Neste país de meias tintas, apregoando o bem, barafusta-se, perde-se a paciência com o mal, perde-se o verniz democrático, insulta-se, injuria-se, amedronta-se, mas esquece-se que o mal, que o mesmo é dizer, os verdadeiros valores democráticos, não são dados de mão beijada pelo bem, que são os mesmos de sempre, mas antes são valores conquistados pelo património cultural, por lutas de dezenas de anos, de séculos, lutas onde os mesmos de sempre não estavam.
Mal, para os mesmos de sempre, é tudo e são todos os que os que preferem, por exemplo, ler, ir ao cinema, ir ao teatro, ir a manifestações ou colocar questões (por exemplo em blogues), em vez de se limitarem ao futebol...
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
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