«As ruas voltaram a ter voz. A crise da habitação pode vir a ser para António Costa o que a crise da troika foi para Passos: muito mais do que uma dor de cabeça pontual.
Hoje, as queixas e os cartazes que as acompanham são outros e as palavras de ordem também — “Senhorio não é profissão”, “Baixem as rendas” ou “O que falta? Direito a ter casa”. Mas é curioso perceber que os protestos contra as políticas seguidas pelo PS em matéria de habitação foram pensados por algumas das cabeças que lançaram o movimento anti-troika de 2012, contribuindo para o desgaste do executivo PSD-CDS.
Depois de uns anos de paz social forçada pelas posições conjuntas que viabilizaram um acordo de governação histórico, as ruas voltam a ter voz – porque as forças de esquerda já não vêem nenhuma razão para dar a mão ao PS. E vão de novo descer a Avenida, desta vez com exigências diferentes: mais habitação e melhor clima (na realidade, ao protesto deste sábado da plataforma Casa para Viver junta-se o do colectivo Their Time to Pay, em defesa da justiça climática).
A crise da habitação pode vir a ser para António Costa o que a crise da troika foi para Pedro Passos Coelho: muito mais do que uma dor de cabeça pontual. Porque, além de todas as outras implicações sociais e eleitorais que essa crise pode ter, significa que zanga da “geringonça”, que já se tinha dissolvido na sequência das eleições legislativas de 2019, mas que se formalizou no chumbo do Orçamento do Estado para 2022, está para durar.»
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