Sim, eles — as pessoas com diversidade funcional, vulgo deficientes — fodem. Ou, para "os ouvidos e mentes mais sensíveis", eles amam, namoram, desejam, fazem amor, excitam-se e, por isso, "têm direito a uma sexualidade digna e adequada".
Palavras do Sim, Nós Fodemos, movimento que tem como objectivo abordar e desmistificar a sexualidade dos deficientes, e que a 14 de Fevereiro nos quer pôr a falar, lá está, de Sexualidade e Deficiência.
A data não é inocente.
"Queríamos fazer uma coisa diferente para o Dia dos Namorados", explica Rui Machado, um dos organizadores. "E algo que desse visibilidade ao tema."
Isto porque, mesmo quando se realizam conferências sobre deficiência, raramente "é abordada a questão da sexualidade".
A jornada arranca às 10h e prolonga-se até meio da tarde (ainda dá tempo para os jantares românticos com direito a peluches pirosos). Em cima da mesa, conta Rui, estão os mais variados temas: a psicóloga Ana Garrett aborda a reabilitação da sexualidade em pessoas com alterações sensitivas ("Será uma intervenção virada para soluções e alternativas"), enquanto que as investigadoras Lia Raquel Neves e Ana Lúcia Santos, do projecto Intimidade e Deficiência, reflectem sobre estereótipos discriminatórios ("Um dos nossos cavalos de corrida") e sobre a existência de diferentes orientações sexuais e identidades de género dentro da deficiência.
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
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