quarta-feira, 12 de julho de 2006

Aviso à Navegação

Foto: Pedro Cruz

Alto aí!
Aviso à navegação!
Eu não morri:
Estou aqui
na ilha sem nome,
sem latitude nem longitude,
perdida nos mapas,
perdida no mar Tenebroso!
Sim, eu,
o perigo para a navegação!,
o dos saques e das abordagens,
o capitão da fragata
cem vezes torpedeada,
cem vezes afundada,
mas sempre ressuscitada!

Eu que aportei
com os porões inundados,
as torres desmoronadas,
os mastros e os lemes quebrados
- mas aportei!

E não espereis de mim a paz...

Aviso à navegação
Não espereis de mim a paz!
Que quanto mais me afundo
maior é a minha ânsia de salvar-me!

Que quanto mais um golpe me decepa
maior é a minha força de luar!

Não espereis de mim a paz!
Que na guerra
só conheço dois destinos
ou vencer - ai dos vencidos!
ou morrer sob os escombros
da luta que alevantei!

- (Foi jeito que me ficou,
não me sei desinteressar
do jogo que me jogar.)

Não espereis de mim a paz,

aviso à navegação!
Não espereis de mim a paz
que vos não sei perdoar!

Joaquim Namorado

2 comentários:

Anónimo disse...

Joaquim Namorado marcou quem com ele privou. Era um saudável provocador, um insubmisso, um alentejano digno que adoptou a Figueira como refúgio do espírito.
Podia-se gostar dele ou não, mas ninguém lhe ficava indiferente.

Anónimo disse...

"Não espereis de mim a paz que vos não sei perdoar"

Que passaria na mente DESTE GRANDE HOMEM?
Quem estaria na Barcaça?
Quem estaria na Ribalta?
Quem estaria na Ilha?
Quem estaria na Longitude?
Quem estaria na Honra?
Quem estaria na Amizade?

Brilha Poeta Português.
Não deixeis que vos amordacem.