Via Diário de Coimbra
"Como uma aparente boa ideia resultou num atentado à biodiversidade e num desbaratar de recursos públicos.
A conferência de imprensa convocada ontem pelo professor da Escola Superior Agrária de Coimbra (ESAC) e especialista em aves, David Rodrigues, constituiu um «grito de desespero», manifestando publicamente as suas reservas à construção de um passadiço no Paul do Taipal, projeto da Câmara Municipal de Montemor-o-Velho, com o aval do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF)." Em declarações ao
DIÁRIO AS BEIRAS, David Rodrigues «frisou que se trata de
uma “Zona de Proteção
Especial e importante
para da União Europeia
em termos da conservação das aves”.
Segundo o professor da Escola Superior
Agrária de Coimbra
(ESAC), a infraestrutura colocará em causa a
biodiversidade, através
da presença humana.
No Paul do Taipal coexistem milhares de
aves de várias espécies,
com predominância
para os patos, que ali
encontram “um refúgio seguro”, já que, naquela zona, “a caça está
proibida”.
Nas plataformas de
observação de aves,
defendeu David Rodrigues, “o que se pretende é que o público consiga aproximar-se das
aves sem as perturbar, e
para isso são utilizados
observatórios”.
A diferença entre observatórios e miradouros como os que estão a
ser construídos é que, nos primeiros, “as pessoas conseguem ver os animais
sem serem vistas” e os
segundos são “para se
apreciar a paisagem”. A presença humana “espanta as aves”.
A construção dos passadiços, pela autarquia
montemorense, numa
zona tutelada pelo Instituto da Conservação
da Natureza e das Florestas (ICNF), que autorizou a obra e aprovou
o projeto, tem sido alvo
de ações judiciais, por
parte dos contestatários. No entanto, até
agora, não surtiram
efeito.»
Opinião contrária tem o Presidente
da câmara de Montemor-o-Velho. Ouvido pelo DIÁRIO AS BEIRAS disse que “os passadiços estão
construídos em cima
de um caminho público e, até hoje, não
se viu que espantasse
o que quer que seja,
nem durante as obras”.
Emílio Torrão acrescentou: “aquele espaço passará
a ter vigilância e a ser
preservado de acordo
com as regras do ICNF
e não com as regras de
outras pessoas”.
Para Emílio Torrão, o Paul do Taipal é uma zona
húmida que serve de
“reserva para todas as
espécies e não de uma
única espécie de forma
artificial, que são os patos”.
Para o presidente da câmara de Montemor-o-Velho, «a plataforma em construção destina-se
à observação da natureza, “em silêncio e de
forma ordenada”, com
quatro postos, um deles para investigadores
e outras pessoas autorizadas, e um centro
de interpretação. Não
serão, pois, passadiços
para as pessoas circularem livremente, garante Emílio Torrão.»