Quanto às infra-estruturas, «terão de ser melhoradas com a implementação das escolas de surf e do restaurante», sendo que o processo de levantamento das estruturas «já se iniciou». Além disso, Manuel Domingues quer «entender qual era a ideia para o surf-camping. O espaço não é muito grande, há necessidade de estruturas novas para acomodar os campistas, temos de nos debruçar sobre o processo»."
Desde que me recordo, olho para o Cabedelo de uma forma cúmplice e agradeço a força e o sorriso que traz, todos os dias, à minha vida.
Como sabemos, a vida custa a todos... Mas, a alguns em especial!
Como acontece em tudo na vida, é preciso estar-se no sítio certo no momento certo. O trabalho e o esforço são determinantes, mas um pouco de sorte ajuda muito. E ter tido a sorte de poder, sempre que o quisesse, encontrar-me com um local como o Cabedelo, mais do que sorte, na minha vida foi uma benção.
No inverno, tem aquela luz ténue e límpida, própria desta estação do ano. Em dias frios, como o de hoje, tenho a sensação que o frio purifica a luminosidade, o que é uma benção, em especial, para os fotógrafos. A luz de inverno, no Cabedelo, é calma e fugaz. Os dias são curtos e transmite a necessidade de não desperdiçar um momento que seja, pois os dias de inverno no Cabedelo são lindos, mas têm algo que faz lembrar o efémero.
A partir da primavera tudo é diferente. A sensação de êxtase dura mais - quase parece permanente.
Tirando o mês de Agosto, o Cabedelo rodeia-nos de uma atmosfera muito especial. Somos nós e o sol - isto, é a natureza.
O Cabedelo, por obra do anterior executivo camarário, fruto do atentando paisagístico de que foi alvo, ficou transformado em mais um mártir ambiental no nosso concelho.
A coberto das denominadas requalificações, sítios onde antes, e a pretexto da defesa da natureza, do meio ambiente e da protecção do ecosistema, nem sequer uma tenda de campismo selvagem se podia erguer, estão agora ocupados por impermeabilizações pacóvias e desnecessárias.
É disto que me vou lembrar quando pensar no Cabedelo de há 60 anos: da destruição do património natural comum para benefício de uns quantos.
Segundo supomos saber, a intervenção feita naquele local aconteceu no âmbito do Programa Portugal 2020. Temos para nós que, salvo raras e honrosas exceções, a grande maioria das intervenções deste Programa visam aquilo a que designamos como a obtenção do espectacular. Muitas vezes, porém, estas intervenções levam à perda da genuidade do lugar.
No Cabedelo isso nota-se a olho nu: a requalificação serviu para correr com a comunidade que ao longo das últimas décadas deu vida àquele lugar.
Na nossa opinião, não aconteceu ali uma intervenção urbana equilibrada, no pressuposto da “compreensão das diferentes escalas territoriais de inserção, nos processos de reestruturação, nos elementos arquitetónicos, na morfologia urbana existente e nas tradições” (Carla Narciso).
Uma intervenção urbana, como a que está a acontecer no Cabedelo, não deveria significar uma perda da genuidade do local, mas sim uma melhoria social e estética. Só que, deveria ter acontecido o que não aconteceu: na obtenção deste desiderato era necessária a participação da comunidade local nas discussões e intervenções a serem implementadas.
Não demos conta, para além dos mínimos que a lei estipula e prescreve, que tivesse sido implementado e levado a cabo de uma forma verdadeiramente participativa da discussão da desta requalificação do Cabedelo.
O que está em causa, dada a capacidade de ilusão que as obras provocam na sua passagem, desprendidas da vivência e do quotidiano das pessoas que aí vivem, é a liquidação do Cabedelo como o conhecemos.
Como dizem Borja & Forn, em Políticas da Europa e dos Estados para as Cidades, "o maior desafio do planeamento urbano contemporâneo é aumentar o potencial competitivo das cidades no sentido de responder às procuras globais e atrair recursos humanos e financeiros internacionais. Mas, de acordo com vários exemplos que temos assistido, o planeamento tem sido feito à margem da cidade, com total esquecimento das pessoas que ocupam e vivem nesses espaços."
O Cabedelo, como espaço público de eleição, não é uma mercadoria.
O poder municipal, é o principal impulsionador e gestor do espaço público, em especial nas cidades pequenas e médias, como é o caso da Figueira da Foz.
Há muito a rever no Cabedelo. Ao trabalho Senhor Vereador Manuel Domingues, ao trabalho.