sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

Vinte anos depois da morte do Zeca



(a partir das 22:30 a Antena 1 realiza uma emissão especial no Centro de Artes e Espectáculos da Figueira da Foz, onde Vitorino, Janita Salomé e ZéCarvalho cantarão canções do poeta)

José Afonso, uma referência cívica de Portugal, morreu faz hoje 20 anos.
Possivelmente, a sua música vai ouvir-se na rádio.
Possivelmente, haverá depoimentos na televisão.
Tudo isto, possivelmente, só hoje.
"E se não fossem as efemérides talvez nunca o ouvíssemos".
"José Afonso tornou-se igualmente incómodo antes e depois do 25 de Abril. É impossível pôr em causa a sua qualidade musical, por isso houve quem preferisse atacá-lo pelo lado político."
Mais próximo das utopias do que "das grandes tramóias políticas", José Afonso tornou-se inconveniente.
"Mesmo reconhecendo o seu valor, sabendo que ele tinha um sentido harmónico extraordinário e uma voz excelente."

Em 1987, José Afonso deixou-nos, vítima de doença incurável. Além de ser, juntamente com Adriano Correia de Oliveira, um dos mentores da canção de intervenção em Portugal e um baladeiro/compositor notável, soube conciliar a música popular portuguesa e os temas tradicionais com a palavra de protesto. Zeca trilhou, desde sempre, um percurso de coerência. Na recusa permanente do caminho mais fácil, da acomodação, no combate ao fascismo salazarento, na denúncia dos oportunistas, dos "vampiros" que destroçaram Abril, no canto da cidade sem muros nem ameias, do socialismo, da "utopia”.
Injustiçado por estar contra a corrente, morreu pobre e abandonado pelas instituições. Mas não temos dúvidas, a voz de "Grândola” perdurará para lá de todos os chacais.

"O Zeca foi injustiçado em vida e continua a ser muito injustiçado depois de morrer”.
Mas nem tudo é negativo: apesar de tudo, neste dia, o Zeca vai estar disperso pelo país.

4 comentários:

Anónimo disse...

Os sons de Zeca Afonso resistem ao tempo e adaptam-se aos géneros. Símbolo da liberdade, muitas vezes se viu confrontado com os problemas de quem quer gritar.
Ganhou muitos prémios e recusou outros, como o da ordem da liberdade, a mesma que insistiu em procurar fora dos galardões.
Faz agora 20 anos que morreu, vítima de esclerose, depois de vários anos a viver com a doença. Mas Zeca Afonso não foi efémero. Deixou legado. Por isso se tornou imortal.
Somos filhos da madrugada...porque não acordar e continuar os dias que o Zeca não pôde terminar.

Como José Afonso temos de trazer outro amigo também

“Amigo
Maior que o pensamento
Por essa estrada amigo vem
Não percas tempo que o vento
É meu amigo também

Em terras
Em todas as fronteiras
Seja benvindo quem vier por bem
Se alguém houver que não queira
Trá-lo contigo também

Aqueles
Aqueles que ficaram
(Em toda a parte todo o mundo tem)
Em sonhos me visitaram
Traz outro amigo também”

ANTÓNIO AGOSTINHO disse...

Lembras-te Pedro Biscaia, meu Amigo?
É memória. Com enganos e hesitações; dispersa, traiçoeira, imprevisível, esquecida, faz parte da nossa memória individual.
Lembras-te, daquela viagem às Caldas da Rainha, no teu velho DYANE, com o Zeca já debilitado fisicamente, para o ver actuar no Pavilhão?
Lembras-te porque fomos lá?
Porque saibamos que era uma das últimas hipóteses de ver o Zeca cantar ao vivo, pois já estava bastante doente...
Lembras-te, Pedro?...
Eu nunca mais esqueci.
Já lá vão tantos anos, mas aquele encontro com o Zeca, num recinto esgotado com milhares de pessoas, deixou marcas.
Que perduram.
Grande abraço, meu Amigo...

Anónimo disse...

José Afonso realizou uma obra intemporal.... que se vai manter viva para desassossego de muitos ...

Anónimo disse...

Também recordo, muitas vezes, essa ida às Caldas, como uma romagem de saudade antecipada de um tempo que findava assim, no esperado último acorde do Zeca.
E outras vidas, as nossas, que tomavam outros rumos, quebrando as âncoras que tínhamos lançado no mar da esperança! Mas, ciosos, guardamos a memória da utopia como um tesouro eterno...
Abraço A.J.A.