sábado, 4 de setembro de 2021

Nem tudo é mau no facebook...

"A demência de Ricardo Salgado", um oportuno texto de Luís Osório:

"1.
Os advogados de Ricardo Salgado alegam que o seu cliente não poderá responder pelo seu passado.
Que lhe é difícil estar em tribunal.
Responder a perguntas.
Recordar-se.
Os advogados pediram que fosse feita uma perícia neurológica que ateste o quanto o banqueiro já cá não está.
2.
Tenho um enorme respeito pelas doenças mentais.
Tenho exata noção de que cada um de nós, de um momento para o outro, pode passar para o outro lado – a fronteira é muito ténue como se a “normalidade” e a “loucura” fossem feitas de gelo fino.
Como é evidente, Ricardo Salgado pode mesmo estar gravemente doente.
Só que o problema é a dificuldade em acreditar.
A dificuldade de imediatamente não me passar pela cabeça que se trata de um esquema, de uma trapaça, golpada, mentira.
3.
Ainda por cima foi o que Júnior Soprano fez na série “Os Sopranos”. Os seus advogados tiveram a espantosa ideia de alegar demência para que o processo do mafioso, tio de Tony Soprano, não seguisse o seu caminho.
Ou Ricardo Salgado está doente – e admito que esteja.
Ou alguém na sua equipa de advogados tem um enorme bom gosto – Sopranos é uma obra-prima da história da televisão e da representação.
4.
Caso se confirme o diagnóstico a pena pode ser suspensa ou muito atenuada.
O assunto não é pacífico, mas tem sido debatido.
A procuradora-geral adjunta, por exemplo, não concorda que o “Alzheimer” possa tornar o arguido inimputável.
Outros juristas acham o contrário.
5.
Aposto que Ricardo Salgado, de uma maneira ou de outra, não irá preso.
(mas o ponto não é esse)
O ponto é que já estamos num ponto em que nos é difícil acreditar no que quer que seja e isso terá de ser combatido pois se não o for continuarão a aparecer maluquinhos a desinquietar pobres almas cansadas.
6.
Por falar de almas cansadas, vi ontem com atenção o debate entre todos os candidatos à Câmara de Lisboa e não posso deixar de ficar espantado com o candidato do Chega – demasiadamente mau para podermos acreditar."

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