terça-feira, 18 de julho de 2006

Envelhecimento


Foto: Pedro Cruz

No envelhecimento há coisas que custam.
Vermos desaparecer locais e coisas onde fomos felizes, que marcaram o percurso já percorrido, dói no mais fundo de nós. Arranha-nos a alma.
Este assomo de nostalgia tem a ver com o futuro desaparecimento da Ponte dos Arcos.
Dentro de dois anos, se se cumprir o previsto, vai estar pronta a Nova Ponte dos Arcos e a Velha Ponte dos Arcos vai ser implodida.
Isso mesmo – vai ser vítima de uma implosão.
Quer dizer, vai rebentar para dentro. O que é isso?!.. Uma modernice, uma moda?!... Ou, apenas, uma morte estúpida e rápida?!...
Mas, de certeza, não uma morte digna, nem decente, para quem tão bem cumpriu a sua missão durante décadas.
A Ponte dos Arcos, tal como está, é, neste momento, um estorvo, pois é um impedimento para o fluir do trânsito dos dias de hoje.
Estamos numa sociedade comodista, de consumo exacerbado, onde se vive e se morre a correr.
A Ponte dor Arcos é um estorvo, empata os carros, as motos, os camiões e, até, as bicicletas. Nada mais simples: faz-se desaparecer.
Da Ponte dos Arcos, a minha geração tem grandes recordações. O desafio que era a passagem, a pé, por cima dos arcos, que tremiam com a passagem dos pesados; os mergulhos, com a maré a encher, para depois ir a nadar até ao cais do Luís Elvira.
Para a Ponte dos Arcos, porém, ainda não é tempo de recordação. Tem o destino traçado, é certo, mas ainda tem dois anos de vida pela frente.
Por vontade dos políticos, a Velha Ponte dos Arcos vai ser implodida.
A Cova e Gala da minha juventude era pequena e fluia melancólica, mas com um peculiar recolhimento afectivo.
Entretanto, cresce desmesuradamente. Vai, também e paradoxalmente, envelhecendo lentamente.
Por vontade dos políticos, vai-se tornando um subúrbio, que é onde passam a residir os expulsos da cidade.
A minha Terra está a morrer. Ou, antes, estão a roubar-lhe a alma, que é a mesma coisa que condená-la a desaparecer numa agonia desumana, lenta e dolorosa.
Que é o que estão a fazer à Ponte dos Arcos, para quem, por vontade dos políticos, a morte está anunciada a prazo! ...
As pessoas caminham, mas não tomam conhecimento umas das outras, vão perdendo a alma.
Devia ser proibido matar os locais onde fomos felizes! ...
Quando desaparecem, vai com eles parte do que fomos ...



18 comentários:

Anónimo disse...

Não sei se o autor do texto é o mesmo da foto. De qualquer modo, se não for, os meus parabéns aos dois.
Concordo com o texto, mas isto é o preço do desenvolvimento.
Pelo que escreve, devemos ter uma idade muito próxima e de facto ao ler, ao ver ou ao ser alertado para estas situações é que eu tomo consciência de que os anos vão passando.
A "velhinha" ponte irá desaparecer e até parece que é algo de nós que nos vai faltar. Sem qualquer tipo de saudosismo, confesso que vou ter muita pena.
Será que era possível conjugar as duas situações, mediante uma solução técnica muito bem estudada' Confesso que não sei.
De qualquer modo a "velhinha" ponte fará sempre parte da história da Cova-Gala e como qualquer dia não haverá ninguém que possa dizer o que o autor disse (mergulhos dos arcos, caminhar por cima dos arcos, etc.) devem preservar-se todas as fotos existentes (como a deste "blog") para que essa história fique sempre bem fundamentada.
É pena, mas tem que ser assim!

Anónimo disse...

É o preço do progresso!
Se lhe servir de consolo, informo que a nova ponte também terá arcos, mas no separador central em vez de nas laterais!

NUNO SOARES disse...

Caro Amigo, Agostinho, também partilho da opinião em relação á qual, "quando desaparecem vai com eles parte do que fomos", todos nós somos culpados, sucesso, evolução, empreendimento, uma melhor sociedade.
Está só ao nosso alcance e de mais ninguém fazer com que vivamos num mundo melhor, sem dormitórios, sem inquilinos indesejáveis, sem distâncias entre a comunidade.
Será bom dizer no futuro que a nova ponte trouxe progresso, regras e proximidade entre todos ou também estaremos cá para dissuadir encruzilhadas, que a meu ver não irão existir!
As recordações já apertam mas é como na nossa casa, se não a recuperarmos não evoluímos!

Um abraço.

Anónimo disse...

Por acaso até acho mal que deitem a ponte abaixo.
Aquela ponte tão boa, devia ficar e fazer parte da imensa ciclovia que uniria a Cova ao Alqueidão, sempre, sempre à borda d'água. Daria para atravessar para o outro lado e ir até ao Cabo Mondego.Era uma coisa às mil maravilhas.
E fazia a nova, pois claro. mas noutro sítio.

Anónimo disse...

A nova podia ser feita entre a Gala e a Morraceira. Era onde ficava melhor.

Anónimo disse...

não entendo essa da implosão...bem também quiseram deitar a Torre Eiffel abaixo em nome do progresso...enfim...

Anónimo disse...

Ao caro amigo R.C:
Caro amigo como deve calcular os arcos são um simples efeito estético.
O que na verdade importa é :
O valor, sentimento da verdadeira ponte dos arcos..
isso sim é o que importa, não os eventuais arcos que a nova possa vir a ter...
Porque não é esta a imagem ,futuro que desejo para cova gala EU SOU CONTRA a demolição da ponte dos arcos ..
Tenho saudades de ver casas de madeira ...,”palheiros”
Trocam casas que davam graciosidade a nossa terra por «cantinhos»...
Vou ter saudades da mítica ponte dos arcos...
Estou farto é de ver estupidez do Homem ,para não falar dos interesses do mesmo ...
Nesta terra há de tudo...
E lugar para o património?
Lamentável...
Mas nesta terra de pescadores quem manda é o Simão...
DESCULPA O CAPITÃO!!!

Anónimo disse...

Uma pessoa envelhece lentamente: primeiro envelhece o seu gosto pela vida e pelas pessoas, sabes, pouco a pouco torna-se tudo tão real, conhece o sginificado das coisas, tudo se repete tão terrível e fastidiosamente. Isso também é velhice. Quando já sabe que um corpo não é mais que um corpo. E um homem, coitado, não é mais que um homem, um ser mortal, faça o que fizer... Depois envelhece o seu corpo; nem tudo ao mesmo tempo, não, primeiro envelhecem os olhos, ou as pernas, o estômago, ou o coração. Uma pessoa envelhece assim, por partes. A seguir, de repente, começa a envelhecer a alma: porque por mais enfraquecido e decrépito que seja o corpo, a alma ainda está repleta de desejos e de recordações, busca e deleita-se, deseja o prazer. E quando acaba esse desejo de prazer, nada mais resta que as recordações, ou a vaidade; e então é que se envelhece de verdade, fatal e definitivamente. Um dia acordas e esfregas os olhos: já não sabes porque acordaste. O que o dia te traz, conheces tu com exactidão: a Primavera ou o Inverno, os cenários habituais, o tempo, a ordem da vida. Não pode acontecer nada de inesperado: não te surpreeende nem o imprevisto, nem o invulgar ou o horrível, porque conheces todas as probabilidades, tens tudo calculado, já não esperas nada, nem o bem, nem o mal... e isso é precisamente a velhice.»

Sándor Márai, in
'As Velas Ardem Até ao Fim'

Anónimo disse...

Mas, que outra forma haverá de encarar o inexorável avanço da vida?
Quando nascemos, o único e definitivo legado é o FIM … a prazo e aleatório.

Devia ser proibida a morte das pessoas que amamos.
É certo.

Os que nos acompanharam e … num determinado momento nos deixam.
Quando desaparecem, vai com eles um pouco de nós.
É certo mas, por outro lado, ficando, somos o símbolo vivo que a sua presença valeu a pena.

Connosco coabitam as marcas indeléveis de quem nos amou e moldou na massa do seu amor.

Mas, … devia ser proibida a morte das pessoas que amamos.
É certo.

As coisas e os locais que, num determinado momento nos fizeram felizes, cumpriram a sua missão.

Ninguém ou coisa alguma deveria existir para a infelicidade do Homem.

Seremos, nós próprios, capazes de tornar a nossa existência motivo de felicidade para alguém?
Se assim for terá valido a pena. Cumpriremos a nossa missão.

A nossa velha ponte dos Arcos cumpriu a sua missão. Contribuiu para a felicidade de muitas gerações de Cova-Galenses.
Quando desaparecer, como coisa física que é, deveremos obrigarmo-nos a que permaneça no nosso imaginário pessoal e colectivo.
Assim se perpetuará a sua memória.

Inexoravelmente as novas gerações serão felizes com a nova ponte dos arcos.

É que esta coisa da Vida não passa de uma ENORME cadeia cujos elos se entrelaçam e nos vão transportando quando viajamos à boleia de um deles … sempre ao acaso e a PRAZO.

Salve-se a memória, que essa fica!

Anónimo disse...

Já agora, bela montagem!!! parece realmente uma fotografia antiga!
Parabens!!!

Anónimo disse...

Não posso ficar indiferente a este post. Não quero saber de guerras de capoeira,nem quero saber dos R.M. deste pais.
Esses são uns merdas sem sentimentos e que no futuro, não são mais de que uns mete nojo, espalhados por este concelho.
Quero, se me permitir o "Velho" é fazer uma pergunta;
Quantos PAQUETES já passaram onde esta instalada a ponte velha da Figueira?
Será que não daria jeito, a quem quer ir num instante á cidade, de bicicleta, de moto,mas por que não a pé?
Ou será que os mastros dos petroleiros batiam na ponte?
Qual, já agora da legalidade da empresa de betonagem dentro do estuario do mendego, margem norte, junto á Fontela?
Por isso, deixem a velhinha ponte dos arcos,em paz, o mais que não seja em memória do bombeiro voluntário ali despedaçado para o resto da vida.(já falecido)
Um abraço Velho e já agora manda-os p´ro carvalho
Vitorino-dos-patos-paz-a-sua-alma

Anónimo disse...

Entendo que não queiram comentar os maus momentos que aponte dos arcos, teve, uns mergulhitos umas viagens por cima dos arcos,aos S..S..S, as quedas de motorizada nas tabuas em que terminava a ponte do lado nascente, acidentes graves, mortais, dos que iam trabalhar para os estaleiros.

Esta PONTE já devia estar na memória dos meus antepassados.
A nova ponte "dos arcos" devia ter sido construida quando foi feita a ponte da figueira, mas como sabeis outras "pontiis" tem que continuar neste meu belo PAÍS.

Já agora aproveito para dar um grande "abraço" ao domingospassarinho
que viveu numa carripana abandonada perto da grande ponte que foi a do "COCHINHO" e que esta bela sociadade da COVA_GALA
sempre o (d)estimou...hoje se calhar tinha uma vi.....melhor.

Anónimo disse...

Ao Vitorino dos Patos.
Compreendo que tenha alguma estima pela velhinha Ponte dos Arcos. Eu tb a tenho, tb passei por ela de bicicleta, de carro,a pé, até mesmo por cima dos arcos.
No Entanto, todas as obras têm o seu tempo esta ponte já expirou o seu prazo à bastante tempo. Todos sabem que a Ponte dos Arcos já não beneficia em nada a nossa freguesia. É um empata transito e está obsuleta. Esta obra só peca por tardia, pena que alguns "Velhos do Restelo" não tenham a capacidade, ou simplesmente não queiram isso. Apesar de me ter insultado a mim e a todos os "merdas" e "mete nojo" deste país não vou entrar em conflito consigo, pois a minha educação assim o obriga. Apenas tenho pena de si.

Anónimo disse...

Cuidado quando se chama "velho do Restelo" a alguém, pois vai-se a ver, nos Lusíadas, e era ele quem tinha razão quando recomendava prudência e recusava o aventureirismo português...

Anónimo disse...

Ao Vitorino-dos-patos-paz-a-sua-alma... só de escrever este nome fiquei cansado;
Deixa de mandar o bloguista mandar-nos pro carvalho!
Ainda acaba com o blog e ficamos desempregados. Ou a pregar pro carvalho.

Anónimo disse...

Caro Zé dos Percebos, lembresse que em tempos remotos aconteceu o seguinte: - JC virou-se para Simão e disse: - Simão tu és pedra e sobre ti há-de erguer-se a minha casa. A partir daí Simão passou a chamarsse por Pedro (pedra).
Como era o apostolo pescador passou a ser o S. Pedro (S. Simão) padroeiro dos pescadores.
As chaves do brasão vem desta ideia religiosa e estorica - as chaves de s. simão, quero dizer, S. Pedro o padroeiro.
Olhe que isto não é invenção, se consultar o parecer do Brazão vai ver como as chaves estão justificadas, é publico na Ass. dos Arqueologos Portugueses
Tem as chaves, perto da casa dele, tem povo a padroar, julga ter o mandato de JC, convemceu-se que é a estenção deo padroeiro na terra, confunde-se com tudo isto, e não queria que mamdasse?
E a Churrasqueira ( do mercado velho) só vai para o mercado novo quando o Pedro estiver bem disposto e para aí virado. Porque quem manda aqui "sou eu" e tanto faz o sindicalista meter uma cunha porque veio de lá (Junta) com as orelhas a arder (e a boca aberta de espanto por não fazer ideia do homem que em tempos conheceu ser agora uma grande "entidade local"-ia-me fugindo o verbo) tão forte foi o berreiro. Dissem as más linguas a boca pequena para não se ouvir que os empregados da junta tiveram que fechar os ouvidos e as portas para não se compremeterem - quem não ouve não sabe. Vai ver que vamos ter Frango assado no antigo mercado durante mais uns tempitos, ou se calhar não logo agora que saiu neste blogue e ele seja mais poderoso que a cunha do sindicalista. E a pobre da churrasqueira já pagou, como se dis agora o direito a deslocalização da churrasqueira.
Vejo uma solução é o gerico chico - li isto aqui no blogue - fazer de sindicalista e meter ele uma cunha ao pedro. aproveita e faz de bonzinho isso ele sabe mas as tantas também fechou os ouvidos , ai não que ele tem-o apertadinho e no sitio.
Se bem me lembro - alguem que me ajude - esta lista independente laranja tem um dentista e unm veterinario na lista. tem também um psiquiatica? não e presiso?
O calafate

Anónimo disse...

Devo ser de compreenção a dieesel, ou então, Deus nosso senhor é pai de cada... um!
Hó "velho", eu falei na primeira parte do meu comentário anterior da "PONTE VELHA" que faz a trvessia do rio mondego.
Na segunda parte do texto referi-me à ponte dos arcos no sentido de que poia ficar, para consumo interno, não estou contra a nova ponte, pelo contrário, já devia estar feita desde a ponte nova, certo ao não?
Quanto aos deprimidos deste blog, deixa-os andar, que mais tarde vão ter que rezar.
Abraço "Velho"
Vitorino-dos-patos-paz-a-sua-alma

Anónimo disse...

Não é preciso o asno furioso deve ser tratado no veterinário. Isto refere-se aos acessos de fúria do Simon. Talvez uma vacina contra a raiva não seja demais.....