"Independentemente das leis aprovadas, por aprovar e a aprovar no futuro, próximo, médio ou distante; independentemente das pressões e dos timings e da vigilância do presidente, deste ou de outro qualquer que lhe suceda; independentemente das reformas ou das revoluções a fazer na estrutura administrativa do Estado; independentemente deste Governo, dos que lhe sucedam, do PS, do PSD, do CDS, cada um por si ou em aliança em todas as conjugações possíveis entre eles; independentemente de tudo isso o que importa saber é da vontade política de resistir a encarar as diversas "agências" do Estado como coutada, como agência de colocação de emprego para os militantes e fiéis simpatizantes, também conhecidos por "independentes"; saber da vontade política de dotar o Estado de uma administração profissional, eficaz e eficiente, não dependente dos ciclos eleitorais nem de progressões automáticas de carreira só porque sim. Na floresta, no mar, em terra. O resto é conversa para encolher os ombros."
daqui
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
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