
Será que vai chover? ...
No envelhecimento há coisas que custam.
Vermos desaparecer locais e coisas onde fomos felizes, que marcaram o percurso já percorrido, dói no mais fundo de nós. Arranha-nos a alma.
Este assomo de nostalgia tem a ver com o futuro desaparecimento da Ponte dos Arcos.
Dentro de dois anos, se se cumprir o previsto, vai estar pronta a Nova Ponte dos Arcos e a Velha Ponte dos Arcos vai ser implodida.
Isso mesmo – vai ser vítima de uma implosão.
Quer dizer, vai rebentar para dentro. O que é isso?!.. Uma modernice, uma moda?!... Ou, apenas, uma morte estúpida e rápida?!...
Mas, de certeza, não uma morte digna, nem decente, para quem tão bem cumpriu a sua missão durante décadas.
A Ponte dos Arcos, tal como está, é, neste momento, um estorvo, pois é um impedimento para o fluir do trânsito dos dias de hoje.
Estamos numa sociedade comodista, de consumo exacerbado, onde se vive e se morre a correr.
A Ponte dor Arcos é um estorvo, empata os carros, as motos, os camiões e, até, as bicicletas. Nada mais simples: faz-se desaparecer.
Da Ponte dos Arcos, a minha geração tem grandes recordações. O desafio que era a passagem, a pé, por cima dos arcos, que tremiam com a passagem dos pesados; os mergulhos, com a maré a encher, para depois ir a nadar até ao cais do Luís Elvira.
Para a Ponte dos Arcos, porém, ainda não é tempo de recordação. Tem o destino traçado, é certo, mas ainda tem dois anos de vida pela frente.
Por vontade dos políticos, a Velha Ponte dos Arcos vai ser implodida.
A Cova e Gala da minha juventude era pequena e fluia melancólica, mas com um peculiar recolhimento afectivo.
Entretanto, cresce desmesuradamente. Vai, também e paradoxalmente, envelhecendo lentamente.
Por vontade dos políticos, vai-se tornando um subúrbio, que é onde passam a residir os expulsos da cidade.
A minha Terra está a morrer. Ou, antes, estão a roubar-lhe a alma, que é a mesma coisa que condená-la a desaparecer numa agonia desumana, lenta e dolorosa.
Que é o que estão a fazer à Ponte dos Arcos, para quem, por vontade dos políticos, a morte está anunciada a prazo! ...
As pessoas caminham, mas não tomam conhecimento umas das outras, vão perdendo a alma.
Devia ser proibido matar os locais onde fomos felizes! ...
Quando desaparecem, vai com eles parte do que fomos ...