum dia teria imaginado. Tornara-se um burguês!»
Depois, seguiu-se a construção da sociedade onde desembocámos. Ficámos entregues a maus alunos, com cursos incompletos ou mal acabados, que fizeram a vida na sombra de padrinhos, que os levaram pela mão das secções partidárias aos gabinetes. Tal como hoje ainda acontece, até no poder local. Basta olhar para a Figueira. Sublinhe-se, porém, que os jovens tinham de militar nas juventudes de PS, PSD e CDS. Os jovens nos partidos mais à esquerda foram os chamados "idealistas". A construção do "Portugal europeu" passou por esta gente. Vamos então a um pequeno conto de Cristina Torrão, que dá perceber muita coisa.
«Estava-se no verão de 1976. Mário Soares acabara de tomar posse como Primeiro-Ministro, depois de ganhar as primeiras eleições legislativas. Um conhecido de Leonel tornara-se Secretário de Estado do governo minoritário do PS e, sabendo que ele acabara de se formar, ofereceu-lhe um lugar de assessor.
Leonel não pensara em seguir a carreira política. Se o fizesse, aliás, via-se mais nas fileiras de um partido como a UDP, já que o partido que se formara a partir das Brigadas Revolucionárias se tinha ficado por uma votação irrisória. Seria preciso unir a esquerda que rejeitava o imperialismo soviético, de forma a torná-la uma alternativa credível. Mas Leonel não estava com vontade de se envolver em projetos desses, planeava apenas construir a sua carreira de advogado.
Na verdade, também a integração do amigo no governo PS o surpreendia, um amigo que igualmente andara metido em organizações marxistas-leninistas. O Secretário de Estado cozido de fresco lembrou-lhe, porém, que os tempos revolucionários já tinham passado à História. O futuro estava com Mário Soares e os Socialistas, seria essa a esquerda portuguesa! O PCP jamais alcançaria votação suficiente para ser alternativa de governo, para já não falar da UDP e quejandos.
- Leonelzinho, isto, daqui prá frente, vai ser assim: ou o PS, ou a direita!
Com a ideia de amealhar algum dinheiro, acabou por aceitar o cargo. O governo minoritário, contudo, não se aguentou e, com a dinâmica impressionante adquirida pela AD, Leonel, já se movimentando com à vontade nos meandros da política, acabou por se filiar no PS, a fim de fazer oposição. As eleições que deram a vitória retumbante a Sá Carneiro fizeram-no deputado e ele não mais deixou a Assembleia da República até às europeias de 1989, as primeiras em Portugal, que o catapultaram para Estrasburgo, ganhando mais dinheiro e viajando mais do que algum dia teria imaginado. Tornara-se um burguês!»
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