segunda-feira, 11 de julho de 2016

A industria do futebol...

Portugal ganhou a final do Euro.
Como era de prever, a maioria dos jornais generalistas e todos os desportivos, reservaram a primeira página para falar do jogo de Paris.
A excepção foi o Jornal de Notícias, com uma pequena nota de rodapé, para lembrar as medalhas de ontem no atletismo e a participação de Rui Costa na volta à França em bicicleta.
Ter havido ontem medalhas como nunca no atletismo (Portugal conquistou quatro medalhas neste Europeu de Amesterdão: às medalhas de ouro de Sara Moreira  e de bronze de Jéssica Augusto, na meia maratona, logo ao início da manhã, juntaram-se as medalha de ouro de Patrícia Mamona ao final da tarde, no triplo salto e de  Tsanko Arnaudov, que alcançou o bronze no lançamento do peso) e Rui Costa ter sido segundo na nona etapa da Volta a França em bicicleta, merecia outro destaque e outro registo na imprensa portuguesa de hoje.
Fica aqui o registo do resultado destes fantásticos desportistas portugueses, ontem, felizmente complementado pela alegria da vitória da noite de ontem em Paris.

Pena é que a imprensa portuguesa - generalista e da especialidade - não valorize o desporto português como deveria ser valorizado.
Mas a sociedade em que vivemos em Portugal é isto.
As mudanças sociais, culturais, políticas e económicas que marcaram as sociedades contemporâneas das últimas décadas tiveram um impacto significativo no futebol. 
Os grandes clubes têm vindo a sofrer profundas transformações. A crescente internacionalização e comercialização do futebol transformou os clubes com maior projecção em corporações transaccionais, processo para o qual contribuíram, entre outros agentes, as grandes companhias multinacionais. O papel dos grandes interesses na busca da maximização do lucro, a que se juntou os interesses financeiros dos media, das televisões e dos organismos que tutelam as competições nacionais e internacionais, acentuou-se nos últimos 15 anos, como reflexo do fortalecimento das políticas neoliberais nas sociedades contemporâneas.
Os adeptos, por seu turno, viram-se progressivamente relegados para o fundo de uma estrutura de poder, embora, ironicamente, sejam eles os responsáveis pela centralidade que o futebol ocupa na representação das culturas populares.

Sendo o futebol um palco privilegiado de afirmação de identidades locais, regionais e nacionais, facilmente se depreende que uma parte significativa dos adeptos se posiciona veementemente contra o emburguesamento e a comercialização da modalidade.
Face ao reforço das políticas comerciais e financeiras no futebol, o que alterou significativamente o quadro de relações que se estabelecem entre os aficionados e os clubes, os antigos adeptos passaram a ser tratados, pela máquina que industrializou o futebol,  por meros consumidores.
Será que o mercantilismo, também no futebol, deverá deve ser assumido como uma inevitabilidade histórica?

3 comentários:

A Arte de Furtar disse...

Here is the skin that of my people, mr buster Platini

Le cinéaste portugais Miguel Gomes l’annonçait tranquillement juste avant la finale, dans une interview prémonitoire au site Sofoot.com

http://www.sofoot.com/miguel-gomes-le-portugal-la-meilleure-equipe-de-cet-euro-de-la-debrouille-226045.html
PROPOS RECUEILLIS PAR BRIEUX FÉROT - DIMANCHE 10 JUILLET
(…)
Dans ce championnat d’Europe un peu merdique, le Portugal va gagner, car c’est une équipe qui suit cette logique de la débrouille jusqu’à la fin. (…)

http://www.lemonde.fr/euro-2016 11/7/16

A Arte de Furtar disse...

https://www.publico.pt/multimedia/video/o-menino-que-consolou-o-inconsolavel-adepto-frances-20160711-090456

O menino que consolou o inconsolável adepto francês.

GRANDE LIÇÃO de fairplay!

Isto devia ser mostrado N vezes aos Payets, Platinis e aos jogadores franceses que se recusaram a receber/usar a medalha de 2º lugar.
E aos srs que coordenam os serviços técnicos da Torre Eiffel - vergonha!!!

A Arte de Furtar disse...

Uma proposta absolutamente éder.

Proponho que Éder passe a ser um adjectivo -
"O concerto dos Arcade Fire foi éder", "Hmm, este cozido à portuguesa está éder", etc.

João Vale