Atenção: isto não é carnaval, é importante, pois corremos o risco de, um dia destes, na Figueira, estarmos nostálgicos da liberdade…
Imagem via Diário as Beiras |
Pois, deixe que lhe diga, que também não consegui ler, sem desconfiança, um político, neste caso um presidente de câmara, a armar-se em delimitador da liberdade de opinião.
Primeiro, porque a liberdade de um político, seja em Portugal, seja na Venezuela, não tem de coincidir com a liberdade de um cidadão.
Segundo, porque a experiência mostra que os interesses dos políticos, nomeadamente da gestão das suas carreiras, podem ser um dos principais limites à liberdade de opinião de um cidadão.
Tudo, no fundo, é um problema de liberdade. Só que a questão não acaba aí: começa, apenas. Porque este é o caminho mais exigente.
A liberdade só o é quando supõe a igualdade. E esse é o passo que nem todos estão dispostos a dar. A título de exemplo: só podemos convencer alguém de que não é ofensivo ter opinião, quando não nos sentirmos ofendidos com a opinião dele acerca de nós.
Neste caso, é óbvia a extrema finura da linha que separa a liberdade "dos outros" da contrariedade à "ordem pública", aos "«bons» costumes" e noções semelhantes. Nem por isso ficamos dispensados de examinar e ponderar, em cada caso, os interesses em confronto.
Isto é uma questão de princípio, para que a Liberdade não seja só a "nossa liberdade", ou, mais precisamente, o poder disfarçado de liberdade.
Recuemos uns anos e lembremos o caso Watergate. O problema que se colocava à sociedade americana, nessa altura, era o da liberdade de a imprensa relatar factos conhecidos que poderiam apontar para outros, desconhecidos.
Watergate, para mim, significa essencialmente liberdade. Não esqueçamos: tudo começou com a curiosidade de um grupo de jornalistas do Washington Post apoiado incondicionalmente pelo seu director. O mérito da sua acção não está em terem feito cair um Presidente. O mérito está em terem denunciado publicamente o clima de ilegalidade, o gangsterismo que se instalara na Casa Branca, que tudo corrompia, que tudo e todos procurava comprar.
Ao longo de anos, o Washington Post e os seus jornalistas sofreram toda a espécie de pressões para se calarem. Mas eles, conscientes dos seus direitos (e deveres) não cederam.
Com os resultados que conhecemos.
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