O jornalista Gustavo Sampaio, depois de uma exaustiva e rigorosa pesquisa, apresenta-nos as zonas cinzentas entre o interesse público e privado, e faz as ligações que nos permitem perceber como políticas e ex-políticos gerem interesses, movem influências e beneficiam de direitos adquiridos.
Toda a gente devia ler este “Os privilegiados”, do jornalista Gustavo Sampaio, em especial todos aqueles que têm alinhado no discurso do “os políticos são todos iguais”. O livro ajuda precisamente a verificar que não são. Por exemplo, nenhum dos 117 deputados em part-time ou dos 16 que saltaram do poder para as administrações de grandes empresas fornecedoras do Estado pertencem a Bloco de Esquerda, PCP ou Verdes. Até agora, o discurso anti-partidos tem favorecido a abstenção que perpetua os prevaricadores no poder em vez de puni-los. Num futuro não muito distante, poderá ser ainda pior. São cada vez mais visíveis as movimentações das auroras douradas que trabalham afincadamente para capitalizar esta desconfiança instintiva e ignorante para dar força a movimentos de extrema-direita. Está na hora de cerrar fileiras contra inimigos reais e não contra fantasmas imaginários. Este livro permite identificar quem é quem, quem está na política para servir o país e quem usa a política para se servir e a interesses que minam a nossa democracia por dentro.
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
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