quinta-feira, 17 de novembro de 2022

O bombardeamento do tractor polaco

Os destroços dos mísseis ainda fumegavam. 
Contudo, a verdade absoluta era já inquestionável, excepto para os mais empedernidos putinistas: o Kremlin estava zangado com os avanços ucranianos e decidiu bombardear um tractor em território polaco, a poucos quilómetros da fronteira ucraniana.
Os defensores da guerra total não perderam tempo e exigiram a activação imediata do artigo 5°. 
Não havia dúvidas, não era necessário investigar. Verdades absolutas são isso mesmo: absolutas. E quem questiona não é do bem. É do Putin. 
Porém, o filme ficou estragado. O secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), Jens Stoltenberg, disse ontem que a explosão que matou duas pessoas na Polónia "foi provavelmente causada" por um míssil ucraniano, mas ressalvou que "não é culpa da Ucrânia".
Nem Jens Stoltenberg parece convencido da culpabilidade dos russos:
“Não há indicação que se trate de um ataque deliberado da Rússia, ou de que a Rússia tenha planeado qualquer acção militar ofensiva contra a NATO”.
A hipótese de a NATO ser arrastada para o conflito esfumou-se com as indicações de que o projétil que matou duas pessoas na Polónia terá sido disparado pela defesa aérea ucraniana. 
O presidente do país alvo da ocupação russa mantém versão que responsabiliza Moscovo. Zelensky, pela primeira vez,  ficou isolado ao insistir na autoria russa do disparo. 
Será que cabe na cabeça de alguém, minimamente inteligente e informado, que no dia em que o Putin sinta necessidade de atacar o espaço da NATO, o seu alvo será um tractor?

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