Comecei a trabalhar por conta de outrém, no principio da década de setenta do século passado.
Naquele tempo, ainda antes do 25 de Abril de 1974, havia patrões e empregados.
Assisti, depois da Revolução dos Cravos, à moda das palavras eufemizadas nas relações laborais: os patrões passaram a ser empresários e os trabalhadores a ser colaboradores.
Não sei se já deram conta, mas os empresários estão a voltar a ser patrões e os colaboradores, trabalhadores.
E o despedimento já deixou de ser uma dispensa…
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
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