"A manhã da sexta-feira junto à Praia da Lagoa, na Póvoa de Varzim, começou com uma notícia que deixou moradores e visitantes apreensivos: uma jovem militar de 20 anos desapareceu durante a madrugada na praia, depois de, alegadamente, ter sido arrastada pelas ondas. As buscas começaram cedo — o helicóptero da Força Aérea Portuguesa sobrevoou a zona durante todo o dia, uma embarcação de salvamento permaneceu no mar e, em terra, vários elementos da Polícia Marítima, dos bombeiros e da Proteção Civil, apoiados por um conjunto de drones (incluindo um drone disponibilizado por um popular), procuravam por qualquer sinal desta militar.
Durante a tarde, por volta das 15h30, o desfecho que muitos temiam aconteceu. O corpo da jovem foi encontrado na Praia da Redonda, a alguns metros da zona onde tinha desaparecido e um local onde as buscas já estavam concentradas desde a manhã, uma vez que a experiência anterior das autoridades, face à agitação do mar e à direção do vento, indicava que a jovem poderia aparecer naquele perímetro."
Revista Sábado
A propósito desta tragédia, recorda-se um texto do Centro de Estudos do Mar - CEMAR, escrito por Alfredo Pinheiro Marques ("O Grau Zero da Consciência Marítima"), no seu livro "Para uma Estratégia Nacional do Mar…" (2013).
A verdade é que, a nível geral, em Portugal e na sociedade portuguesa, é hoje em dia absolutamente dramática e dolorosa a falta de conhecimento, de familiaridade, de experiência e de respeito pelo Mar…! Como se ele não existisse... Como se ele fosse simplesmente um cenário… Um cenário mais… igual a todos os outros cenários (os cenários virtuais de que as vidas, hoje em dia, são feitas...). Um cenário imóvel, ou movendo-se, virtualmente, lá no seu lugar…
Num país de pretensiosismo e preconceito social, em que tudo o que for real, prático e produtivo, é desvalorizado por ser "popular" (e as populações e as novas gerações são incentivadas para valorizarem socialmente sobretudo aquilo que for bizantinamente teórico e académico, ritual, e alienado da verdadeira realidade), atingiu-se na sociedade e na cultura portuguesas uma situação última e paradoxal — uma situação incompreensível, e inacreditável... — de afastamento do mar, e da consciência marítima, e de toda e qualquer espécie de experiência das coisas marítimas (até as coisas mais elementares...!). E tudo isto está a acontecer ao mesmo tempo que, como sempre, se continuam a repetir as retóricas do "país marítimo", e dos "Descobrimentos", e do "regresso ao Mar"…! Ora, a verdade é que, infelizmente, Portugal virou as costas ao Mar e está, desde há muito, a ignorá-lo, e a esquecê-lo, e a viver completamente de costas voltadas para ele.
Infelizmente, em Portugal, hoje em dia, entre as populações em geral, e entre a juventude, não se tem prática nem sequer das mais essenciais e mais básicas das experiências do mar: as da rebentação, na praia... as que tão bem conhecem, no seu dia-a-dia, os Surfistas e os Pescadores da "Arte-Xávega".
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