quarta-feira, 3 de maio de 2017

Como eu gosto de ficção

Gosto de pensar que o teu corpo nasce nas minhas mãos, tão rapidamente como uma frase que escrevo.
O teu corpo e as palavras fazem-me sair de casa, perder-me em sentidos, até que a angústia é tanta que só posso querer encontrar o caminho de regresso. Se te agarro com força, é por sentir medo.
Há sempre um momento, mesmo antes do sobressalto, em que a tua boca incha e eu rebento, em que as tuas mãos se abrem, os dedos despontam, e eu quase morro. Voltar a casa, amor, voltar a mim, à sala de todos os partos, é querer que cresças mais.
Um dia, há muitos anos, encontramo-nos, lembras-te?
Atravessávamos meridianos sempre que nos embriagávamos, mas, nesse dia, aproximaste-te de mim como se tivesses um radar e pudesses saber que eu existia. 
E, depois...
Olha, é possível que qualquer um de nós, já só esteja meio vivo, seja apenas meio humano...
Contudo,  agora que a água e o ar que respiramos nos transmite vida, quero que sejas tudo a inventar.
Deixa-me  acender-te. 
Agora, que sob a acção da luz da noite mudo de cor, deixa-me transformar-me...

1 comentário:

Carronda disse...

Sublime.
Continua e não terás descanso.