terça-feira, 8 de setembro de 2015

O pó dos livros faz parte dos cheiros que nos marcam para sempre...

"Lembro-me de no ensino secundário ter tido um professor de história que numa das suas fascinantes e muito debatidas aulas nos disse, em tom profético, que viria a altura em que os pobres e despojados deste mundo bateriam à porta da Europa. E que não haveria maneira de os parar; viriam em barcaças improvisadas, invadiriam os caminhos, atravessariam cidades. 
Passaram quase quarenta anos e assisto agora à descrição exacta que o meu professor fazia em forma de aviso: “Milhares hão-de morrer e a sua morte vai pesar sobre as nossas consciências, dizia, mas nada os deterá”. No seu livro Pátria Apátrida, Sebald, o escritor alemão falecido no início do século, escrevia em 1990 que “a pátria é um conceito que surgiu quando esta deixou de ser o sítio onde se está e indivíduos e grupos sociais foram obrigados a virar-lhe as costas e a emigrar”
Isto é assim, não só para os países que são demandados e que exaltam o conceito, como para os que, fugindo à fome e à guerra, passam a ver a sua pátria como o lugar onde querem estar. Para os sírios que caminham agora nas estradas da Hungria, a sua pátria é a Alemanha. O que me perturba é concluir que os grandes estadistas dos últimos quarenta anos ou não tiveram bons professores ou não leram o que deviam. Pior, é verificar que ignoram as lições da história. Se assim for, este êxodo ainda vai dar muito que falar."

Em tempo.
Esta crónica do vereador António Tavares, hoje publicada no jornal AS BEIRAS, alerta para a verdadeira face da sociedade. 
Ao longo da vida, o homem contraditório vai mostrando diversas máscaras - do homem revolucionário, ao homem reaccionário, amado e criticado, polémico e sentimental, obcecado pelo amor e pela morte.
Também a mim o que me perturba - e muito - "é concluir que os grandes estadistas dos últimos quarenta anos ou não tiveram bons professores ou não leram o que deviam. Pior, é verificar que ignoram as lições da história."
O que me leva a concluir que só no rosto hirto e solene da morte, fica o verdadeiro rosto do homem. 
A maior dignidade da morte é física. Nunca o homem é tão belo e verdadeiro como quando está morto. Porque tem então assegurada a eternidade, é na morte que o homem tem o seu rosto verdadeiro. Na vida, usa máscaras sucessivas e contraditórias. 
No fundo, só a morte acaba por revelar a verdadeira face do homem.

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