"Ana Paula Vitorino anunciou, ontem, um investimento “imediato” de 180 mil euros para uma intervenção na restinga, para melhorar as condições de navegabilidade na barra, tendo em vista o próximo inverno.
Quanto às restantes recomendações do Grupo de Trabalho sobre a Segurança e Navegabilidade da Barra do Porto da Figueira da Foz, cujo relatório considerou “realista” e “exequível”, a ministra do Mar ressalvou que as soluções têm de ser “tecnicamente sólidas”.
A governante não reconheceu uma relação entre o prolongamento do molhe norte, concluído em 2011, e os acidentes com 11 vítimas mortais registados até 2015.
No entanto, admitiu que possam vir a ser realizados estudos “para ver se é ou não necessário fazer uma ou outra correcção”.
Por outro lado, adiantou, o relatório propõe acções de formação para os mestres de embarcações de pesca sobre a abordagem à barra."
- Via AS BEIRAS. Mais ou menos o mesmo pode ser lido no Diário de Coimbra.
As preocupações causadas por esta nossa barra continuam presentes e vão acompanhar-nos em 2017 e anos seguintes...
Na Figueira, há mais de 100 anos que os engenheiros se dedicam a fazer estudos para a construção de uma barra...
Vou recuar até ao já longínquo ano de 1996.
Manuel Luís Pata, no extinto Correio da Figueira, a propósito da obra, entretanto concretizada, do prolongamento do molhe norte da barra da nossa cidade para sul, publicava isto.
“Prolongar em que sentido? Decerto que a ideia seria prolonga-lo em direcção ao sul, para fazer de quebra-mar.
Se fora da barra fosse fundo, que o mar não enrolasse, tudo estaria correcto, mas como o mar rebenta muito fora, nem pensar nisso!..
E porquê?... Porque, com os molhes tal como estão (como estavam em 1996...), os barcos para entrarem na barra vêm com o mar pela popa, ao passo que, com o prolongamento do molhe em direcção ao sul, teriam forçosamente que se atravessar ao mar, o que seria um risco muito grande...
Pergunto-me! Quantos vivem do mar, sem o conhecer?”
A obra do aumento de quatrocentos (400) metros do molhe norte do porto da Figueira da Foz (e com a alteração da sua orientação, de oés-sudoeste [WSW, c.247º] para sudoeste [SW, c.225º]), criou um novo e muito diferente enfiamento da linha de entrada e saída das embarcações, que deixou de ser de oeste [W, 270º], ou oés-sudoeste [WSW, c.247º], e passou a ser de su-sudoeste [SSW, c.202º], e muito mais longa do que era antes… Assim obrigando, portanto, a que as embarcações pequenas fiquem expostas, lateralmente, às vagas da ondulação marítima dominante (que, aqui, na enseada de Buarcos, é de noroeste [NW, c. 315º]… Expostas, de través, numa extensão longuíssima… a sul de uma costa arenosa (areia acumulada…) e com fundos baixos… Expostas, obliquamente, enquanto demandam a barra, não aprofundável, que se situa em cima das lajes de pedra em cujo extremo norte está o Forte de Santa Catarina, na Foz do Mondego.
Uma situação impossível para os barcos pequenos, os de pesca e recreio.
A obra do aumento dos tais 400 metros do prolongamento do molhe norte , foi exigida, anunciada, e aprovada, em 2006, 2007 e 2008; teve início neste último ano; realizou-se ao longo de 2009; e ficou pronta em 2010 — e, por isso, logo a partir desse ano começou a alterar as condições da deriva sedimentar, e com o tempo acumulou as areias, ao longo dos anos (até começarem mesmo a contornar a cabeça do molhe norte…), e esse acrescido assoreamento das areias levou, concomitantemente, ao consequente alteamento das vagas nessa zona.
Um assoreamento que, como era previsível, se avolumou mais e mais, ao longo dos anos. Os terríveis resultados não se fizeram esperar: tenham consciência deles clicando aqui.
A barra da Figueira não pode continuar a ser um cemitério.
Está assim, por vontade dos homens...
Desculpem qualquer coisinha, especialmente este, não ser um espaço estúpido, nem para estúpidos...
A terminar esta postagem, cito Teotónio Cavaco, na sua crónica de hoje no jornal AS BEIRAS.
"Na história da Humanidade, nunca esteve (com tamanha facilidade) ao alcance de tantos tanta informação (a maior parte de qualidade); de acordo com Aristóteles, o Homem é um “animal político”, precisamente porque possui a linguagem (fundamento da comunicação entre os seres humanos e a capacidade de julgamento entre o bem e o mal, o certo e o errado).
Neste sentido, cada um de nós tem a responsabilidade de conhecer, de estudar, de aferir a palavra política, assim contribuindo para o combate aos vícios, tão velhos, afinal…"
Sem comentários:
Enviar um comentário