Nessas várias ocasiões, José Martins, o mestre da política e da escrita, foi-se dando a conhecer e eu a admirá-lo, nos seus animados discursos com a sua voz rouca e vigorosa e, também, com a sua verve, seu dinamismo intelectual, sua palavra precisa e contundente, sua cultura espantosa, ágil e bem fundamentada, seu espírito rigoroso e polémico que, se tanta admiração despertou, também inimizades e invejas açulou contra ele. A força do seu talento não deixava ninguém impassível: ou se lhe aderia totalmente ou se lhe opunha de maneira frontal. Essa, infelizmente, é a lei dos homens: o verdadeiro talento, por um lado atrai e deslumbra, por outro, incomoda e como que ameaça o equilíbrio reinante à sua volta. Como eu o compreendia muito bem...
Era um verdadeiro Homem de combate.
Mais tarde fundou o Jornal “Barca Nova”, de curta duração, publicação de esquerda no qual colaborei com muita honra.
Partiu muito cedo da nossa vida, mas há personalidades que resistem na nossa memória. José Martins é uma delas."
MANUEL CINTRÃO
Nota de rodapé.
As pessoas têm preço? As pessoas vendem-se?
É claro, é óbvio, é evidente que, quase todas, sim.
A começar pelo trabalho e a acabar naquilo em que estão a pensar, passando por uma miríade de situações.
Daí nunca poder esquecer a grande lição de vida, entre muitas outras, que o Zé, me deixou como herança: a verticalidade.
O Zé, para mim foi O Mestre.
Morreu em 28 de Abril de 2000.
Tinha nascido a 17 de Fevereiro de 1941.
Nome completo: José Alberto de Castro Fernandes Martins.
Para os Amigos, simplesmente o ZÉ.
Purista do verbo e do enredo no dissertar da pena, concebia o jornalismo como uma arte e uma missão nobre.
“Também a lança pode ser uma pena/também a pena pode ser chicote!”
Andarilho e contador de histórias vividas, passou em palavras escritas pelo Notícias da Figueira, Diário de Coimbra, Diário Popular, Jornal de Notícias, Diário de Lisboa, República, Opinião, Vértice, Mar Alto (de que foi co-fundador), Barca Nova (de que foi fundador e Director) e Linha do Oeste.
No associativismo passou pelo Ginásio Clube Figueirense e Sociedade Boa União Alhadense.
Lutador contra o regime deposto pelo 25 de Abril de 1974, teve ficha na PIDE.
Foi membro da Comissão Nacional do 3º. Congresso da Oposição Democrática que se realizou em 1969 em Aveiro.
Chegou a ser preso pela polícia política.
Com a sua morte, a Figueira perdeu uma parte do seu rosto.
Não a visível, mas a essencial.
Era crítico e exigente. Mas, ao mesmo tempo, bom, tolerante e solidário.
Mais de 18 anos depois da sua morte, quem manda na Figueira, a cidade que amou toda a vida, continua a ignorá-lo.
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