Ilustração: João Fazenda |
Os amores não correspondidos são sempre comoventes. No entanto, é possível que este raciocínio não esteja correcto: se soubesse que a autarquia socialista quereria criar o Museu de Salazar, talvez Salazar não tivesse nada contra autarquias socialistas. É como se costuma dizer: o ódio nasce da ignorância, e provavelmente Salazar não gostava de socialistas apenas por não os conhecer bem.
Pessoalmente, há muito que sou favorável à criação de um Museu de Salazar. Mais precisamente, desde 1928. Creio que já nessa altura Salazar merecia um museu, onde ele pudesse figurar, devidamente empalhado, para alegria de todos. E julgo, aliás, que a ideia do Museu de Salazar peca por defeito. Devia ser criada uma grande Disneylândia do fascismo, em que os visitantes pudessem encontrar diversões tais como viver duas horas nos calabouços da PIDE, frente a um inspector munido de um martelo, ou passar uma tarde na frigideira no campo de concentração do Tarrafal; onde fosse possível denunciar amigos e conhecidos (aproveitando a experiência obtida junto do botão “denunciar”, das redes sociais), vestir a farda da bufa e fazer piqueniques em que uma sardinha dá para três. Além disso, iniciativas deste tipo resolvem um problema antigo: como taxar a estupidez? Muitas vezes se lamenta: “Ah, se a estupidez pagasse imposto...” Pois bem, cobrar bilhetes para o Museu de Salazar pode ser finalmente um modo eficaz de sacar dinheiro a idiotas."
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