"Soltem as areias", por Ana Oliveira
"Na Figueira da Foz nunca nada foi fácil e no que se refere à imagem da nossa cidade a história nunca relatou muitos consensos. A questão do areal urbano não é exceção, porque a solução para este espaço tem, seguramente, duas visões, bem distintas uma da outra.A primeira visão, da autoria do executivo socialista, teve a sua concretização mitigada em 2016. Uma solução a que se deu o nome pomposo de “Requalificação e valorização da frente mar e praia”. Projeto esperado com muita expectativa por todos os figueirenses, pois sendo a única obra do município, verdadeiramente pensada e idealizada, num valor que ultrapassou os dois milhões de euros seria, no mínimo, de impressionar os mais críticos!
Perante isto, qual foi, afinal, a solução encontrada pela Câmara Municipal? Será que a intenção foi fomentar o turismo? Só se for com a entrada para o recorde do Guiness do maior parque de merendas à beira mar da Europa, mas, para isso, convinha aumentar os bancos e mesas de cimento! Ou o intuito era a criação de riqueza através da atração de investimento e por sua vez criar postos de trabalho? Perante aquilo que é visto só me ocorre dizer que a intenção seria criar parcerias com empresas de fabrico de chapéus de sol ou de protetores solares. Confesso que desta solução milionária não vislumbro muito mais do que exponho!
A segunda visão para o areal urbano é valorizar a nossa praia e a nossa cidade. Sou defensora desta ideia e igualmente defensora de não “enterrar dinheiro na areia”. Neste sentido, nada melhor que a fase que atravessamos, onde se discute o Orçamento do Estado para, quem lidera os destinos do nosso concelho, pressionar e “influenciar” o governo central a definir e aumentar verbas especificas para uma estratégia global, estruturada que retarde e minimize os efeitos da erosão costeira e que sirva também, de uma vez por todas, para realizar o reclamado e prometido estudo para avaliar mecanismos de transposição de areias. No fim de contas, a solução é só uma: soltem as areias e devolvam-nos a bela Figueira de outros tempos!"
"Desafios em vez de soluções", por Ana Carvalho
"Normalmente, pedimos soluções para resolver problemas e situações negativas. Por isso, como princípio de conversa, esclareço, desde já, que não considero que o areal da praia da Figueira da Foz tenha de ser um problema ou algo negativo. Pelo que substituo a palavra solução por desafio.
E o primeiro grande desafio que se coloca aos figueirenses é mesmo a mudança de paradigma relativamente ao areal. Por que não passar a ver a dimensão do nosso areal como uma vantagem, largando de vez o saudosismo que tanto nos bloqueia? Ao contrário de quase todas as praias urbanas da Europa, a nossa tem um incrível areal que protege a cidade, com uso público, ganho ao domínio marítimo, pelas razões antrópicas que todos conhecemos. Mesmo no pico do verão, estando a decorrer em simultâneo um festival de música que nos traz 100 mil pessoas e um torneio mundial de râguebi, conseguimos estar descansadamente na nossa toalha a ler um livro ou a jogar à bola no areal com os nossos filhos. Isto não é um ponto forte!?
Segundo desafio, reconhecer o quanto o areal já é aproveitado e pode continuar a ser. Diariamente, vemos centenas de pessoas a caminhar ou a andar de bicicleta nas novas ciclovias e passadiços. Algo que vai incrementar, ainda mais, com a ajuda das Figas. Todos os anos, tem aumentado o número de eventos desportivos de praia, desde o râguebi, ao vólei, ao futevólei e ao futebol, sendo esta praia a casa da final da Euro Beach Soccer League. Terceiro desafio que lanço é à própria APA, para permitir os usos que gostaríamos de ver na praia. Desde colocar mais estabelecimentos de apoio à praia, desportivos e de lazer, percebendo, de uma vez por todas, que esta praia é, de facto, diferente de todas as outras.
Há, no entanto, outras praias no concelho que, essas sim, têm o grave problema de falta de areia e é para isso que tem de haver soluções: executar a retirada de três milhões de metros cúbicos de areia do norte do molhe norte e colocar nas praias a sul até à Leirosa, e definir, finalmente, a solução sistemática que garantirá a transposição de areias regular que evitará a erosão costeira a sul e o aumento do areal a norte. Aceitam os desafios?"
Nota via OUTRA MARGEM.
Como se optou por defender o acrescento do molhe norte, passados 10 anos, estamos precisamente como o meu velho Amigo Manuel Luís Pata previu: "as areias depositam-se na enseada de Buarcos, o que reduz a profundidade naquela zona, o que origina que o mar se enrole a partir do Cabo Mondego, tornando mais difícil a navegação na abordagem à nossa barra".
Por outro lado, o aumento do molhe levou, como Manuel Luís Pata também previu, "ao aumento do areal da praia, o que está a levar ao afastamento do mar da vida da Figueira".
E não foi por falta de avisos que foram cometidos tantos erros de planeamento territorial e urbanístico na na Figueira da Foz.
Voltando ao saudoso Mestre Manuel Luís Pata, também sempre uma das vozes discordantes do prolongamento do molhe norte. Um dia, já distante, em finais de janeiro de 2008, confessou-me: "ninguém ouve". “A Figueira nasceu numa paisagem ímpar. Porém, ao longo dos tempos, não soubemos tirar partido das belezas da Natureza, mas sim destruí-las com obras aberrantes. ”
Foram estes “Molhes” que provocaram a erosão das praias a sul da Figueira, e foi o “Molhe Norte” que originou a sepultura da saudosa “ Praia da Claridade”, a mais bela do país. Embora seja de conhecimento geral, quão nefasto foi a construção de tais molhes teimam em querer acrescentar o “Molhe Norte”, como obra milagrosa… "Santo Deus! Tanta ingenuidade e tanta teimosia!... Quem defende tal obra, de certo sofre de oftalmia ou tem interesse no negócio das areias!.."
Ah, pois é: ninguém o ouviu e agora temos as consequências...
Com tanta falta de areia a sul - e isso é problema... até foi permitido que a areia da Praia da Figueira fosse salvar praias espanholas:
"(…) Os que não conseguem lembrar o Passado estão condenados a ter que o repetir (…)"…
- George Santayana, 1905
"(…) Que os homens não aprendem muito com as lições da História é a mais importante de todas as lições que a História tem para ensinar (…)"…
- Aldous Huxley, 1959
"Na Figueira da Foz nunca nada foi fácil e no que se refere à imagem da nossa cidade a história nunca relatou muitos consensos. A questão do areal urbano não é exceção, porque a solução para este espaço tem, seguramente, duas visões, bem distintas uma da outra.A primeira visão, da autoria do executivo socialista, teve a sua concretização mitigada em 2016. Uma solução a que se deu o nome pomposo de “Requalificação e valorização da frente mar e praia”. Projeto esperado com muita expectativa por todos os figueirenses, pois sendo a única obra do município, verdadeiramente pensada e idealizada, num valor que ultrapassou os dois milhões de euros seria, no mínimo, de impressionar os mais críticos!
Perante isto, qual foi, afinal, a solução encontrada pela Câmara Municipal? Será que a intenção foi fomentar o turismo? Só se for com a entrada para o recorde do Guiness do maior parque de merendas à beira mar da Europa, mas, para isso, convinha aumentar os bancos e mesas de cimento! Ou o intuito era a criação de riqueza através da atração de investimento e por sua vez criar postos de trabalho? Perante aquilo que é visto só me ocorre dizer que a intenção seria criar parcerias com empresas de fabrico de chapéus de sol ou de protetores solares. Confesso que desta solução milionária não vislumbro muito mais do que exponho!
A segunda visão para o areal urbano é valorizar a nossa praia e a nossa cidade. Sou defensora desta ideia e igualmente defensora de não “enterrar dinheiro na areia”. Neste sentido, nada melhor que a fase que atravessamos, onde se discute o Orçamento do Estado para, quem lidera os destinos do nosso concelho, pressionar e “influenciar” o governo central a definir e aumentar verbas especificas para uma estratégia global, estruturada que retarde e minimize os efeitos da erosão costeira e que sirva também, de uma vez por todas, para realizar o reclamado e prometido estudo para avaliar mecanismos de transposição de areias. No fim de contas, a solução é só uma: soltem as areias e devolvam-nos a bela Figueira de outros tempos!"
"Desafios em vez de soluções", por Ana Carvalho
"Normalmente, pedimos soluções para resolver problemas e situações negativas. Por isso, como princípio de conversa, esclareço, desde já, que não considero que o areal da praia da Figueira da Foz tenha de ser um problema ou algo negativo. Pelo que substituo a palavra solução por desafio.
E o primeiro grande desafio que se coloca aos figueirenses é mesmo a mudança de paradigma relativamente ao areal. Por que não passar a ver a dimensão do nosso areal como uma vantagem, largando de vez o saudosismo que tanto nos bloqueia? Ao contrário de quase todas as praias urbanas da Europa, a nossa tem um incrível areal que protege a cidade, com uso público, ganho ao domínio marítimo, pelas razões antrópicas que todos conhecemos. Mesmo no pico do verão, estando a decorrer em simultâneo um festival de música que nos traz 100 mil pessoas e um torneio mundial de râguebi, conseguimos estar descansadamente na nossa toalha a ler um livro ou a jogar à bola no areal com os nossos filhos. Isto não é um ponto forte!?
Segundo desafio, reconhecer o quanto o areal já é aproveitado e pode continuar a ser. Diariamente, vemos centenas de pessoas a caminhar ou a andar de bicicleta nas novas ciclovias e passadiços. Algo que vai incrementar, ainda mais, com a ajuda das Figas. Todos os anos, tem aumentado o número de eventos desportivos de praia, desde o râguebi, ao vólei, ao futevólei e ao futebol, sendo esta praia a casa da final da Euro Beach Soccer League. Terceiro desafio que lanço é à própria APA, para permitir os usos que gostaríamos de ver na praia. Desde colocar mais estabelecimentos de apoio à praia, desportivos e de lazer, percebendo, de uma vez por todas, que esta praia é, de facto, diferente de todas as outras.
Há, no entanto, outras praias no concelho que, essas sim, têm o grave problema de falta de areia e é para isso que tem de haver soluções: executar a retirada de três milhões de metros cúbicos de areia do norte do molhe norte e colocar nas praias a sul até à Leirosa, e definir, finalmente, a solução sistemática que garantirá a transposição de areias regular que evitará a erosão costeira a sul e o aumento do areal a norte. Aceitam os desafios?"
Nota via OUTRA MARGEM.
Como se optou por defender o acrescento do molhe norte, passados 10 anos, estamos precisamente como o meu velho Amigo Manuel Luís Pata previu: "as areias depositam-se na enseada de Buarcos, o que reduz a profundidade naquela zona, o que origina que o mar se enrole a partir do Cabo Mondego, tornando mais difícil a navegação na abordagem à nossa barra".
Por outro lado, o aumento do molhe levou, como Manuel Luís Pata também previu, "ao aumento do areal da praia, o que está a levar ao afastamento do mar da vida da Figueira".
E não foi por falta de avisos que foram cometidos tantos erros de planeamento territorial e urbanístico na na Figueira da Foz.
Voltando ao saudoso Mestre Manuel Luís Pata, também sempre uma das vozes discordantes do prolongamento do molhe norte. Um dia, já distante, em finais de janeiro de 2008, confessou-me: "ninguém ouve". “A Figueira nasceu numa paisagem ímpar. Porém, ao longo dos tempos, não soubemos tirar partido das belezas da Natureza, mas sim destruí-las com obras aberrantes. ”
Foram estes “Molhes” que provocaram a erosão das praias a sul da Figueira, e foi o “Molhe Norte” que originou a sepultura da saudosa “ Praia da Claridade”, a mais bela do país. Embora seja de conhecimento geral, quão nefasto foi a construção de tais molhes teimam em querer acrescentar o “Molhe Norte”, como obra milagrosa… "Santo Deus! Tanta ingenuidade e tanta teimosia!... Quem defende tal obra, de certo sofre de oftalmia ou tem interesse no negócio das areias!.."
Ah, pois é: ninguém o ouviu e agora temos as consequências...
Com tanta falta de areia a sul - e isso é problema... até foi permitido que a areia da Praia da Figueira fosse salvar praias espanholas:
"(…) Os que não conseguem lembrar o Passado estão condenados a ter que o repetir (…)"…
- George Santayana, 1905
"(…) Que os homens não aprendem muito com as lições da História é a mais importante de todas as lições que a História tem para ensinar (…)"…
- Aldous Huxley, 1959
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