sexta-feira, 7 de setembro de 2007

"Vivemos tempos sem a mínima glória..."


"Claro que não vou emigrar. Fico cá. Isto diverte-me: ver os velhos reformados a receber (por enquanto) uma esmola humilhante, enquanto seis meses num cadeirão dourado do “serviço” público assegura ao feliz traseiro uma aposentação escandalosa. Não, não vou chapiscar massa para o Luxemburgo. Fico cá, a chapiscar mossa enquanto puder."

Como compreendo este Ladrar de Daniel Abrunheiro .

Os cães ladram mas a caravana vai passando!... "Essa é que é essa", como diria o EÇA.
Numa linha mais séria, mais preocupada mesmo, Eça produziu esta preciosidade de análise política e social no primeiro número de "As Farpas", corria o ano de 1871 :

«O país perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada, os caracteres corrompidos. A prática da vida tem por única direcção a conveniência. Não há princípio que não seja desmentido. Não há instituição que não seja escarnecida.

Ninguém se respeita. Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Ninguém crê na honestidade dos homens públicos. Alguns agiotas felizes exploram. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente. (...)
O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo. (...) A certeza deste rebaixamento invadiu todas as consciências. Diz-se por toda a parte: o país está perdido!»

1 comentário:

Anónimo disse...

Ainda que mal pergunte: o Eça de Queiroz viveu no século XIX ou vive no século XXI?