sábado, 27 de março de 2021

Para que na Figueira os blogues passem a declamar poesia...

Embora com atraso de alguns, poucos, dias - porque é a 21 de março que se comemora a poesia - fica um poema de Lawrence Ferlinghetti, que celebra o gosto perigoso em viver. 
Trata-se de um poema sobre ocupantes, amantes e demais revolucionários. 
Este poema também pode ser uma celebração das maravilhosas praias portuguesas. Lawrence Ferlinghetti, mestre da poesia do quotidiano, social e de uma simplicidade desarmante. 
A ler, muito actual. 


Ocupamos a praia do amor 
entre bandolins de Picasso repletos de areia
e patas de esfinge semi-enterradas
e papéis de piquenique
patas de caranguejos mortos 
e marcas de estrelas do mar 

Ocupamos a praia do amor 
entre sereias encalhadas 
com seus bebés berrando e maridos calvos
e bichinhos de madeira feitos em casa 
com colheres de gelados a fazer de pés 
que não podem amar ou andar excepto para comer 

Ocupamos a orla do amor 
seguros como só os ocupantes sabem ser 
entre poças remanescentes 
de maré salgada de sexo 
e os suaves regatos de sémen 
e balões flácidos enterrados 
na carne macia da areia 

E ainda rimos 
e ainda corremos 
e ainda nos deitamos 
nos botões do amor 
mas é mais profundo 
e mais tarde que pensamos 
e tudo se gasta 
e todas as nossas boias d’amor falham 
E bebemos e afogamo-nos

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