(... É eu ter de saber que, no hotel do estágio, a ementa de hoje foi canja de galinha e carne à jardineira (e o cozinheiro já vai explicar porquê), mas também que o craque A, afectado por uma ligeira indisposição, comeu pescada. Quanto ao B, que é naturalizado, foi-lhe concedido viajar hoje até S. Luís do Maranhão, onde o pai será operado a uma hérnia (o mau canal por aqui se fica, mas o bom vai ao local ouvir coronéis, jagunços e ameríndios sobre a popularidade e gentileza da família do craque). É a irmã do craque C , que veio a Viseu, grávida de séculos, e pariu com estrondo à beira da hora do treino - e o doutor, que é ginecologista, vive os seus cinco minutos de glória a sossegar a nação. É o pequeno Marturis que continua a vestir a camisola do Figo, mas já lê Camilo Pessanha graças à bolsa de um banco nacional. E a namorada do médio D, que admite vir a ter muitos filhos, mas só depois de fazer carreira em Hollywood.
Quarenta minutos volvidos, temos direito a algum noticiário nacional. Sabemos então da abertura de um escritório de interesses da Estremadura espanhola em Lisboa, de um académico galego que nos adora e acredita que nada separa o quotidiano que se faz desde o Golfo da Biscaia até à foz do Douro e do vice-presidente catalão que nos ensina qual a Espanha que mais convém a Portugal. Só mesmo o romântico bandido "El Solitario", que tanto se queixara de nós, já vai dizendo que gostaria de voltar para uma prisão portuguesa - e gostos não se discutem.)
Sucesso e fracasso são temporários.
O que permanece é a "bida".
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