terça-feira, 14 de julho de 2015

Dorati da Conceição, uma vida de “trabalhos” que valeu a pena (4 de Agosto de 1928/14 de Julho de 2015)

A minha Mãe foi baptizada de Dorati da Conceição, nasceu na freguesia de Lavos, Figueira da Foz, descendente de uma família de pescadores naturais de Ílhavo, que desceram a costa portuguesa à procura de peixe e água potável que lhes permitisse a sobrevivência, que se vieram a sediar na cova de uma duna, um local a que passaram a chamar de Cova por volta de 1750/1770.
A Gala, onde a minha Mãe nasceu, é uma povoação mais recente, nasceu cerca de 40 anos depois, quando alguns dos pescadores se deslocaram para nascente e ergueram pequenas barracas ribeirinhas, para recolha de redes e apetrechos de pesca.
Os familiares que me antecederam eram gente com mãos rugosas do trabalho  e faces marcadas pelo sol e pelo mar, onde arriscaram a vida para continuar a viver.

A vida da minha Mãe, até ao último dia, foi, sobretudo, uma vida de “trabalhos”.
Normalmente, este blogue serve para tudo, menos para falar de mim ou da minha família.
Hoje, é uma dessas raras excepções… Mas, como é que se escreve sobre uma Mãe que teve uma dura e difícil vida e que acaba de me deixar?
Neste momento, não sei se não sei, não sei se não consigo.
Sei que foram quase oitenta e sete anos, uma longa vida, ainda por cima, vivida com muitas dificuldades, inúmeros desgostos e algumas amarguras.
Não conheceu o Pai, soldado na I Grande Guerra. Ficou viúva, aos 46 anos de idade, no tempo em que não havia reformas, com 3 filhos e uma Mãe de idade já avançada para cuidar.
A vida é tão difícil para alguns… Contudo, a minha Mãe deu a volta por cima e foi sempre uma mulher lutadora e uma filha, mãe,  avó e bisavó dedicada.

Nunca desistiu: e isso foi o mais importante.
Viveu muitas alegrias no seio familiar –  toda a família a rodeou de cuidados, amor, carinho e atenções até ao último dia.
Porém, as consequências de uma vida longa, dura e difícil pesaram no final – as últimas semanas foram penosas, muito penosas mesmo.  
Ao longo do percurso aconteceu de tudo: chuva e sol, sorrisos e lágrimas, chegadas e partidas – e, sobretudo, trabalho, muito trabalho e muita luta pela sobrevivência com honra e dignidade – o maior e mais importante legado que deixou à família.
Quase oitenta e sete anos deram para descobrir o que é verdadeiramente importante na vida - as pessoas que nos rodeiam e que amamos.
E, disso, a Dona Dora, minha Mãe, não se pode queixar.

Hoje perdi a minha Mãe – que, durante mais de 41 anos, foi, também, o pai que me restava. Lembro-me de tudo. De como ela era bonita. E bem disposta e divertida, como esta  foto de 2012 mostra.
É assim que a vou recordar. Sinto a sua partida e o que teve de sofrer nos últimos meses, como uma profunda injustiça. Como a pior traição que se faz a um filho.
“Consola-me” um pouco, porém que, hoje, a morte vai ser a primeira noite sossegada que vai ter de há largos meses a esta parte…
Até um dia Mãe.
Um beijo.

9 comentários:

A Arte de Furtar disse...

Mãe:
(…)
Que és a eterna mulher entre as mulheres.
Que nem a morte te afastou de mim!

Miguel Torga, in 'Diário IV'

Abraço solidário.

Anónimo disse...

Condolências.
M.Marques

Joaquim Jerónimo disse...

Meu Caro Agostinho sei muito bem o que estás a passar .Recebe um forte abraço amigo e sentidas condolências a todos os Teus

Rogério Neves disse...

Caro Agostinho nestes momentos faltam-nos as palavras certas para poder confortar tamanha perda. A Senhora tua Mão partiu mas certamente partiu feliz porque deixou um grande exemplo no mundo terreno onde viveu. Coragem é o que te posso dizer e um grande abraço nesta hora difícil.
Sentidos pêsames para toda a família com um abraço muito particular para ti e para o Pedro.
Rogério Neves

Anónimo disse...

Abraço de solidariedade, amigo Agostinho, sabendo o quão era importante para ti o bem estar da tua mãe e o quanto por ele fizeste. Os meus sinceros sentimentos.
João Pita.

Anónimo disse...

Grande abraço, agostinho. Estamos contigo neste momento de perda. Sabes que podes contar connosco para o que for necessario. Ass. Rui e Claudia

Rui Monteiro disse...

Força e coragem.

Anónimo disse...

Do Mário Norte: Os meus pêsames para ti Agostinho e para toda a família. Não há muito a dizer. A tua Mãe era uma boa mulher.

Joao Catavento disse...

Tó os meus sentidos pêsames para toda a família,e especialmente para ti,um grande abraço de coragem e amizade.