"A demonização das eleições é um dos traços autoritários mais
preocupantes dos dias de hoje. As eleições são apresentadas como sinónimo de um
"país que pára", um acto
inútil "porque tudo fica na mesma", um enorme desperdício de dinheiro
a evitar a todo o custo. Ouvindo com atenção os argumentos hostis à
possibilidade de eleições imediatas percebe-se que eles não dizem respeito
apenas à antecipação de eleições no actual contexto de crise, mas a todas as
eleições, às eleições de per si. São, no seu entender, um momento
anti-económico e um obstáculo a que o país "trabalhe" e "ande
para a frente". A questão tem a ver
com a ideia de que a democracia é uma perturbação inaceitável, ou apenas
aceite no limite da condescendência, para um ideal de funcionamento tecnocrático,
aplicado por uma burocracia "racional", a mando de não se sabe de
quem."
Via Abrupto
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