A crónica de António Agostinho publicada na Revista Óbvia em Junho de 2022.
No momento em que estou a escrever esta crónica, não sei se o Dr. Carlos Monteiro, um perdedor nato - nunca ganhou uma eleição autárquica como "cabeça de lista": a breve "liderança acidental" da câmara da Figueira, foi uma oportunidade que lhe caiu no regaço em Abril de 2019 -, vai ou não para o Porto da Figueira como administrador.
Se for, pode agradecer a quem lhe deu a oportunidade: em 2021, quem decidiu o futuro político de Carlos Monteiro foi o patrão - o povo.
Em Junho de 2022, a Figueira é uma cidade que respira política. Para o bem e para o mal. Embora à nossa dimensão, a pose, o estilo e a escala definem um ambiente político urbano - quase de capital. Os figueirenses, em Setembro de 2021, ficaram divididos entre os que preferem Lisboa e a província. A escolha não foi fácil, mas aconteceu. A música pimba ajudou. Lisboa venceu. E algo mudou. O novo Poder já está a fazer-se sentir.
Em 2034, se for vivo, terei 80 anos de idade.
Estarei em fim de carreira e de vida. Poderia estar a borrifar-me para a Figueira e para os figueirenses. Contudo, estou preocupado com a Figueira que teremos nessa altura.
De que forma quem sente a Figueira, quem a vive, quem gosta verdadeiramente dela, poderá torná-la mais forte, mais atractiva, mais apelativa e, sobretudo, melhor?
A Figueira tem gente muito importante. Não seria este o tempo para o distinto e notável grupo de ilustres pessoas e personalidades figueirenses se preocuparem em tentar perspectivar o seu depois?
Neste momento, temos no poder Pedro Santana Lopes. Que poderá ser o presidente de câmara em 2034.
Ou não. A Figueira, apesar de ser o concelho perfeito para ele, é demasiado pequeno e limitativo para as ambições políticas que Santana Lopes eventualmente ainda possa ter.
Santana é um político habituado a outros patamares. É um político experiente e emocional, mas frio e calculista e não tem receio dos riscos. Bom jogador, tem excelente visão do tabuleiro político em que se move, notável a avaliar o terreno que pisa e eficaz a seduzir adversários.
De quando em vez até tem sorte, mas falta-lhe algo essencial - um objectivo maior que o da sua própria glorificação pessoal.
Neste momento, na Figueira, Santana o grande autarca, o visionário "sobrevivente", não tem adversário à altura. E, isso não é bom, nem para a Figueira nem para o próprio Santana Lopes.
Livrem-nos dos políticos que dizem não pertencer à política. Livrem-nos daqueles que desdenham da figura do político e, ao mesmo tempo, desdenham a própria ideia de política.
Se uma pessoa que até se candidatou a lugares políticos, entende que não é político, não lhe façamos o favor de julgar que fala verdade.
É tão simples como isto: quem vota é político, quem se candidata é político e até quem não vota é político. No fundo, somos todos políticos - não só políticos, mas também políticos. Haveria, então, que tentar varrer de uma vez - e por todas - de expressões como classe política. Qualquer concepção democrática da política deve pressupor que os representantes somos potencialmente todos nós e qualquer um de nós.
A nossa incompreensão da realidade como ela é, não é a qualidade das nossas elites, como se costuma dizer no comentário político, mas a própria concepção elitista que temos do que devia ser a democracia e do que devia ser a política.
O PSD na Figueira, neste momento, tirando a actuação de Ricardo Silva como vereador, que corre em pista própria, não conta para nada. Simplesmente não existe.
O PS ainda não arrumou a casa. Carlos Monteiro continua líder do PS Figueira. Que o mesmo é dizer: a indecisão, lá pelo PS, continua.
A triste e infeliz entrevista que deu ao Dez & 10 no passado dia 13, é mais um testemunho disso. Mostrou-se tal como é: indeciso, sem ideias com futuro, naif, genuíno e politicamente pouco inteligente e perspicaz. Mostrou ter uma virtude, que nunca poderia deixar de sublinhar: "é incapaz de estragar uma festa para a qual foi convidado".
O único momento verdadeiramente surpreendente da entrevista foi quando esclareceu a sua posição sobre os 9 meses de governação santanista: têm estado a arrumar a casa.
A composição da futura administração do Porto da Figueira da Foz, que poderá ser conhecida ainda este mês, vai clarificar muita coisa.
Se Carlos Monteiro for um dos escolhidos (segundo os jornais a futura administração vai incluir elementos da Figueira na mesma proporcionalidade de Aveiro), terá condições para continuar como vereador da oposição?
Para Santana Lopes, a decisão do ministro das Infraestruturas e Habitação “é de uma importância política enorme”, já que vai trazer “mais operacionalidade” e permitir “um novo ciclo no Porto da Figueira da Foz”.
Acrescentaria: putativamente também à governança política da cidade e do concelho.
Segundo o presidente da Câmara da Figueira da Foz, por inerência do cargo, também Presidente da Mesa da Assembleia Geral, a inclusão de administradores do concelho, que conhecem bem o dia a dia do porto comercial e as suas carências dão garantias de maior operacionalidade e de um trabalho conjunto com o município.
Como estará a Figueira em 2034?
Depende de muita coisa. Fundamentalmente do bom funcionamento do porto da Figueira da Foz, uma “questão relevantíssima” para o desenvolvimento do concelho. Naturalmente, a par de outras, como a existência de terrenos para fixar novas empresas e de um espaço para instalar o ensino superior na cidade.
O porto comercial, desde sempre, foi fundamental para o desenvolvimento da Figueira. No futuro, também será assim.
Já no presente mês, veio a público que o «Porto de Aveiro vai construir um novo terminal intermodal e expandir o feixe de linhas para a recepção e expedição de mercadorias em comboios de 750 metros, um projecto avaliado em 16 milhões de euros. O projecto, que visa permitir a circulação de comboios até 750 metros, tem já garantido financiamento comunitário e a obra deverá iniciar-se em Janeiro de 2023, prevendo-se a sua conclusão até ao final do ano seguinte.
De acordo com o "site" da Administração do Porto de Aveiro (APA SA), o projecto encontra-se em fase de avaliação ambiental, processo que aquela entidade espera ver concluído até Setembro.
E a Figueira a vê-los passar... Essa é que é essa, como diria o Eça!
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