Em 1973, quando comecei a trabalhar oficialmente (trabalhar já trabalhava há alguns anos...), a pagar impostos e a descontar para a segurança social, a lei previa, salvo erro, que teria direito a aposentar-me ao fim de 30 anos de trabalho.
Se a matemática não é uma batata, deveria ter direito à reforma há doze anos, quando tinha 50.
Neste momento da minha vida, com uma carreira contributiva de 43 anos e com 62 de vida, ainda estou à espera de ser reformado.
Espero, por isso, que o Tribunal Constitucional tenha em conta as legítimas expectativas que criei e que, defendendo o princípio da protecção da confiança, impeça o Estado de me forçar à violência de me vir a sentir penalizado.
Ah: já agora, se não for pedir muito, aproveito para solicitar o reembolso dos cortes feitos no subsídio de desemprego, que deram cabo das legítimas expectativas que criei para a minha vida nos últimos três anos...
Que eu saiba, sempre fui um bom e cumpridor cidadão e bom português, merecedor, igualmente, de ser defendido no legítimo princípio de protecção de confiança...
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
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