quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

Plano anticovid da Festa do Avante! 2020 vai integrar o espólio do Museu da Farmácia (parte 2)...

Ter razão antes do tempo


"Esta notícia, divulgada no site oficial da Festa do Avante, terá passado despercebida na comunicação social. Posso estar enganado, mas não vi qualquer referência. E no entanto, nunca uma Festa do Avante ocupou tanto espaço de mediático como a de 2020. Valeu tudo para a vilipendiar, caluniar e tentar impedir. 

Realizar a Festa do Avante em 2020 foi uma decisão difícil. O país estava a atravessar uma fase aguda da covid-19, não havia vacinas e a solução preconizada pelas autoridades era o confinamento, apesar das tremendas dificuldades que essa opção implicou para o mundo do trabalho, para as atividades económicas, para a educação e a cultura, para a generalidade das esferas da vida social. Contudo, muitos trabalhadores tiveram de se manter na linha da frente, no Serviço Nacional de Saúde, nos bombeiros, nas forças e serviços de segurança, nos transportes, nos serviços públicos essenciais, na grande distribuição comercial, tomando as medidas necessárias para enfrentar o perigo real de contágio.

O PCP nunca teve uma posição negacionista. Nunca minimizou o perigo da covid-19 e nunca faltou com propostas para o enfrentar. Todavia, sempre considerou que o modo socialmente menos lesivo de enfrentar a covid-19 não era o confinamento puro e simples, mas a adoção de medidas sérias de proteção sanitária, de reforço significativo da capacidade de resposta do SNS e de apoio a todos os que vissem as suas condições de vida e de trabalho afetadas pela situação de contingência que se vivia. A solução, para o PCP, não era parar o país, mas adotar todas as medidas de segurança necessárias para que o país não parasse. 

Entretanto, cedo se percebeu que a pandemia estava a servir de pretexto para muita coisa que só a generalização do medo tornava aceitável. Muitos despedimentos, muita redução de direitos e rendimentos, muitas arbitrariedades foram cometidas, não por causa da pandemia, mas a pretexto da pandemia. 

A posição corajosa do PCP, de enfrentar a paralisia do medo e de nunca desistir de apoiar quem mais precisava de ser apoiado, serviu também de pretexto para uma violenta campanha mediática anticomunista que teve o seu clímax a propósito da realização da Festa do Avante de 2020. 

É certo que já tinha havido vozes contra a sessão solene do 25 de Abril na Assembleia da República e contra as manifestações do Primeiro de Maio, mas a propósito da Festa do Avante, desde calúnias, acusações infundadas, provocações, tentativas de proibição e fake-news do mais grosseiro, valeu tudo o que a desonestidade conseguiu inventar. A campanha política e mediática contra a Festa do Avante e o PCP, envolvendo todas as televisões e praticamente todos os demais meios de comunicação social, assumiu uma violência, uma obsessão, um caráter sistemático e uma dimensão de ataques sem possibilidade de resposta que ficará tristemente assinalada nos anais do anticomunismo mediático nacional. 

Foram dirigentes políticos de direita a dizer que a Festa deveria ser proibida. Foram reacionários oportunistas a avançar com uma providência cautelar para que a Festa fosse impedida pelos tribunais. Foram jovens betos de direita a afixar um cartaz provocatório, junto à porta da Festa, a afirmar que a covid sairia vencedora. Foram dirigentes locais do PS e do PSD do Seixal a instrumentalizar as populações e os comerciantes locais contra a realização da Festa. Foi Pedro Abrunhosa a dizer que o vírus saltaria “de camarada em camarada”. Foram as reportagens obsessivas, horas a fio, das televisões, contra a realização da Festa, arregimentando dezenas de comentadores. Foi a afirmação de que os demais espetáculos estavam proibidos, quando o que se passava é que os respetivos promotores não estavam dispostos a tomar as medidas de segurança sanitária que a Festa do Avante tomou. A campanha foi de tal dimensão que levaria muitas páginas a descrever, mas talvez a joia da coroa tenha sido a falsa primeira página do New York Times sobre a Festa do Avante postada nas redes sociais e que o Jornal da Noite da SIC divulgou como sendo verdadeira, e nunca pediu desculpa, nem aos espectadores, nem ao PCP, nem ao New York Times. 

A campanha não deixou de ter efeitos. Acicatou o discurso do ódio contra o PCP, com repercussões nos esgotos das redes sociais. Terá convencido certamente muitas pessoas a não ir nesse ano à Festa do Avante e mesmo a condenar a sua realização. O PCP sempre assumiu uma atitude de compreensão relativamente a quem, por receio, não foi à Festa, mas garantiu que seriam tomadas medidas de segurança sanitária capazes de afastar esses receios. Garantiu e cumpriu. 

A Direção-Geral da Saúde acompanhou a par e passo a preparação da Festa. Impôs uma lotação máxima que foi escrupulosamente cumprida. Definiu regras de segurança muito exigentes que foram escrupulosamente asseguradas. 

A Festa foi realizada e nenhuma das acusações se confirmou. Não houve qualquer surto de infeções em resultado da sua realização. Os artistas puderam atuar depois de longos meses de paragem forçada. O vírus não andou de camarada em camarada, e apesar da Festa ter desaparecido dos noticiários, acabou por se tornar um exemplo da forma adequada de enfrentar a covid, vivendo a vida sem comprometer a segurança. 

Não espero que os mentores da campanha contra a Festa do Avante de 2020 peçam desculpa. Aliás, meses mais tarde estavam a querer impedir o Congresso do PCP, e em 2022 estavam a vilipendiar os artistas que atuaram na Festa do Avante, acusando-os de apoiar a guerra na Ucrânia. Desses não espero nada, a não ser novos ataques, por tudo e por nada. 

Porém, num momento em que as medidas de segurança tomadas com vista à realização da Festa do Avante de 2020 são assumidas como um exemplo museológico do combate à covid-19, é justo que muita gente que, de boa-fé, criticou o PCP por realizar a Festa do Avante, reconheça que o PCP afinal tinha razão e foi injustamente criticado."

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