"Ricos temos poucos”, disse ontem, com enorme desplante, a ministra das
Finanças, por isso a classe média será a mais sacrificada!..
A ministra está a falar de um País onde nos últimos 3 anos se tem vindo a agravar um dos maiores
flagelos da humanidade, que é o flagelo da desigualdade na
distribuição da riqueza.
Segundo o DE de 15 de outubro passado, “Portugal cria 10 777 novos milionários por ano”.
Quase
30% dos milionários portugueses surgiram nos últimos dois anos. 60%
de toda a riqueza está concentrada nos 10% mais ricos.
O
DE esclarece que, para além dos 10777 milionários
criados este ano (pessoas com uma riqueza superior a 1
milhão de dólares), Portugal criou mais 10395 em
2013.
Quer isto dizer que, em apenas dois anos, este governo
criou 30% do total de milionários portugueses. E pensar que há por
aí uns energúmenos a dizer que este governo lançou o país na
pobreza!
Não
sou jornalista, mas sou curioso.
Por
isso fui tentar perceber como foi possível, num país em crise,
criar 21 mil milionários em dois anos (em 2009 havia
“apenas” 11 mil milionários, o que significa que em cinco anos o
número de milionários aumentou quase sete vezes - são
actualmente cerca de 75 mil. )
Tanto
quanto pude apurar, desde a II Guerra Mundial que não se
registava um tão elevado número de milionários feitos à pressa.
Mas, nessa altura, havia uma explicação: o volfrâmio crescia
como cogumelos debaixo do chão e alemães e ingleses disputavam-no a
peso de ouro. Uma tonelada de volfrâmio valia 6000 libras no
mercado aberto e muito mais no mercado negro. Nesses anos loucos a
febre era tal, que se alguém encontrasse um calhau de volfrâmio na
soleira da porta, logo começava a cavar os alicerces ou planeava
mesmo, deitar a casa abaixo.
Não
é brincadeira, não! Por causa do volfrâmio, destruíram-se
igrejas e mortos foram desalojados de cemitérios- relata a
imprensa da época.
Nos
anos 80 e 90 do século passado também nasceram bastantes
milionários em Portugal, graças às verbas provenientes da UE.
Nesses anos, muita gente transformou verbas do FSE ( destinadas à
formação)em jeeps e carros de alta cilindrada, e
verbas para agricultura fizeram florescer belas mansões com piscina,
mas nada comparável ao enriquecimento proporcionado pelo volfrâmio.
As
verbas europeias “secaram” e por estes anos de crise não foi
descoberto - que se saiba - nenhum produto capaz de rivalizar com o
volfrâmio, pelo que a razão do enriquecimento de tanta gente, em
tão pouco tempo, deve ter alguma explicação pouco
perceptível ao comum dos mortais.
Agora há o Euromilhões, mas o número de milionários
portugueses “criados” por essa via é tão ínfimo, que se perde
na estatística. A distribuição é um negócio de
milhões, mas apenas acessível a meia dúzia de portugueses. E
quanto aos banqueiros, também não há por aí Salgados e Jardins
Gonçalves a dar com um pau. Além disso, ser banqueiro é
uma profissão de risco. Que o diga o Oliveira e Costa, coitado, que
andou anos a trabalhar num banco e agora está na miséria!
Por
outro lado, se o DE escreve “criação” de milionários, isso
significa que eles são produzidos em série num qualquer lugar. Não
sendo nos supermercados, nos bancos, nem na Santa Casa, há-de ser em
algum local mais recatado, não visível a olho nu pelo comum dos
mortais.
Disse-me
alguém habitualmente bem informado sobre estas coisas, que os
principais viveiros se encontram em S. Bento e em Bruxelas. Não
acredito. Esses viveiros poderão ser responsáveis pela criação de
algumas centenas de milionários, mas estamos a falar de milhares! 21
mil em apenas dois anos- relembro.
Eu
não tenho nada contra os milionários mas, saber que eles não
nascem nas maternidades por desígnio da Natureza, sendo
criados em viveiros artificiais cuja localização desconheço,
chateia-me, pá. Fico com a ideia que também eu podia ser milionário
e só não sou, porque me estão a esconder informação!
Se
vivemos em democracia todos devíamos ter direito a saber “como se cria um milionário”. E não me venham lá com
essa treta de que é o trabalho que nos torna ricos e outras
histórias da carochinha, como a globalização, porque já sou
crescido e não acredito em contos de fadas.
Certo,
certo, é que a crise multiplicou exponencialmente o número de
milionários em Portugal, pelo que não percebo a razão de todos
quererem acabar com ela. Afinal, os números não mentem: a crise é
uma oportunidade! Ora, se assim é, o melhor é prolongá-la durante
mais uns anos, para dar a possibilidade a todos os portugueses
de se tornarem milionários.
Pelas minhas contas, à media 10
mil por ano, em 2114 todos os portugueses se terão tornado
milionários. Não vos parece uma boa notícia? É só esperarem mais
um bocadinho, que a vossa vez vai chegar!
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