Ir dançar o samba para a Avenida, em pleno e rigoroso Fevereiro, como está a ser esta noite, ao frio, apenas protegidas - e ao abrigo - de minúsculos biquinis, deve ser um autêntico horror!..
Não as moçoilas, claro, mas o frio, o desconchavo meteorológico e a total desadequação climática para a festa carnavalesca importada dos trópicos!..
O pior, porém, é que as previsões apontam para um prolongamento deste estado de coisas até terça-feira...
Será que, antigamente, no tempo em que não imitávamos os brasileiros e tínhamos uma identidade própria de quem fala uma língua autêntica e original, não havia Carnaval?
Haver, havia, mas não era a mesma coisa.
Era muito mais divertido.
Entretanto, a crise apertou, já não estamos em tempo de actrizes de telenovela brasileira, que vinham, diziam umas bacoradas, sorriam muito, recebiam o cheque, para levantar os braços no desfile, enfim, exerciam a função, e zarpavam!..
Este ano, então, com a crise que para aí anda, tem sido tudo mais difícil e limitado a nível de "meios meios" aqui pela Figueira: a par da presença de meio rei no carnaval, temos meia tolerância de ponto no carnaval!..
Contudo, o pior, mas o pior mesmo, esta noite, foi mesmo este frio de Fevereiro.
Que horror, que suplício!..
Será que continua muita gente a concordar, cá pela Figueira, com este Carnaval e este desperdício de dinheiro?..
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
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