"Os heróis sempre
fizeram parte da
vida da maior parte
das pessoas, um jogador
de futebol, o pai, ou uma
qualquer a personagem
da banda desenhada, o
Super-Homem ou Mandrake, conforme os gostos.
A televisão veio tornar mais
elástica a fila, a montra que
é apresentada todos os dias.
Subliminarmente vão-nos
sendo mostrados chefes,
pensadores, economistas,
políticos, como os exemplos
maiores e melhores de heróis, exemplos a serem seguidos por todos nós, meros
números deste mundo de
formigas. Pela parte que me
toca, tenho para mim que
ser herói é coisa diferente
e voto, desde já, em duas
categorias: os pescadores
e os bombeiros.
São seres
como nós, não deitam fogo
pelas mãos, não voam, não
se teletransportam, não se
tornam invisíveis, não mudam de forma, mas trabalham em condições difíceis
para nos trazer alimento,
com baixos salários, e pouca
segurança, defendem-nos
do fogo, salvam bens e
haveres, até são parteiros,
quando necessário. Outros
poderia acrescentar, como
os mineiros e os polícias,
mas será assunto para outra
crónica."
Crónica de António Augusto Menano,
escritor, hoje no jornal AS BEIRAS.
Em tempo.
Tantos heróis que morreram na Figueira e poucos dias depois não lhes lembramos sequer os nomes nem a gesta.
São os heróis desconhecidos. Os heróis do quotidiano. As pessoas vulgares que conhecemos e que ninguém mais, na realidade, conhece.
Todos temos projectos sem fim e grandiosos.
Tudo marcha, porém, à medida da nossa grandeza ou da nossa pequenez.
Todos somos candidatos a heróis numa cidade que criou tantos heróis com pés e ideias de barro.
Só há um tipo de riqueza: a nossa própria.
Um só tipo de liberdade: a de conseguir vivê-la, impedindo que nos apertem o colete de forças em que vivemos.
Libertadores somos das nossas responsabilidades.
Quando deixamos morrer a nossa liberdade individual, a cidade perde e morre também com a nossa incúria.
A Figueira é assim. Uma cidade que tem vindo a morrer em paz.
Podre.
Estamos mergulhados num coma profundo de que poucos se dão conta. Vivemos numa cidade que apesar de ter um bonito pôr do sol, vive sem horizonte, mergulhada na desesperança sem fim.
Continuamos a morrer em paz.
Podre.
De quem é a culpa?
Como sempre, de todos e de ninguém!
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