"...foi há 18 anos que anunciei ao país que Jerónimo de Sousa seria secretário-geral do PCP.
Por bizarro que pareça, é verdade o que te digo. Era diretor de um jornal diário, “A Capital”, e o enorme jornalista que era Rogério Rodrigues, meu diretor adjunto, conseguira o furo. Contra todas as expetativas mediáticas, Carlos Carvalhas seria substituído por um (quase) desconhecido Jerónimo de Sousa.
Fui ao jornal de Mário Crespo, na SIC Notícias, e apresentei a capa do jornal do dia seguinte. Uma capa em que se via o operário Jerónimo de punho direito erguido.
A notícia viria a ser confirmada.
Apesar de muitos anos de deputado e de uma candidatura presidencial, o país não o conhecia.
E eu também não.
Jerónimo de Sousa fez o seu caminho.
Ganhou e perdeu.
Inventou a “geringonça”.
Foi atacado na sua vida pessoal num dos ataques mais ignóbeis que vi fazer – mas a sua credibilidade pessoal é tão grande que as pedras se tornaram parte da sua muralha de credibilidade.
Um dia pedi para não dizerem que é uma boa pessoa.
(apesar de ser boa pessoa).
Para não dizerem que sempre gostaram dele
(apesar de poder ser mesmo verdade o que dizem).
Apelei a que não dissessem coisas que, sendo certas, nos desviam do que foi a sua vida.
Jerónimo foi sempre um operário metalúrgico.
Se não acreditam é porque nunca vos apertou a mão.
Ou abraçou.
Ou porque nunca estiveram com ele numa fábrica.
Quando nos aperta a mão percebemos o que é isso de ser operário.
Quando nos abraça percebemos que o faz com o que carrega, com a poesia de todos os que combateram e já não estão.
Quando está numa fábrica percebemos que está como se fosse a sua casa, os operários (comunistas ou não) são uma parte de si; mais do que os passos perdidos de um parlamento que conhece como as suas mãos, mas onde nunca pertenceu por inteiro.
Jerónimo é uma pessoa grande.
E inclemente com o que acredita. Provavelmente não há ninguém que duvide que morreria pelo ideal que defende – sacrificar-se-ia sem uma hesitação.
É este homem que deixará para a semana de ser secretário-geral de um PCP que tem perante si mais uma prova de sobrevivência.
Certamente que os seus camaradas o aplaudirão longos minutos.
E certamente que Jerónimo se comoverá.
Com a dureza de princípios de um comunista, mas com a leveza de um coração que não esconde as emoções, Jerónimo irá comover-se.
E nós com ele."
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