A secretária de Estado da Saúde francesa escreveu, a propósito da vaga de frio: «as pessoas mais vulneráveis devem evitar sair de casa, sobretudo os sem-abrigo, as crianças e os idosos».
Isto não é uma gaffe. É um modo de pensar da maior parte dos governantes na Europa. A sua «zona de conforto» está distante da realidade. Os «sem-abrigo» são uma categoria estatistica, como «os jovens desempregados» ou os «reformados» ou o «salário minimo».
Eles não sabem que os sem-abrigo não têm casa, como não sabem como conseguem viver os desempregados ou, mesmo os que trabalham, mas que recebem o salário minimo. Eles não fazem a menor ideia. É por isso que dizem que todos eles «vivem acima das suas possibilidades» e, por isso, ainda os empobrecem mais.
Via HOJE HÁ CONQUILHAS AMANHÃ NÃO SABEMOS
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
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