A ganância, a falta de visão e bom-senso, a que se junta a displicência de quem manda, acabam sempre mal.
O pior é que, depois da “festa”, sobrarão os “restos”: vastas áreas degradadas, inestéticas, desocupadas
O litoral português, logo a sul do Mondego, na jóia chamada Cabedelo, apresenta ainda um extraordinário conjunto de valores naturais e em bruto, que tornam este naco de território figueirense apetitoso para os interesses imobiliários.
O argumento é o de sempre: ou o dinheiro é gasto agora e já, ou vai para outro lado.
Neste caso do Cabedelo, o argumento é falso. Basta olhar mais para sul e vê-se a olho nu que havia tanto sítio para gastar os 2 milhões e picos que vão ser gastos para a requalificação e protecção do estado avançado de erosão decorrente do embate das ondas do mar mais para sul: por exemplo, depois do quinto molhe.
Na edição de hoje do jornal AS Beiras, pode ler-se que a "Junta de São Pedro recebeu várias manifestações de interesse para a instalação de um hostel e bangalôs no espaço do campismo... "
Para quem afirma que o Cabedelo vai ser devolvido à Cova e Gala, para começo de conversa, não está nada mal.
Em toda a costa figueirense, apenas uma pequena parte se mantinha razoavelmente incólume à pressão e especulação urbanísticas induzidas pelo turismo.
Refiro-me, à faixa litoral a sul do Mondego, entre o Cabedelo e o Campo de futebol.
É ainda possível por aí fazer férias em comunhão com a Natureza e frequentar boas praias, sem os inconvenientes das urbanizações selvagens.
Por conhecermos o triste destino da restante costa figueirense, devemos manter-nos atentos e vigilantes.
Recordo que o Cabedelo nunca teve Bandeira Azul. E bem. É o único pedaço de Paraíso imaculado da costa figueirense que ainda nos resta.
O que está a acontecer, não é nada de novo: a vontade de muitos autarcas continua a ir no sentido da expansão urbana, normalmente sob a forma de empreendimentos de qualidade duvidosa.
Desta vez saiu na rifa o Cabedelo. Sob a capa de um plano de requalificação da zona, está já mais do que claro que o que está na calha, para seguir dentro de momentos, é uma cedência aos interesses imobiliários, com a conivência da Câmara Municipal da Figueira da Foz e da Junta de Freguesia de S. Pedro.
Entretanto, está convocada uma manifestação, através do Facebook, contra o desmantelamento do parque de campismo e em defesa do Cabedelo.
O evento está marcado para o próximo dia 20, pelas 14H00, em frente à câmara.
Neste momento estão a ser recolhidas assinaturas num um abaixo-assinado que defende a manutenção do campismo no Cabedelo.
Sabe-se que se têm realizado reuniões entre a câmara, a administração do porto e a FPC, e que o equipamento deverá continuar a funcionar enquanto não interferir com as obras, que deverão começar no primeiro trimestre de 2018.
Mas, até lá, muita água vai correr, Mondego abaixo, até ao Cabedelo.
Na assembleia municipal, a CDU opôs-se ao fim do campismo no Cabedelo.
“Somos contra que desapareça dali aquela estrutura, pelos campistas e pelos postos de trabalho”, esclareceu ao jornal AS BEIRAS a deputada Silvina Queiroz.
Por seu turno, Teotónio Cavaco, do PSD, criticou a “firmeza da posição contra o parque de campismo (dos presidentes da câmara e da Junta de São Pedro, João Ataíde e António Salgueiro, respetivamente)”.
Cristopher Oliveira, do BE, disse que o assunto ainda não foi debatido no partido.
A maioria socialista, defendeu Nuno Melo Biscaia, está “em consonância com o executivo camarário”, que defende o fim do campismo numa zona que considera nobre e deve ser utilizada para valorizar o surf e fruição pública.
Veio hoje também a lume, via jornal AS BEIRAS, que "a FPC está de olhos postos no parque de campismo da Praia de Quiaios, que pertence à Junta de Quiaios, para continuar a operar no concelho da Figueira da Foz."
O presidente da estrutura federativa admitiu ao mesmo jornal que há “intenção de explorar aquele equipamento”.
Todavia, João Queiroz ressalvou que ainda não falou com a presidente da junta, Fernanda Lorigo.
“Estou disponível para me reunir com a FPC, mas sem qualquer expetativa de decisão”, avançou Fernanda Lorigo.
O vereador Carlos Monteiro, por seu lado, afirmou: “Esse é um assunto que diz inteiramente respeito à presidente da junta, ao executivo da junta e, eventualmente, à assembleia de freguesia”.
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
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2 comentários:
O outro tambem dizia mais ou menos isto: Estou-me cagando para a tradição.
Com ou sem campismo, pela foto, e pelo que conheço, têm de dar uma volta aquilo. Muita pedra, lixo, há por ali um aspecto que parece Guantanamo....
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