Ontem, lembrámos o prédio J. Pimenta, em Buarcos.
Uma das muitas histórias por contar desta nossa cidade, que premiou alguns dos contentinhos deste regime deletério em que vivemos, que contribuíram para o actual momento da Figueira da Foz...
Hoje, vamos contar a «estória».
3 de Fevereiro de 1981. Na reunião realizada nesse dia, a Câmara deliberou, com os votos da A.D. e do então vereador socialista José Elísio de Oliveira, autorizar a firma J. Pimenta a aumentar sete andares à torre de apartamentos em construção na Avenida do Brasil.
Com os votos daqueles vereadores fez-se letra morta do plano de urbanização aprovado em Assembleia Municipal, que previa dez andares para aquele edifício!..
Para que conste, transcrevo as razões aduzidas pelo vereador do P.S. José Elísio de Oliveira, que juntou o seu voto à oposição, o que tornou possível a aprovação de mais sete andares à torre J. Pimenta.
Pois, pois...
«Voto a favor do deferimento por:
Depois das alterações ao projecto apresentado pela firma em doze de junho de mil novecentos e oitenta, não consta do processo qualquer parecer técnico ou entidade que clara e inequivocamente demonstre que do ponto de vista técnico ou urbanístico a Torre não deve subir além dos dez andares.
A apreciação do ponto de vista estético é sempre subjectivo e discutível e a mim não me fere aprovar uma Torre de dezassete andares naquele local, tanto mais que dada a existência da Torre da Sociedade Figueira-Praia, me parece que a Avenida beneficia esteticamente.
Embora o actual executivo não seja responsável pela aprovação da torre da Sociedade Figueira-Praia julgo correcto dar o tratamento semelhante à firma J. Pimenta».
Fica este documento histórico que, espero, seja um contributo para se perceber o que se passou posteriormente na cidade da Figueira da Foz, nos meandros da política autárquica.
Assim aconteceu. E nada aconteceu por acaso...
Chegados a 2014, cansados e desiludidos, os figueirense não têm grande pachorra para a política, nomeadamente para a autárquica.
É pena, até porque as autarquias vão sendo um esteio incontornável na nossa arquitectura político-administrativa.
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
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