terça-feira, 31 de maio de 2016

Os nossos políticos pensam acima de tudo nas suas vidas e nas suas carreiras...

Friederich Nietzsche, escreveu isto: “A verdade e a mentira são construções que decorrem da vida no rebanho e da linguagem que lhe corresponde. O homem do rebanho chama de verdade aquilo que o conserva no rebanho e chama de mentira aquilo que o ameaça ou exclui do rebanho. [...] Portanto, em primeiro lugar, a verdade é a verdade do rebanho.” 

O António Tavares que eu conheci, era mestre numa prática que se tornou habitual na política: a gestão dos silêncios
Não dizer nada e manter uma certa pose, que se diz ser de Estado, foi meio caminho andado para chegar a vereador da Cultura.
Diga-se, contudo, sem reservas mentais nem ironia: neste momento, na Figueira, seria difícil haver um vereador da  Cultura tão perfeitamente identificado com o mundo cultural como António Tavares

O seu currículo é o do perfeito agente cultural: o indivíduo que tudo converte à linguagem da cultura e a amplifica nas suas estudadas e competentes astúcias. 
Escritor, o seu mundo é o da cultura literária. Ex-director de um jornal, a cultura foi, porém, desde que o conheço o seu verdadeiro sacerdócio.
Na Figueira, não existe ninguém que encarne tão perfeitamente a síntese total com que sempre sonharam os espíritos iluminados pela chama da cultura. 
A sua vocação de agente cultural foi sempre um percurso de santidade, que  é uma capacidade pacificadora que consiste não apenas em conviver com tudo, mas em fazer com que tudo conviva com tudo, sem exclusões nem conflitos.

Com a passagem do tempo, está a tornar-se num político azedo. Talvez, porque o  tempo foi passando e o político ficou mais desabrigado e exposto. Um dia destes disse: «já dei aquilo que é exigido a um cidadão médio». E acrescentou: «trata-se da retirada de um cidadão que está na casa dos 60 e que o que quer é paz e descanso e fazer outras coisas. Já não tenho pachorra para jogos de poder e guerras de alecrim e manjerona».
António Tavares apela aos que gostam dos jogos de poder que o esqueçam. «Deixem-me em paz. Não quero saber de nada».
Como escreveu Fernando Assis Pacheco:
"Um dia
o homem é posto à prova, interrogado
pelas areias moventes;
desaba sobre ele a tempestade
que o quer afogar.
Cautela com os animais de fogo!"

Apesar de não esquecer António Augusto Menano, a meu ver, António Tavares, foi o vereador da Cultura, na Figueira, com maior  “vida e obra literária e cultural”, para além da política.
Mas, a maioria dos figueirenses sabe quem é Tavares? 
Penso que não. Tem dele uma imagem. 
Neste momento, mais ou menos brilhante, mais ou menos esbatida. 
Porventura, amanhã uma sombra. 
Porém, nada mais do que uma imagem.
Por isso, compreendo a preocupação tão grande (quase obsessiva, nos últimos tempos...) com a gestão da sua imagem. 
Porque, para a esmagadora dos figueirenses Tavares é só isso: imagem. E ele sabe.
O seu  “percurso” político (só, por ironia,  motivo de orgulho...) foi, para António Tavares, apenas um apêndice, algo meramente instrumental para o que realmente lhe importava: uma carreira literária
E não o contrário...
Seja, portanto, feita justiça à competência de António Tavares.
Sem reservas mentais nem ironia: quem conseguiu aceder a vereador da Cultura na Figueira, tem obrigação de saber, das argucias culturais e políticas, tudo o que há a saber.

1 comentário:

Anónimo disse...

Confesso que nunca fui um acompanhante da carreira do meu amigo António Tavares mas agora tiro-lhe o meu chapéu
Já não tenho pachorra para jogos de poder e guerras de alecrim e manjerona»
Esta frase é realmente de alguém que sabe quem é, sabe o que quer, sabe para onde vai e o caminho que quer seguir.
Parabéns dr Tavares muita sorte e saúde tudo de bom na sua vida .