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quinta-feira, 2 de março de 2017

A Câmara andou 4 anos a falar do assunto e nada... Há pais que demoram 20 anos para fazer do seu filho um homem...

A Casa dos Pescadores de Buarcos foi vendida à Misericórdia - Obra da Figueira em 11 de Julho de 2014 
O presidente da Junta de Buarcos afirmou em 18 de julho de 2014, em declarações ao jornal AS BEIRAS que ficou “indignado” quando soube que a Casa dos Pescadores de Buarcos foi vendida à Misericórdia – Obra da Figueira.
O facto tinha sido tornado publico na edição do dia anterior do mesmo jornal: “a Misericórdia – Obra da Figueira comprou a Casa dos Pescadores de Buarcos, por 425 mil euros, ao Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social. As negociações começaram em novembro de 2013.”
Ouvido pelo jornal, o provedor da instituição particular de solidariedade social, Joaquim de Sousa, confirmou que os dois imóveis foram formalmente adquiridos no dia 11 desse mesmo mês de Julho de 2014.
Havia outros interessados, entre os quais a Junta de Buarcos, presidida por José Esteves, antigo marítimo. “Tanto quanto sei, houve alguns interessados, durante anos, mas foi mais conversa do que outra coisa. A nossa foi a primeira proposta concreta”, declarou ontem nas BEIRAS Joaquim de Sousa.
O valor dos imóveis resulta de uma avaliação feita pelas Finanças.
O terreno onde os dois edifícios foram construídos, com dois pisos e 700 metros quadrados, tem uma área de mil metros quadrados.
José Esteves, em declarações que o mesmo jornal insere na sua edição de hoje, afirma que “a Câmara da Figueira da Foz e a Junta de Buarcos fizeram uma proposta conjunta e fomos a Lisboa falar com o secretário de Estado, que nos garantiu que não tomaria uma decisão sem antes falar connosco”. E a terminar as declarações ao jornal AS BEIRAS, remata: “estou indignado por ter sabido da decisão através do jornal, quando as coisas estavam a ser tratadas a nível oficial. Este é um Governo prepotente que não quer saber do povo”.
Recorde-se, que desde o mandato anterior que José Esteves vinha manifestando interesse nos dois imóveis, vendidos agora por 425 mil euros, para onde pretendia transferir os serviços da junta e criar valências relacionadas com a comunidade piscatória local.

A venda da Casa dos Pescadores de Buarcos à Misericórdia - Obra da Figueira na reunião de Câmara de 21 de Julho de 2014...
A discussão deve ter sido interessante... Segundo o jornal AS BEIRAS, a Câmara Municipal da Figueira da Foz está manifestamente descontente com a forma como decorreu o processo que culminou com a venda da Casa dos Pescadores de Buarcos à Misericórdia – Obra da Figueira.
“Darei nota ao Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social do facto de não termos sido ouvidos sobre o processo de venda da Casa dos Pescadores de Buarcos, quando manifestámos interesse em adquirir a fracção”, afirmou o presidente da Câmara Municipal da Figueira da Foz, João Ataíde, na reunião da autarquia.
“Felizmente que apareceu a Misericórdia. Andam (leia-se executivo PS...) há quatro anos a falar nisto”, disse, por sua vez, o vereador da oposição Somos Figueira. Miguel Almeida perguntou ainda a João Ataíde: “o que mudaria se o instituto tivesse consultado a câmara?”
“Procuraria ver se era possível adquirir em prestações, consultar a junta de freguesia, avaliar investimentos, condicionar ou não o processo de venda”, respondeu o presidente da câmara.
“Fomos completamente defenestrados deste processo”, concluiu João Ataíde.

Nota de rodapé.
Ainda tenho uma curiosidade, que espero ver satisfeita em vida. Ainda só passaram quase 2 anos: quando é que João Ataíde torna público o resultado da queixa que apresentou ao ao Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social do facto de não terem sido ouvidos sobre o processo de venda da Casa dos Pescadores de Buarcos...

sexta-feira, 18 de julho de 2014

A Casa dos Pescadores de Buarcos foi vendida à Misericórdia - Obra da Figueira

O presidente da Junta de Buarcos afirma hoje em declarações ao jornal AS BEIRAS que ficou “indignado” quando soube que a Casa dos Pescadores de Buarcos foi vendida à Misericórdia – Obra da Figueira.
O facto tinha sido tornado publico na edição de ontem do mesmo jornal: “a Misericórdia – Obra da Figueira comprou a Casa dos Pescadores de Buarcos, por 425 mil euros, ao Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social. As negociações começaram em novembro de 2013.”
Ouvido pelo jornal, o provedor da instituição particular de solidariedade social, Joaquim de Sousa, confirmou que os dois imóveis foram formalmente adquiridos no dia 11 deste mês.
Havia outros interessados, entre os quais a Junta de Buarcos, presidida por José Esteves, antigo marítimo. “Tanto quanto sei, houve alguns interessados, durante anos, mas foi mais conversa do que outra coisa. A nossa foi a primeira proposta concreta”, declarou ontem nas BEIRAS Joaquim de Sousa.
O valor dos imóveis resulta de uma avaliação feita pelas Finanças.
O terreno onde os dois edifícios foram construídos, com dois pisos e 700 metros quadrados, tem uma área de mil metros quadrados.
José Esteves, em declarações que o mesmo jornal insere na sua edição de hoje, afirma que “a Câmara da Figueira da Foz e a Junta de Buarcos fizeram uma proposta conjunta e fomos a Lisboa falar com o secretário de Estado, que nos garantiu que não tomaria uma decisão sem antes falar connosco”. E a terminar as declarações ao jornal AS BEIRAS, remata: “estou indignado por ter sabido da decisão através do jornal, quando as coisas estavam a ser tratadas a nível oficial. Este é um Governo prepotente que não quer saber do povo”.
Recorde-se, que desde o mandato anterior que José Esteves vinha manifestando interesse nos dois imóveis, vendidos agora por 425 mil euros, para onde pretendia transferir os serviços da junta e criar valências relacionadas com a comunidade piscatória local.

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Escola do Mar já não irá para as instalações da antiga Casa dos Pescadores de Buarcos

A Escola do Mar, que o Instituto Politécnico de Coimbra (IPC) vai instalar na Figueira da Foz, já não ocupará as instalações da antiga Casa dos Pescadores de Buarcos. A Misericórdia-Obra da Figueira, proprietária do imóvel, candidatou a parte dianteira do complexo, para onde estava prevista a instalação do estabelecimento de ensino,  a outra utilização, que foi aprovada. 
Entretanto, como alternativa àquele espaço do edifício, a instituição ofereceu-se para disponibilizar a parte traseira, mas o IPC não aceitou. “Estamos à procura de outro lugar com outra dignidade e visibilidade, porque fi car na parte detrás não seria o ideal”, declarou ao DIÁRIO AS BEIRAS Pedro Costa, presidente do Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Coimbra (ISCAC), instituição de ensino agregada ao IPC que iniciou o processo. No entanto, salvaguardou que a Misericórdia manifestou disponibilidade para continuar a colaborar. Pedro Costa garantiu, contudo, que a Escola do Mar vai ser instalada na Figueira da Foz, devendo representar o início do regresso do ensino superior regular à cidade. Por outro lado, afiançou ainda o presidente do ISCAC, os cursos de pós-graduações programados para outubro estão assegurados. Aliás, aquela oferta pedagógica na Praia da Claridade mantém-se há vários anos, em diversos espaços da cidade.
Também contactado pelo DIÁRIO AS BEIRAS, o provedor da Misericórdia-Obra da Figueira, Joaquim de Sousa, recusou-se a prestar declarações sobre o assunto. No entanto, fonte próxima da instituição afiançou a este jornal que “foi assinado o protocolo de intenções com o IPC, num ato que foi público, mas o mesmo não aconteceu com o contrato de comodato”. E acrescentou: “Foi pela demora que se apresentou a candidatura ao Fundo Rainha Dona Leonor para parte da Casa dos Pescadores”. A Misericórdia-Obra da Figueira candidatou-se àquele fundo para instalar na Casa dos Pescadores de Buarcos a Pousada Nossa Senhora dos Navegantes, cujas obras arrancam em breve, estando o processo na fase de concursos públicos para as especialidades da empreitada. O hostel terá capacidade para 14 quartos e duas camaratas e um total de 30 hóspedes. A unidade hoteleira deverá abrir em 2019." 

Via AS BEIRAS

quarta-feira, 12 de abril de 2023

Casa dos Pescadores de Buarcos pode vir a ser adquirida pela Câmara

Tal como, via  Campeão das Províncias demos ontem notícia,  o presidente da câmara, Santana Lopes visitou a Misericórdia-Obra da Figueira, a convite do provedor, Joaquim de Sousa. A acompanhar Santana Lopes estiveram os vereadores Olga Brás e Manuel Domingues.

Em representação da autarquia Santana Lopes disse ser uma «visita de trabalho, respeito e admiração com a Instituição com história na Figueira da Foz» e  manifestou vontade de  fazer uma «proposta de colaboração» respeitando todos os valores da cidade e o trabalho feito pelo seu Provedor, um Homem que já foi presidente da Câmara Municipal e desempenhou muitas outras funções administrativas, «sempre com o sentido de procurar o melhor para a Figueira da Foz».

A edição de hoje do Diário as Beiras dá conta que  "na reunião de trabalho, ainda que de forma informal, foi abordada a possibilidade de o município poder vir a adquirir a Casa dos Pescadores de Buarcos, propriedade da instituição.

Para ver melhor, clicar em cima da imagem

«Pode ser importante para os projetos [do executivo camarário] que existem. Primeiro gostava de ir lá. Pode ter interesse. Conversarei com o senhor provedor sobre as hipóteses que se podem levantar e que até admitam um qualquer tipo de colaboração entre as duas instituições», disse Santana Lopes aos jornalistas.

Recorde-se que a Casa dos Pescadores de Buarcos foi adquirida em 2014 por cerca de 450 mil euros. Entretanto, teve obras, tendo em vista a instalação de um equipamento social. Segundo o Diário as Beiras, "será vendido por mais de um milhão de euros, sem mais-valias. As dificuldades com que as instituições particulares de solidariedade social se deparam lavaram a instituição a admitir alienar aquele património."

Santana Lopes frisou, no entanto, que «a câmara tem muitas solicitações e tem uma capacidade de endividamento limitada». E acrescentou: «Não quero dar razões para que digam, no futuro, por uma razão ou por outra, que a câmara não está equilibrada». Sublinhou, porém, que a «área social é prioritária».

«Como diz o senhor provedor, as misericórdias têm sofrido muito com estes anos que temos atravessado. Não é a câmara que tem de socorrer, mas pode cooperar e colaborar. Nós, câmara, temos o dever, e neste caso também o gosto, de ajudar a promover esse trabalho conjunto», disse ainda Santana Lopes.

Segundo o Diário as Beiras, "o município tem prioridade em relação aos diversos interessados na compra do imóvel.

Questionado sobre até quando a instituição vai esperar pela resposta da autarquia, Joaquim de Sousa, respondeu que «a câmara já sabe isso, já lhe foi transmitido». Quanto ao valor da venda, o provedor optou por não avançar com «números que estão falados, mas não estão consolidados."

terça-feira, 22 de julho de 2014

A venda da Casa dos Pescadores de Buarcos à Misericórdia - Obra da Figueira na reunião de Câmara...

A discussão deve ter sido interessante... Segundo o jornal AS BEIRAS, a Câmara Municipal da Figueira da Foz está manifestamente descontente com a forma como decorreu o processo que culminou com a venda da Casa dos Pescadores de Buarcos à Misericórdia – Obra da Figueira.
“Darei nota ao Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social do facto de não termos sido ouvidos sobre o processo de venda da Casa dos Pescadores de Buarcos, quando manifestámos interesse em adquirir a fracção”, afirmou o presidente da Câmara Municipal da Figueira da Foz, João Ataíde, ontem, na reunião da autarquia.
“Felizmente que apareceu a Misericórdia. Andam (leia-se executivo PS...) há quatro anos a falar nisto”, disse, por sua vez, o vereador da oposição Somos Figueira. Miguel Almeida perguntou ainda a João Ataíde: “o que mudaria se o instituto tivesse consultado a câmara?”
“Procuraria ver se era possível adquirir em prestações, consultar a junta de freguesia, avaliar investimentos, condicionar ou não o processo de venda”, respondeu o presidente da câmara.
“Fomos completamente defenestrados deste processo”, concluiu João Ataíde.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

COVA-GALA, SEMPRE!


Por impossibilidade pessoal, não tive oportunidade de assistir “in locco”, à Assembleia de Freguesia de São Pedro, que se realizou na passada segunda-feira. Todavia, já tive oportunidade de me informar sobre o que lá aconteceu, quer por troca de impressões informal com participantes na reunião, quer pela leitura deste post do Pedro Cruz e respectivos comentários publicados.

“Carlos Simão, presidente da Junta de Freguesia de S. Pedro, há 16 anos, disse no decorrer da Assembleia de Freguesia, ontem realizada, esta coisa absolutamente extraordinária: “Cova-Gala não existe em lado nenhum". Segundo o mesmo, “Cova-Gala é um nome interno, ou seja, não existe em lado nenhum. O que existe é Freguesia de S. Pedro da Figueira da Foz."E, a dado passo da ordem dos trabalhos, talvez, quem sabe, por mera manobra de diversão, afirma: “fala-se de tudo e não se fala do que realmente importa, os líderes de 1979 é que mataram a Cova-Gala.”

Fiquei pasmado, ao ter conhecimento desta frase do senhor presidente da junta: como é que se pode matar o que, segundo ele, nunca “existiu em lado nenhum”?...

Vamos, então, avivar a memória, sobre o que se passou há cerca de 40 anos na Cova e na Gala, via site do GRUPO DESPORTIVO COVA-GALA:

Estávamos em 1969. A rivalidade entre as povoações de Cova e Gala era bastante acentuada. Os Evangélicos, através do pastor Esperança chamavam a estas povoações de "Cova da Gala", o que foi continuado pelo Reverendo João Neto.

Nesta altura o Desportivo Clube Marítimo da Gala tinha acabado de perder o seu campo de futebol. A Câmara Municipal da Figueira da Foz tinha vendido o terreno, onde este se encontrava, á TERPEX.

Dois directores (José Vidal e Manuel Afonso Baptista) do Desportivo Clube Marítimo da Gala - Centro de Recreio Popular Nº72 - resolveram ir à Direcção Geral das Florestas e pedir ao sr. Engenheiro Gravato a cedência duma fábrica em ruínas que existia no Cabedelo. O sr. Eng. Gravato disse-lhes que podiam fazer o campo nessas instalações velhas, mas que teriam também de pedir a alguém na Casa dos Pescadores de Buarcos, visto eles se intitularem com direitos à dita fábrica.

Juntaram-se a estes dois directores mais alguns elementos, tais como Manuel Curado, Inácio Pereira e outros ligados ao sector da pesca. Atendidos pelo sr. Tomás, este disse estar na disposição de ceder as instalações, tanto mais que ambas as entidades as reclamavam para si e assim a partir dessa data ficariam para as povoações de Cova-Gala.

Estando este caso esclarecido, foi então feito um peditório pela povoação para o aluguer duma máquina de terraplanagem, a qual serviu também para o início da abertura duma ligação à praia da Cova (hoje Rua do Mar) e outros caminhos. Os primeiros montes de solão, cedidos pelo sr. Manuel Paralta (padeiro) vieram de Lavos, trazidos por batéis para a borda do rio e dali carregado para o campo de futebol.

Era o princípio do fim da rivalidade que existia entre a Cova e a Gala. Foram tempos difíceis para se avançar com a feitura do campo. O solão não havia em abundância e o saibro também não estava muito em uso. Foi preciso esperar mais alguns anos, até que alguém, com vontade férrea de vencer estas rivalidades fez vingar a ideia da vivência pacifista. Foram eles, os fundadores do Grupo Desportivo Cova-Gala. Foram eles, que mais do que construir um campo e uma equipa de futebol, tinham em mente a unificação total destas duas povoações.

O DESPERTAR DE UM SONHO

Estávamos em 1969. A rivalidade entre as povoações de Cova e Gala era bastante acentuada. Os Evangélicos, através do pastor Esperança chamavam a estas povoações de "Cova da Gala", o que foi continuado pelo Reverendo João Neto.

Nesta altura o Desportivo Clube Marítimo da Gala tinha acabado de perder o seu campo de futebol. A Câmara Municipal da Figueira da Foz tinha vendido o terreno, onde este se encontrava, á TERPEX.

Dois directores (José Vidal e Manuel Afonso Baptista) do Desportivo Clube Marítimo da Gala - Centro de Recreio Popular Nº72 - resolveram ir à Direcção Geral das Florestas e pedir ao sr. Engenheiro Gravato a cedência duma fábrica em ruínas que existia no Cabedelo. O sr. Eng. Gravato disse-lhes que podiam fazer o campo nessas instalações velhas, mas que teriam também de pedir a alguém na Casa dos Pescadores de Buarcos, visto eles se intitularem com direitos à dita fábrica.

Juntaram-se a estes dois directores mais alguns elementos, tais como Manuel Curado, Inácio Pereira e outros ligados ao sector da pesca. Atendidos pelo sr. Tomás, este disse estar na disposição de ceder as instalações, tanto mais que ambas as entidades as reclamavam para si e assim a partir dessa data ficariam para as povoações de Cova-Gala.

Estando este caso esclarecido, foi então feito um peditório pela povoação para o aluguer duma máquina de terraplanagem, a qual serviu também para o início da abertura duma ligação à praia da Cova (hoje Rua do Mar) e outros caminhos. Os primeiros montes de solão, cedidos pelo sr. Manuel Paralta (padeiro) vieram de Lavos, trazidos por batéis para a borda do rio e dali carregado para o campo de futebol.

Era o princípio do fim da rivalidade que existia entre a Cova e a Gala. Foram tempos difíceis para se avançar com a feitura do campo. O solão não havia em abundância e o saibro também não estava muito em uso. Foi preciso esperar mais alguns anos, até que alguém, com vontade férrea de vencer estas rivalidades fez vingar a ideia da vivência pacifista. Foram eles, os fundadores do Grupo Desportivo Cova-Gala. Foram eles, que mais do que construir um campo e uma equipa de futebol, tinham em mente a unificação total destas duas povoações.

Pois é, Cova-Gala pode ser, como diz o senhor presidente da junta, um nome interno, mas que apareceu naturalmente como uma necessidade do Povo da Cova e da Gala, sendo, por isso, facilmente assimilado como património natural e histórico dos descendentes dos ilhavenses – os verdadeiros fundadores da Cova, primeiro, e, cerca de 40 depois, da Gala.

Agora, Vila de São Pedro, uma criação oportunista de políticos, de fora e de dentro da Cova-Gala, é que não vai, de certeza, ser assimilada, e naturalmente aceite, como património natural e histórico dos descendentes dos ilhavenses – os verdadeiros fundadores da Cova, primeiro, e, cerca de 40 depois, da Gala.

Quanto a isso, senhor presidente da junta de São Pedro, eu, como um dos inconformados, estou completamente descansado.

Agora, há que continuar a lutar para repor aquilo que é o património natural e histórico dos descendentes dos ilhavenses – os verdadeiros fundadores da Cova, primeiro, e, cerca de 40 depois, da Gala.
Portanto, senhor presidente da junta de Freguesia de São Pedro: Cova-Gala, sempre! A luta pela reposição da verdade histórica vai, naturalmente, continuar.

sábado, 15 de abril de 2023

O Museu do Mar e a Casa dos Pescadores de Buarcos

Da série, Museu do Mar (continuação)...

Em Fevereiro de 2020, tivemos alguns episódios desta série: "que local propõe para a instalação do museu do mar?"
Em Fevereiro de 2022, tivemos em cena novos  episódios desta mesma série: "a Figueira devia ter um Museu do mar?"
Há aqui qualquer coisa fora de tempo: em 2022 questionou-se se "a Figueira deve ter um Museu do mar?"
Então porque é que, em 2020, dois anos antes, se queria saber o local onde deveria ser instalado, se ainda havia dúvidas se a Figueira deve ter um Museu do mar!..

Em Abril de 2023, a Figueira tem um Núcleo Museológico do Mar, sediado em Buarcos, inaugurado a 29 de maio de 2003, pelo então Presidente da República, Dr. Jorge Sampaio

"Esta unidade museológica nasceu da necessidade - há muito sentida - de recuperar e divulgar algumas das principais memórias históricas e práticas piscatórias mais identificativas das comunidades da orla costeira do concelho da Figueira da Foz."

Todavia, quem o visitou, sabe que aquilo não representa praticamente nada da importância que o mar tem no passado do nosso concelho.

A Figueira merece um Museu do Mar tematicamente adequado, para uma cidade de tantas tradições marítimas. Existem possibilidades de uma parceria entre a Câmara e o CEMAR e a disponibilidade de apoios de várias entidades, entre as quais a Marinha Portuguesa.

O nosso Museu do Mar, se alguma vez chegar a existir, deveria contar as vidas das mulheres e dos homens que viveram do rio, do mar junto à costa portuguesa e dos que se aventuram na faina maior. Contudo, o nosso Museu do Mar teria de contar também a história da fauna e da flora marítima da nossa faixa costeira e a história da actividade industrial e comercial que a Figueira teve com o aproveitamento do mar. 

Existe um projecto, cujo "guião temático e plano de conteúdos, teórico e conceptual, está desde o dia 13 de Setembro de 2018 formalmente entregue pelo Centro de Estudos do Mar à Câmara Municipal da Figueira da Foz (o seu teor textual e iconográfico foi divulgado publicamente...), e que, desde então, ficou bem guardado, em alguma gaveta, pelo respectivo funcionalismo público de "Cultura" e respectivos eleitos político-partidários, ao seu serviço."

Ao que foi denunciado na altura por parte do CEMAR, no tempo da presidência de Carlos Monteiro, houve quem metesse "pedrinhas na engrenagem" ao desenvolvimento do projecto entregue "formalmente em 13 de Setembro de 2018, depois  do desaparecimento do anterior Presidente da CMFF, com quem essa parceria havia sido tratada)."

Chegados aqui, vamos ao que interessa: não seria a Casa dos Pescadores de Buarcos um local interessante a ter em conta para a instalação do futuro Museu do mar da Figueira da Foz de que tanto se tem falado nas últimas décadas?

Imagem via Diário as Beiras

terça-feira, 25 de agosto de 2020

CELEBRAR O DIA 24 DE AGOSTO E O LIBERALISMO, CONTRA O FEUDALISMO, NA FIGUEIRA DA FOZ DO MONDEGO

«O dia de hoje, 24 de Agosto, é um dia muito especial. Não somente por outras razões — e a menor delas não é seguramente o facto de ser o dia, de marés vivas (antigamente), que em Portugal é considerado como sendo "o dia de São Bartolomeu" ou "dia em que o Diabo anda à solta"… e por causa disso em São Bartolomeu do Mar, em Ponta da Barca, e em outros locais, as comunidades marítimas e fluviais o festejarem especialmente com rituais antiquíssimos que fazem parte da Cultura Popular Marítima Portuguesa — mas também porque esta data de 24 de Agosto é a data em que neste país ocorre a efeméride da revolução de 24 de Agosto de 1820… através da qual foi aqui instalado o Liberalismo, e assim se começaram a dar os primeiros passos decisivos (que, depois, ainda iriam ser muito demorados, dolorosos, e incompletos), para a ultrapassagem daquele que, desde sempre, e para sempre, foi, é, e continua a ser, o principal problema estrutural deste país que se chama Portugal, e da sua História: o Feudalismo… O regime senhorial-feudal caracterizado pelo senhorialismo económico monopolista e provinciano, pela feudalização jurídico-política, de tipo local, autenticamente vassálico, e que, muitas vezes, anedoticamene, ou tragicamente, chega a situações extremas, e ridículas, de caciquismo mafioso.

   
O senhorialismo feudal, típico do "Antigo Regime", desde a Idade Média, e que, neste país, secularmente periférico e subdesenvolvido, mesmo depois dessa revolução de 1820, tem deixado resquícios que têm demorado demais para serem totalmente ultrapassados.

E, hoje, 24 de Agosto de 2020, não se celebra só uma efeméride qualquer e igual a todas as outras, nos outros anos, rotineiramente (não é também somente a data do nascimento do grande escritor mundial, o argentino, de origem portuguesa, Jorge Luis Borges). Hoje, em 2020, celebram-se os duzentos (200) anos do 24 de Agosto de 1820.

E portanto o CEMAR (Centro de Estudos do Mar), com sede na Figueira da Foz do Mondego — embora sempre primacialmente vocacionado para outras matérias, de História e de Património Histórico Marítimo, que não as da História Política portuguesa e metropolitana — não poderia nunca deixar de aqui recordar esta data especialmente significativa, pois ninguém ignora, nem deve ignorar, que nessa revolução de 1820, e na consequente instauração do Liberalismo em Portugal, desempenhou um papel determinante um homem notável provindo desta cidade da Foz do Mondego, o jurista Manuel Fernandes Tomás. Como mostrou o Asssociado Honorário do CEMAR Capitão João Pereira Mano, no livro "Terras do Mar Salgado" que foi editado pela nossa associação científica, a família de Manuel Fernandes Tomás era uma família dos ambientes marítimos e comerciais da Figueira da Foz (vide Cap. João Pereira Mano, Terras do Mar Salgado. São Julião da Figueira da Foz - São Pedro da Cova-Gala - Buarcos - Costa de Lavos e Leirosa, Figueira da Foz: CEMAR, 1997).
   
É mesmo uma curiosa e significativa coincidência o facto de, na História de Portugal, para a afirmação da nacionalidade livre e responsável (o que, hoje, numa República, chamamos "a cidadania") — para a construção do Estado e para a reforma da sociedade no sentido da modernização e do Futuro (no foro decisivo, que é o jurídico-político e constitucional) —, terem tido reflexões teoréticas estruturantes, e papéis políticos determinantes, a quase quatro séculos de distância (!),  duas figuras históricas que, por acaso, se deu a coincidência de terem estado ambas ligadas a esta região, aberta, comercial e progressiva: no século XV o Infante Dom Pedro (1392-1449), Duque de Coimbra e Senhor de Buarcos, Montemor, etc., que governou o país e mandou promulgar as decisivas (civil e "constitucionalmente""Ordenações Afonsinas" de 1446; e no século XIX o jurista Manuel Fernandes Tomás (1771-1822), que nasceu na Figueira da Foz e foi um dos principais obreiros da decisiva (civil e "constitucionalmente") revolução de 1820.
   
O  primeiro foi o verdadeiro responsável não só pela reflexão filosófica e politológica pessoal que ficou consignada no "Livro da Virtuosa Benfeitoria" de c.1431 mas também pela pioneira e fundacional organização jurídica, sistemática e colectiva, que ficou consignada nas primeiras "Ordenações", em 1446; e o segundo, para além da sua acção organizativa e política, e ainda antes dela, foi também um jurisconsulto apontado para a modernização e racionalização do ordenamento jurídico português, e por isso o autor que produziu o "Repertorio geral ou índice alphabetico das leis extravagantes do reino de Portugal, publicadas depois das ordenações, comprehendendo também algumas anteriores que se acham em observância", em 1815.
   
Ambos por isso merecem ser evocados especialmente nesta cidade da Foz do Mondego (e têm-no sido), e os seus exemplos podem e devem ser aproximados (e ainda não o foram suficientemente), e é isso que, pela parte do CEMAR, hoje, aqui, se está a fazer. O exemplo de Fernandes Tomás, que a partir do Porto preparou uma revolução, e deu um futuro ao país, tem sido recordado, em termos cívicos e políticos, por quem tem obrigação de o recordar; e a figura do malogrado Infante Senhor de Buarcos que foi assassinado em Alfarrobeira, às portas de Lisboa (e, nessa ocasião, não por acaso, tinha aí consigo os Pescadores de Buarcos), tem sido sobretudo evocada pelo CEMAR (como nos compete, por sermos uma associação científica local apontada para o Património Cultural Marítimo desta região da Beira Litoral e Foz do Mondego).

Neste ano de 2020 — no ano que é, em números redondos, dos dois séculos da revolução e da Constituição Liberal de 1820 — espera-se que, portanto, sejam possíveis as celebrações, verdadeiramente significativas, que ainda venham a poder ser feitas, no decorrer do ano, e até ao seu fim, na sua cidade da Figueira da Foz, do jurisconsulto e homem político que aqui nasceu em 1771. Ao que parece, infelizmente, não veio a concretizar-se a ideia que havia sido proposta numa conferência de S.E. o Presidente do Supremo Tribunal de Justiça, realizada no Salão Nobre da Câmara Municipal da Figueira da Foz, promovida pelo seu anterior Presidente de Câmara (um jurista nascido nesta mesma cidade em que veio a ser autarca, depois de ser Juiz Desembargador no Tribunal da Relação de Coimbra, o Exº Senhor Dr. João Ataíde, entretanto precocemente falecido): a ideia de que esta cidade natal de Fernandes Tomás tomasse a dianteira, caminhasse nesse sentido, e trabalhasse para isso, e assim fosse a cidade em que viessem a ser centralizadas celebrações verdadeiramenete nacionais, e significativas, da figura do "Patriarca da Liberdade”.

Pela parte da nossa pequena associação científica privada — que nisso não poderia nunca ter especiais responsabiidades, ou capacidades, pela exiguidade dos nossos recursos (sempre sem querer receber e gastar dinheiro público) e por não ser essa a nossa vocação estatutária — aquilo que desde há muito temos praticado, e consideramos a nossa própria celebração do Liberalismo oitocentista, estando sediados na Figueira da Foz, foi a publicação (e a distribuição, gratuita, e generalizada, oferecidos a quem quer que no-los peça) dos dois grossos e sólidos volumes (tão grandes em dimensão quanto em qualidade, erudição, e interesse) da obra do nosso querido e saudoso associado Professor Hélio Osvaldo Alves, professor catedrático da Universidade do Minho, doutorado pelo University College da Universidade de Londres, presidente da Associação Portuguesa de Estudos Anglo-Americanos, etc., e que tivemos o prazer e a honra de ter como segundo presidente da Assembleia Geral do Centro de Estudos do Mar (sucedendo nessas funções ao também saudoso Dr. Luís de Melo Biscaia, vereador da Cultura da Câmara Municipal da Figueira da Foz, entretanto também ele já falecido).

A distribuição, gratuita e desinteressada, que desde há anos fazemos (e vamos continuar a fazer, para quem no-los peça) desses dois importantes volumes sobre História do século XIX que o CEMAR invulgarmente editou na Figueira da Foz (e que são, na carteira editorial global das dezenas de edições do CEMAR, algo de verdadeiramente único e excepcional, por não dizerem especialmente respeito à vocação estatutária desta associação apontada para o Mar e a História Marítima) é a nossa maneira de celebrarmos o Liberalismo oitocentista (a Revolução Francesa, e os seus reflexos em toda a Europa, em Portugal, e até mesmo em Inglaterra).

Estes volumes ainda hoje continuam a ser oferecidos a partir da Figueira da Foz.

A outra forma através da qual o CEMAR vai prestar o seu contributo para a celebração do Liberalismo, na Figueira da Foz, neste ano emblemático de 2020, vai ser através da manutenção do Encontro do Mar (embora, devido à pandemia da Covid 19, em teleconferência e emissão telemática, e não ao vivo e com público presente) que estava previsto, na culminação do ano, e na culminação dos Encontros do Mar, para o dia 12 de Dezembro de 2020, com o Professor José Adelino Maltez (do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa), sob o tema "(Re)Pensar a Regeneração de Há Duzentos Anos (1820-2020).

A celebração da memória do Progresso, desde a Idade Média — e o resgate da "maldição" dessa "memória" — têm sido, desde há vinte e cinco anos, um combate do Centro de Estudos do Mar nesta cidade da Figueira da Foz; e no que diz respeito à figura medieval do Regente da Coroa de Portugal que foi Senhor de Buarcos e deu a Portugal o seu primeiro código sistemático de leis — um momento, fundacional, da construção do Estado Português, contra o Feudalismo — esse combate vai continuar a ser travado, para futuro, no âmbito do processo para a definitiva e inadiável criação do Museu do Mar da Foz do Mondego nesta cidade. Um processo que, no entanto, continua numa situação incompreensível, sem que acerca dele existam quaisquer desenvolvimentos, pelos quais se continua a aguardar.

O combate pelo Progresso e pelo Futuro, nas regiões da Beira Litoral do antigo Ducado de Coimbra do Infante Dom Pedro e do seu neto e herdeiro político, o "Príncipe Perfeito" Dom João II (a quem o cronista chamou, logo no século XV, "próprio e verdadeiro coração da república"), é um combate que o CEMAR faz desde a sua fundação, em 1995, com a publicação, logo nesse primeiro ano, do livro de Alfredo Pinheiro Marques, A Maldição da Memória do Infante Dom Pedro e as Origens dos Descobrimentos Portugueses (Figueira da Foz: CEMAR, 1995).

Os inimigos desse Progresso e desse Futuro são aqueles que, desde o princípio, nos séculos XV-XVI, sempre o foram (e já se instalaram cá na Beira Litoral para isso mesmo, para asfixiar estas regiões). Os seus expoentes principais são o senhorialismo, de tipo eclesiástico (mesmo quando dito "pós-moderno"… e sempre hipocritamente "intelectual"), da Universidade que foi trazida de Lisboa, juntamente com a criação da Inquisição, em 1536-1537, precisamente para asfixiar política e culturalmente, e oprimir económica e socialmente, estas regiões da Beira Litoral (intitulando-se, desde então, com o nome de "Universidade de Coimbra", e ao longo dos séculos seguintes semeando a ignorância, o reaccionarismo e a hipocrisia à sua volta), e o senhorialismo feudal e nobiliárquico de um ramo colateral da Casa de Bragança, o dos Duques de Cadaval (Condes de Tentúgal e Marqueses de Ferreira), que, desde o século XVI, foram instalados em Tentúgal e em Buarcos precisamente para asfixiarem todas estas regiões da Beira Litoral que haviam sido do Ducado de Coimbra, e ao longo dos séculos seguintes o fizeram sempre. E por isso não é de admirar que, depois, nas décadas iniciais do século XIX, essas duas entidades senhoriais e feudais, a Universidade dita "de Coimbra", instalada no antigo Paço da Alcáçova onde havia vivido o Infante Dom Pedro, e os Duques de Cadaval instalados no Paço de Tentúgal onde também havia vivido o autor da "Virtuosa Benfeitoria", fossem regionalmente os dois expontes máximos do reaccionarismo absolutista, caceteiro, e boçal, que em nome do Feudalismo tentou impedir o advento do Liberalismo em Portugal.

Os Duques de Cadaval, latifundiários e feudais em pleno século XIX, e por isso odiados pelas populações locais (quer pelos camponeses de Tentúgal, quer pelos pescadores de Buarcos), foram por fim desalojados pelo triunfo do  Liberalismo, e o antigo Paço do Infante Dom Pedro em Tentúgal (que ocupavam desde há três séculos!), por ser seu, incendiado pelas populações.

O outro exponte regional do Absolutismo caceteiro e reaccionário, a Universidade trazida de Lisboa juntamente com a criação da Inquisição em 1536-1537, e desde então já instalada em Coimbra desde há mais de dois séculos, e por isso auto-intitulando-se com o nome, abusivo e erróneo, de "Universidade de Coimbra", teve por fim nas primeiras décadas do século XIX que se conformar com o triunfo do Liberalismo que não conseguiu impedir (nem ela, nem o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra… ao qual, desde o princípio, sempre esteve umbilicalmente ligada, pela hipocrisia clerical e pela ignorância doutoral, apropriando-se ambos do nome da "Sophia" do Infante Dom Pedro, e a partir de Coimbra se digladiando feudalmente e judicialmente pela posse dos senhorios económicos da Beira Litoral, desde o castelo de Buarcos até Leiria, etc.).

E assim essa Universidade continuou pelo século XIX adiante, para na sua segunda metade sobre ela ser dito o que havia para ser dito, como merecia, por Antero de Quental e Eça de Queirós. E pela célebre frase, habitualmente atribuída a Guerra Junqueiro, sintetizando tudo.

O que essa Universidade continuou a fazer sempre — não por acaso… (e, assim, cobrindo-se de ridículo…) — foi continuar a ensinar, nos bancos das suas aulas de História e de Direito, ainda em pleno século XX (praticamente até à data de 25 de Abril de 1974…!), a curiosíssima concepção, tão reveladora, de que "em Portugal nunca existiu o Feudalismo"… [sic]…  Era, e continuou a ser, para sempre, a Universidade em que, em pleno século XX, a História poderia vir a ser ensinada, e dirigida (como veio), por alguém como Torquato de Sousa Soares…

Trata-se, aqui, em tudo isto (que é a História de Portugal…), de facto, da questão, de sempre, do Feudalismo e do Liberalismo. E, agora, estamos em 2020, duzentos anos depois.»

sábado, 2 de agosto de 2014

Casa dos Pescadores de Buarcos entregue à Misericórdia


Há duas semanas, segundo li no jornal AS BEIRAS de hoje - edição impressa -,os presidentes da Câmara da Figueira da Foz e da Junta de Buarcos, João Ataíde e José Esteves, foram surpreendidos com a notícia da venda, queixando-se da atitude da tutela, por não ter informado as duas autarquias. 
Lembre-se que há vários anos estas entidades manifestavam interesse na aquisição deste património histórico, para onde pretendiam transferir a Junta de Buarcos e outros serviços.
Joaquim de Sousa (o Provedor da Misericórdia - Obra da Figueira) afirmou ao jornal as Beiras, que até 15 de julho deste ano, não haviam sido formalizadas propostas concretas de compra por outros eventuais interessados. No entanto, ressalvou o Provedor: "se a câmara deseja tanto ficar com a Casa dos Pescadores , a Misericórdia vende-lha pelo valor que a comprou, mais as despesas inerentes à aquisição"
Sublinhando que a câmara teve seis anos para proceder à compra, tem  15 dias para manifestar o interesse na aquisição...
A Misericórdia, recorde-se, adquiriu os dois edifícios por 425 mil euros e vai investir meio milhão na recuperação...
Na Figueira o "sistema está a funcionar". 
Isso não é bom, é óptimo...

domingo, 21 de janeiro de 2024

Uma reportagem RTP, quase com 50 anos, que nos faz recordar que o problema da erosão costeira na Aldeia já vem de longe...

A reportagem RTP, sobre erosão costeira nas povoações de Cova e Costa de Lavos,  que podem ver clicando aqui, foca um tema que me tem acompanhado ao longo da vida.

Datada de 1 de Junho de 1974, tem uma duração de 14 minutos e 54 segundos.
Na altura, já lá vão quase 50 anos, a Cova estava ameaçada, muito devido à construção dos molhes que definiram a barra da Figueira tal como a conhecemos hoje.

No final dos anos 50, as muito pequenas profundidades do canal externo da foz do Mondego dificultavam a utilização do porto. Vários navios começaram a evitá-lo (Abecasis et al, 1962). Por forma a solucionar este problema, teve início em 1959 a construção das infra-estruturas actuais, com projecto de Carlos Krus Abecasis.
Estas consistiram em dois molhes convergentes, um a norte e outro a sul, com comprimentos respectivamente de 900m e 950m. A distância entre os centros das cabeças dos molhes fixou a largura da embocadura em 325m, ou seja, mais 25m do que fora fixado em 1929. A cabeça dos molhes ficava a cerca de 8m de profundidade abaixo da maré baixa. O molhe norte ficou concluído em 1965 (Abecasis et al, 1970).
Como consequência da implantação destas estruturas, inicia-se, a partir de 1960, um período de acentuado avanço da linha de costa, a norte da embocadura (Figura. 10.26 e 10.29 a 10.31). Este avanço resultou da acumulação de sedimentos, transportados longilitoralmente, de encontro ao molhe norte do porto da Figueira da Foz. Tais sedimentos são sobretudo provenientes da zona costeira a norte do cabo Mondego. Abecasis et al. (1992) apresentam resultados de estudos que, recorrendo à marcação de areias através de radioisótopos, permitiram verificar a existência de transporte sedimentar ao longo do Cabo Mondego.
Em contrapartida, meia dúzia de anos depois,  a sul da foz do Mondego começaram a sentir-se os primeiros efeitos da erosão, logo após a edificação dos molhes. Junto a Cova, registou-se um Estudo Sintético de Diagnóstico da Geomorfologia e da Dinâmica Sedimentar dos Troços Costeiros entre Espinho e Nazaré, registando-se um agravamento acentuado do recuo da linha de costa (Figura. 10.32), sendo inclusive apontados valores extremos de erosão da ordem dos 30m/ano em 1976 (Duarte & Reis,1992).
Os molhes, embora essenciais para recuperar o porto da Figueira, não foram suficientes, só por si, para lhe dar a operacionalidade necessária. Sempre foi necessário proceder a dragagens regulares na zona da barra, no anteporto e no canal anterior desde a povoação da Gala (no braço sul) até montante da ponte rodoviária.
Posteriormente, foram construídos dois paredões, em 1975 (Duarte & Reis, 1992) e vários molhes perpendiculares à costa, em 1977, tentando fechar o mais possível a embocadura à entrada de sedimentos provenientes da deriva litoral.
Nos anos 70 realizaram-se várias obras na bacia do Mondego, com o objectivo de reter e regularizar os caudais sólidos e líquidos, no âmbito de um vasto projecto para defesa e irrigação dos férteis terrenos desta planície aluvial, para o que era necessário, tanto quanto possível, minimizar as cheias do rio (Hidroprojecto, 1983). Estas obras tiveram como consequência uma ainda maior diminuição dos caudais do rio, deixando este de apresentar força de corrente para se opor à entrada da maré. Assim, a circulação interna do estuário tornou-se ainda mais dependente do regime mareal. Desde essa altura, até à actualidade, continuaram as múltiplas intervenções quer na bacia do Mondego, quer no estuário, as quais prosseguem nos dias de hoje.
O avanço da linha de costa a barlamar do molhe norte continuou na década de 70, ainda que em meados dessa década já só se registasse uma acreção de cerca de 2m/ano junto ao Forte de Santa Catarina, enquanto que, em Buarcos, o avanço se situava em cerca de 20m/ano (Duarte &Reis, 1992). Segundo Vicente (1990), desde 1962 até 1980, a largura da praia aumentou cerca de 440m (24,4m/ano) junto ao molhe da Figueira da Foz e cerca de 180m (10m/ano) na zona de Buarcos, tendo a área total emersa aumentado, em maré alta viva, cerca de 60ha. A partir de 1980 a posição da linha de costa tende a estabilizar, sendo inclusive registados, no final dos anos oitenta, taxas de recuo da ordem dos 3m/ano a 5m/ano (Duarte & Reis, 1992). Esta inflexão no comportamento do litoral adjacente, por barlamar, aos molhes do porto da Figueira está seguramente relacionada, pelos menos parcialmente, com as explorações de areias que Santana Lopes pôs termo na sua primeira passagem como presidente de câmara da Figueira da Foz.
Na zona a sotamar dos molhes de entrada do porto registou-se, desde o início dos anos 60, erosão costeira acelerada, nomeadamente na zona a sul do molhe sul, onde se verificou profundo corte na duna primária, a qual, segundo Castanho & Simões (1978), foi mais tarde refeita artificialmente.

Esta situação chegou a ser muito grave nos anos 70. Com efeito, nos anos a seguir à construção dos molhes (1960/65) verificou-se intensa erosão costeira, "no lanço imediatamente a sul da embocadura do rio Mondego e em outros localizados mais a sul, especialmente no lanço fronteiro à povoação de Leirosa.
Quando esta reportagem foi feita tinha eu 20 anos. Lembro-me bem, pois a seguir ao 25 de Abril de 1974 foi eleita uma Comissão de Moradores e fui um dos membros.
Não foi possível salvar a casa da Guarda Fiscal. Todavia, a outra casa que aparece na reportacem foi salva graças à engenharia militar, que fez deslocar de Espinho uma brigada que teve um actação rápida e eficaz. A tal pornto que a casa ainda lá está.
Foi com os homens que apareceram na repostagem que eu aprendi a dar a atenção que os problemas da erosão costeira deveriam merecer dos figueirenses e do poder político.
A partir de 2010 mais um erro. Apesar de todos os avisos que, devido tempo, foram feitos, a que ninguém com responsabilidades, ligou. Apesar de algumas  vozes discordantes – principalmente de homens ligados e conhecedores do mar e da barra da Figueira – foi concluído o prolongamento do molhe norte.
"A obra do aumento de quatrocentos (400) metros do molhe norte do porto da Figueira da Foz foi exigida, anunciada, e aprovada, em 2006, 2007 e 2008; teve início neste último ano; realizou-se ao longo de 2009; e ficou pronta em 2010 — e, por isso, logo a partir desse ano começou a alterar as condições da deriva sedimentar, e com o tempo acumulou as areias, ao longo dos anos (até começarem mesmo a contornar a cabeça do molhe norte…), e esse acrescido assoreamento das areias levou, concomitantemente, ao consequente alteamento das vagas nessa zona. Um assoreamento que, como era previsível, se avolumou mais e mais, ao longo dos anos. Os resultados não se fizeram esperar."
Tal como este blogue previu há anos (tudo foi dito, tudo se cumpriu), depois da construção do acrescento dos malfadados 400 metros do molhe norte, a erosão costeira a sul  da foz do Mondego tem avançado, a barra da Figueira, por causa do assoreamento e da mudança do trajecto para os barcos nas entradas e saídas, tornou-se na mais perigosa do nosso País para os pescadores e a Praia da Claridade transformou-se na Praia da Calamidade.

Mas essa história ja foi amplmente contada ao longo de quase 18 anos neste blogue. Quem a quiser conhecer não tem a mínima dificuldade: basta clicar aqui.

sábado, 30 de junho de 2018

Tempo de viagem...

"Recordar New Bedford", uma crónica de António Augusto Menano.
"Em 2000, o Kiwanis Clube, à época vivo e ativo, deslocou-se a New Bedford. Por lá representamos “O mar”, de Miguel Torga, no Clube dos Pescadores, e no palco da Universidade de Dartmouth. Fomos recebidos pelo mayor Frederic k M. Kalisz Jr. e pelo cônsul, e ficámos alojados em casa de figueirenses, na sua quase totalidade nascidos na Gala, aos quais nunca agradeceremos suficientemente.

A câmara deu um pequeno subsídio que pagou a viagem do nosso ensaiador e carpinteiro. Todas as restantes foram suportadas pelos bolsos de cada um. Recordo estes momentos um mês depois das celebrações do 10 de Junho e da visita dos nossos governantes, aproveitando para referir a monumental obra “Portuguese Spinner A n American Story”, “Stories of History, Cultur and Life from Americans in South eastern New England”, publicada dois anos antes da nossa viagem, e cuja edição foi suportada, por várias instituições.

Visitámos Fall River, Providence e Boston. Foi um encontrar conterrâneos integrados na sociedade, produtivos, respeitados. Para outra crónica ficarão pormenores, mas não posso esquecer o Museu da Baleia, onde constatámos a importância dos baleeiros açorianos."

Nota de rodapé.
Recentemente, o Presidente da Câmara da Figueira da Foz, acompanhado pelos Presidentes das Juntas de Freguesia de S. Pedro e de Buarcos e S. Julião, andou 10 dias em viagem.
Visitou as nossas comunidades no Estado do Massachussets.
Os autarcas foram sentir o pulsar da comunidade figueirense que rumou a estas localidades americanas e acompanhar o seu quotidiano nos diversos locais de trabalho e de convívio. 
De acordo com a crónica da viagem que tive oportunidade de ler aqui, "a visita compreendeu, para além de muitos encontros com figueirenses, deslocações às diferentes empresas que empregam, muitas em cargos de chefia, figueirenses. Foi o caso da Joseph Abboud Suits, em New Bedford, onde cerca de 500 dos 780 trabalhadores são portugueses, muitos deles figueirenses, que assim integram um processo produtivo que culmina em fatos de alta qualidade para, por exemplo, a NBA. «As nossas costureiras são muito apreciadas na Joseph Abboud, pela qualidade do seu trabalho e pela sua dedicação», destacou o autarca. Também na Johnsons & Johnsons Depuy Synthes Raynham a comitiva pôde confirmar o apreço que os figueirenses merecem nesta unidade de desenvolvimento de próteses e equipamentos cirúrgicos, ocupando posições de coordenação e chefia. Na Southcoast Health Urgent Care - Dartmouth, um espaço que pretende prestar cuidados primários de saúde e que foi desenhado pelo figueirense Hélio Rosa, da Cova-Gala, arquiteto especialista em espaços de saúde, o orgulho na prestação dos figueirenses em terras americanas continuou a aumentar.
A visita ao centro de estudos e arquivo português-americano da UMass, onde estão compiladas diversas obras sobre a história dos portugueses na comunidade, foi o coroar do reconhecimento dos nossos emigrantes, e conta agora com um exemplar do Foral de Buarcos, outro do Livro "Vila de São Pedro, entre rio e mar" e ainda dos dois volumes de "Gentes da Cova-Gala - Um exemplo de solidariedade".
Durante esta deslocação aos EUA, houve ainda oportunidade para renovar o acordo de geminação da Figueira da Foz com New Bedford, numa cerimónia que culminou com o hastear da bandeira da Figueira da Foz na Câmara Municipal de New Bedford, tendo a Assembleia Municipal de New Bedford, pela mão de Joe Lopes, distinguido ainda a Figueira da Foz com um Louvor. Outro momento alto da viagem aconteceu no Seamens Bethel, New Bedford, com a cerimónia de homenagem aos pescadores portugueses.  
A comitiva figueirense teve ainda a oportunidade de ouvir a artista figueirense a viver nos EUA, Ana Vinagre, visitar o Fishermans Club de New Bedford, frequentado por naturais da Cova-Gala e de Buarcos; o Pasta House de Fairhaven, propriedade de figueirenses; o Porto de Pesca de New Bedford, o maior porto de pesca dos Estados Unidos da América e que conta com frota pesqueira figueirense, e o Luzo Fishing Gear, empresa propriedade de figueirenses que fornece equipamentos de pesca e óleo para aquecimento.
O Fishing Heritage Center, onde o Município da Figueira da Foz foi agraciado com uma réplica de um Dory feito à mão e o documentário sobre a pesca do bacalhau; a nova Elementary School of New Bedford Irwin Jacobs e Escola de Ciência Marinha e Tecnologia da University of Massachussets (UMass); o Water Fire Festival, em Providence, iniciado pelo nosso Primeiro Ministro e pelo nosso Presidente da República na presença de mais de 20000 portugueses, foram outros dos momentos marcantes desta deslocação.
O Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, assinalado em Boston, foi, no entanto, o mote desta viagem. Milhares de portugueses passaram o seu dia na Boston City Hall Square, em salutar convívio e a aguardar o momento em que a Bandeira de Portugal iria ser hasteada numa das praças mais importantes de Boston. A cerimónia decorreu com a presença do nosso Primeiro Ministro, António Costa, e do Excelentíssimo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. «Foi um momento emocionante e carregado de simbolismo», resume João Ataíde. 
João Ataíde fez ainda parte do núcleo restrito que acompanhou o Presidente da República nas comemorações do Dia de Portugal a bordo do Navio-Escola Sagres.
Foi ainda na companhia do mais alto Magistrado da Nação que o Presidente da Câmara Municipal da Figueira da Foz e a restante comitiva figueirense visitaram o Whaling Museum (Museu da Baleia) para um brinde com a comunidade portuguesa de New Bedford e Fall River. «É um museu muito bem preparado e com um espólio extenso e riquíssimo a nível cultural e histórico. Neste momento têm uma exposição temporária sobre o Cônsul Aristides Sousa Mendes, onde é referenciada a Figueira da Foz. É uma experiência que se recomenda», afirma o edil.
Para chegar ao maior número de emigrantes figueirenses e não só, o Presidente da Autarquia concedeu, ao longo da sua estada nos EUA, diversas entrevistas às estações de rádio e televisão WJFD New Bedford e Portuguese Channel, onde divulgou as riquezas e potencialidades da Figueira da Foz."

Ontem, na AM a oposição tentou saber os resultados desse périplo americano da embaixada figueirense. O Senhor Presidente da Câmara, num tom que me pareceu algo agastado e incomodado, respondeu que foi cumprimentar e confratenizar com a comunidade portuguesa no Estado do Massachussets, já que quanto a captação de investimentos para a Figueira da Foz o saldo foi zero.
Tudo bem. Para fazer o balanço final, resta divulgar os custos...

sábado, 21 de maio de 2022

20 de Maio de 2022 - Três Efemérides, num Dia Só...

"O dia 20 de Maio é o dia em que, em Portugal, ocorrem três efemérides ...embora só uma delas seja celebrada... Três efemérides que, por acaso, se dá o acaso de coincidirem, temporalmente, no mesmo dia. Numa coincidência que é semelhante à da noite do dia 17 de Dezembro de 1961... (o Dia do Destino Português...), e do poema de Sophia de Mello Breyner Andresen que nessa noite estava a ser escrito... acerca do que é a verdadeira grandeza, humana, e do que é o verdadeiro pranto, histórico, e do que é a tragédia, paradoxal, da verdadeira História de Portugal, e dos Portugueses, e da sua expansão ultramarina, e do seu lugar e da sua presença no mundo...

A primeira dessas efemérides (mas que ninguém comemora...) é a do assassínio, em 20 de Maio de 1449, da figura mais significativa e interessante da História de Portugal, o Infante Dom Pedro de Coimbra, o responsável pioneiro da estruturação (legal e administrativa) do Estado Português (e da coragem de, através dessa estruturação, enfrentar o Feudalismo...), e o verdadeiro responsável pioneiro do incentivo e da organização do "Mar Português", dos Descobrimentos Geográficos e da Expansão Ultramarina Portuguesa (assassinado em 1449, em Alfarrobeira, às portas de Lisboa, faz, neste ano de 2022, quinhentos e setenta e três [573] anos).

A segunda dessas efemérides (sempre institucionalmente comemorada...) é a do dia que é considerado como o "Dia da Marinha Portuguesa", o qual todos os anos é sempre festejado neste dia 20 do mês de Maio devido a ser o dia em que se considera que em 20 de Maio de 1498 chegou à Índia — abrindo pela primeira vez o caminho marítimo entre a Europa e o Índico — a expedição portuguesa, da Ordem de Santiago da Espada, vulgarmente conhecida como a "Viagem de Vasco da Gama". A expedição dos Gamas (Paulo e Vasco da Gama), que, apesar de todos os atrasos, até acabou por ser realizada, e teve lugar em 1497-1499 (e, no fim, após a morte de Paulo da Gama, acabou por ser dela considerado responsável o seu irmão que o acompanhava e que sobreviveu, Vasco da Gama), e foi uma expedição que havia sido preparada pelo neto desse antigo Regente Infante Dom Pedro de Coimbra assassinado em Alfarrobeira, e seu herdeiro e continuador (pessoal, patrimonial e político) — herdeiro e continuador, quer na política interna, quer na política ultramarina — o “Príncipe Perfeito” Rei Dom João II.

Essa chegada à Índia nessa expedição de 1497-1499 dita "de Vasco da Gama" (que faz agora quinhentos e vinte e quatro [524] anos) ficou para sempre célebre, e é sempre celebrada — como uma das datas mais importantes e mais gloriosas da História de Portugal —, embora sobre ela existem enormíssimas dúvidas, e óbvias lacunas, que nunca são apontadas, apreciadas e esclarecidas... — e embora estejam à frente dos olhos de toda a gente as óbvias censuras e manipulações que acerca dela foram feitas "a posteriori"… (assim se originando o chamado "mistério de Vasco da Gama"... que quase tudo e todos, em Portugal, se têm afanosamente dedicado a silenciar e a tentar esconder, como se não existisse).

E essa expedição dos Gamas nem sequer terá chegado à Índia no dia 20 de Maio de 1498, e sim no dia 17 ou 18 de Maio de 1498... Mas a deslocação da efeméride um par de dias mais para a frente, na calendarização oficial (de 18 de Maio para 20 de Maio), para efeitos públicos e institucionais, teve a utilidade de assim se conseguir que o dia 20 de Maio, em Portugal, todos os anos, pudesse ser evocado e celebrado por outra qualquer coisa de significativo (e até glorioso...), em vez de ser evocado como o dia do assassínio do Infante Dom Pedro, o da "Virtuosa Benfeitoria", em Alfarrobeira, no episódio que ficou célebre como "Fartar, Vilanagem!"…

Preferiu-se comemorar a "Descoberta do Caminho Marítimo para a Índia", em vez de comemorar "Fartar, Vilanagem!"…

A terceira dessas efemérides (mas que ninguém comemora...) é a do dia 20 de Maio de 1801, o dia em que foi conquistada (e assim ficou para sempre), pelo exército de Espanha comandado por Manuel Godoy (no âmbito da ridícula campanha da "Guerra das Laranjas"...), a praça portuguesa de Olivença — a praça militar isolada do lado de lá do Guadiana que desde há muito se encontrava ao abandono por parte dos Reis portugueses da Casa de Bragança... (os novos reis que, desde 1640, estavam instalados não somente em Vila Viçosa mas também em Lisboa, e aí viviam das riquezas do ouro e dos diamantes do Brasil…). Ao abandono... com a ponte Ajuda, que era o cordão umbilical que ligava Olivença a Portugal, destruída desde 1709, e nunca reconstruída... com uma guarnição somente de 200 milicianos… com um governador, mercenário francês, Jules César Auguste de Chermont, que logo se rendeu... etc.)

A ponte Ajuda construída no tempo do Rei português Dom Manuel nos inícios do século XVI (construção belissimamente estudada no livro do historiador local Luis Alfonso Limpo Píriz)... destruídos os seus arcos centrais em 1709, e deixada assim... sem reconstrução, durante um século…! Durante o século em que a Portugal afluíram os abundantes ouros do Brasil, e por todo o lado foram erguidas as faraónicas obras religiosas portuguesas, de Mafra, etc., com as suas talhas douradas...!

Abandono, e desleixo, à portuguesa. Até que Olivença, por isso, ficou de todo estrangulada na sua ligação ao lado de cá do rio... e se perdeu para Portugal.

Foi assim o futuro de Portugal…

Em Portugal, quem ganhou, para sempre, foi a Casa de Bragança... e não a Casa de Coimbra do Infante Dom Pedro de Alfarrobeira e do seu neto Rei Dom João II...

E assim se criou um país que ficou para sempre subdesenvolvido e insustentável.

Hoje, 20 de Maio de 2022, completam-se quinhentos e setenta e três [573] anos da morte de uma das figuras mais decisivas e mais importantes (e, na sua multifacetada identidade, ao mesmo tempo homem de pensamento e homem de acção, a mais fascinante de todas as personalidades individuais) da História Nacional Portuguesa, o INFANTE DOM PEDRO DE AVIS E LANCASTRE (1392-1449), Regente da Coroa de Portugal (1439-1448), viajante das "Sete Partidas do Mundo" (Europa, 1425-1428), Duque de Coimbra, Senhor de Montemor, Buarcos, Aveiro, etc. (Beira Litoral, 1411-1415-1449)… o verdadeiro precursor da "glória e grandeza" futura de Portugal (como lhe viria a chamar Sophia de Mello Breyner Andresen): o precursor da criação do moderno Estado Português (as "Ordenações Afonsinas" de 1446, e a protecção dos concelhos municipais e das actividades económicas produtivas, do mercado e dos mercadores e pescadores), o precursor do efectivo lançamento dos Descobrimentos e Expansão Ultramarina Portuguesa (os verdadeiros Descobrimentos Geográficos do desconhecido, e as verdadeiras colonizações das Ilhas Atlânticas, e a encomenda para Portugal do mapa veneziano de Fra Mauro, origem do futuro "Plano da Índia", o plano que veio a ser conceptualizado e organizado na década de 40 do século XV pelo seu neto e herdeiro o "Príncipe Perfeito" Rei Dom João II), e o precursor da autêntica criação do vocabulário cultural e abstracto da Língua Portuguesa ("Livro da Virtuosa Benfeitoria", c.1431) e de tantos outros avanços culturais que, com o tempo, secularmente, vieram a ser os paradigmáticos para a identidade nacional portuguesa (a inspiração para os Painéis de Nuno Gonçalves de c.1445, a continuidade das obras do Mosteiro da Batalha como panteão nacional, etc.).

O Infante Dom Pedro, sobre a memória do qual — e sobre o carácter exemplar e simbólico dessa memória, verdadeiramente profética para o futuro de Portugal e da sua História (uma memória que, por isso, depois do seu assassínio, ficou a pairar, como um fantasma, para sempre, nessa História...) — tem desde sempre sido insidiosamente mantida e reforçada (ora silentemente disfarçada nos bastidores escuros dos claustros clericais e pseudo-progressistas, universitários e "académicos"… ora trombeteadamente massificada nas algazarras dos festivais das "Comemorações" oficiais…) uma "Maldição" destinada a perpetuar o seu silenciamento e a sua censura (à "boa maneira portuguesa", discretamente, escondendo a mão…)… através do silenciamento e da censura (através da perseguição pessoal, profissional e política) contra quem quer que tenha a coragem de tentar resgatar essa "Maldição da Memória" em curso desde há séculos.

Uma "Maldição" destinada a perpetuar sobretudo o silenciamento do exemplo cívico e do significado da sua figura. Uma maldição destinada a silenciar a História, memória e exemplo do Passado, para libertação do Futuro...

Mas uma maldição que não vai ter êxito... Essa figura histórica do Infante Dom Pedro, devido a esse seu exemplo cívico, está viva, e assim vai continuar para sempre... porque, ainda hoje (e para sempre), fala com a sua própria voz...

Agora, no século XXI, até pode enviar "tweets" (condensados a partir do seu "Livro da Virtuosa Benfeitoria" e de outros textos seus)...

Magia da Escrita, contra a Maldição da Memória... 1449-2022..." 

CENTRO DE ESTUDOS DO MAR - CEMAR. 

terça-feira, 12 de dezembro de 2023

O Picadeiro: saudade é isto mesmo - “é tudo o que fica, depois de tudo morrer”

Com a devida vénia, fica arquivado neste blog/baú este excelente texto"onde Pedro Biscaia expressa gratidão ao Fernando e Isabel, pela criação de um lugar de memória e memórias".

"A sugestão do Zé Tomé e do João Damasceno, para que fosse eu a vir aqui testemunhar o apreço que todos temos pelo Fernando Grilo e pela Isabel João, pela sua aventura de quase 30 anos ao leme do Picadeiro, parece-me, no mínimo, inesperada e até, talvez, fora de contexto. Eu?... Eu que não sou de beber nem de comer, a quem o vinho provoca azia e as digestões são um processo difícil, o que é posso vir aqui dizer? Obviamente que não estou habilitado a comentar gastronomia ou enologia, os segredos da alquimia da confeção ou a seleção de castas adequadas a certas vitualhas.
Em boa verdade, dessas matérias não sei absolutamente NADA ! 
Todavia, o que facilita a missão de que fui incumbido, é a circunstância de ter conhecido e partilhado um lugar, que sempre foi muito para além do que um mero restaurante. Ali, à volta da mesa, todos aprendemos uns com os outros, num espaço de cultura que, tal como disse não sei quem, -“é o que fica, depois de tudo se esquecer”. O Picadeiro foi, provavelmente, o último herdeiro de uma rede de locais que ajudaram a construir a identidade da Figueira do sec. XX, nas tascas de raiz popular guardadas na memória coletiva da cidade, tais como o Púcaro e a Gaivota na Rua 10 de agosto, o Manel da Parreira e o Gato Preto, ali perto do Cais, o Barril na rua da República, o Barracão no Casal do Rato, o Socorro de Inverno na rua da Restauração, os Papagaios no mercado, o icónico 37 na rua dos Pescadores, a Adega Praia em Buarcos… estações de um roteiro iniciático de sociabilidade de várias gerações. E, além delas, as tabernas como o Feteira ou o Niza, a primeira preferida pelos marítimos e a segunda pelos estivadores ou ainda os cafés frequentados por tribos próprias, com clientes de condição social diversa e onde eram patentes as tendências políticas (mesmo às escondidas) clubísticas e sociais. A Nau era dos funcionários públicos, dos adeptos da Naval e, depois do 25 de abril, de ativistas de posicionamentos mais à esquerda. A Brasileira tinha a preferência dos apaniguados do Ginásio e do Sporting Figueirense e de uma elite pequeno-burguesa de bancários e comerciantes, da parte antiga da Figueira. O Café Brasil (conhecido por Zé do Lixo) era o apoio privilegiado dos passageiros das camionetas da rodoviária, que ali paravam. No Bairro novo, o Nicola, a Cristal, a Império, o Oceano ou o Europa tinham frequentadores diferentes entre si e todos eles eram diferenciados da clientela conservadora da Caravela. O Arnaldo era um poiso muito peculiar, onde se bebia e petiscava ao balcão e o anexo da Mercearia Encarnação era um recanto mais sossegado e discreto, no fim da tarde. Havia ainda, nas imediações da estação, a “Capela do Sol”, do Manuel Lopes, que tinha estatuto de santuário de tertúlia bairrista (mas com acesso restrito) e, na rua da República, o Café Paris, este, indicado para cavalheiros mais carentes de mimos e licores…
Neste roteiro de lugares, estava subentendido um código definidor de identidades específicas, um respeito por territórios conotados e, também, a procura dos que nos estavam mais próximos. Em todos eles, na sua diversidade, havia tertúlias quase sempre masculinas e, aos domingos, eram transformados em seletos salões familiares de galão morno e torradas com manteiga. Tudo isto eu o digo, apenas a escorropichar a memória do meu tempo *, sabendo que há quem o tenha estudado com profundidade e rigor. Por exemplo Guida Cândido (hoje reputada investigadora nesta área do saber) tem um estudo publicado, em 2014, pelo município da Figueira, sobre a célebre Tertúlia “Coração, Cabeça e Estômago” fundada por António Augusto Esteves, nos anos 30, e compartilhada por vultos figueirenses como Joaquim de Carvalho, Cardoso Marta, António Piedade, Mário Augusto e outros, cuja constituição e atividade cultural e gastrónoma, expressa em atas descritivas, vale muito a pena conhecer. Posteriormente, já nos anos 80, também existiu o Círculo de Gastronomia e Cultura da Região da Figueira, sob a égide de João de Lemos, Marcos Viana e Albarino Maia, em cujo estatuto se pode ler “Círculo porque todos são iguais, usufruem os mesmos direitos e deveres, todos ao redor da mesa partilham do mesmo pão (…) e Cultura porque gastronomia também é cultura”.  
Ora, o Picadeiro foi o seguidor desse espírito gregário e de convivência, para além do cuidado posto nas ementas de referência tradicional, graças a perseverança do Fernando e da Isabel, em parceria com as imprescindíveis cozinheiras, com destaque para a Cristina, e os sucessivos empregados como o Gervásio, o Renato, o Rafael ou o Marcos, que levavam até à mesa, travessas de apuradas tentações. Por isso, estes dois nossos amigos, para além de proprietários e gestores de um restaurante foram, implicitamente, agentes culturais e catalisadores da sociabilidade democrática figueirense, onde todos encontraram um acolhimento feito de qualidade, simpatia e descontração, numa pluralidade de género, idade ou condição. Nessa medida, foi um lugar de culto, um pára raios de amizades, um aconchego para algumas solidões, uma praça de intercâmbios, onde pontificaram figuras tutelares da mesa e da conversa, como o Mário Moniz Santos ou o Joaquim Gil que, lamentavelmente, já não estão aqui.
A própria escolha do nome do estabelecimento - Picadeiro - remete para o mais conhecido espaço público de sociabilidade da Figueira, o mais antigo segmento pedonal da rua Cândido dos Reis, outrora poeticamente denominada rua da Boa Recordação, a âncora do Bairro Novo de Stª Catarina, qual passerelle de acesso ao Casino Peninsular, quando este era um edifício digno e frequentado pelo glamour de veraneio e quando o espaço comum de circulação era respeitado, ao contrário da ocupação desenfreada que hoje lá vemos. E, curiosamente, o “Picas” fica na esquina da rua que evoca o Académico Zagalo, o jovem estudante que comandou a libertação do Forte de Stª Catarina do jugo napoleónico, em 1808, e a rua Dr. Francisco Dinis, homem de visão larga, que foi um dos fundadores da Companhia Edificadora Figueirense, no final do sec. XIX. Ou seja, está na confluência toponímica da ousadia, da liberdade, do empreendedorismo e do amor ao desenvolvimento da nossa terra. Ele há cada coincidência…!
O “Picadeiro” do Fernando e da Isabel, o nosso “Picas”, era, também, uma espécie de casa familiar comum, onde quase todos se conheciam, pelo menos de vista e onde perpassava uma solidariedade entre pares. No meu caso pessoal, posso confessar que todas as minhas namoradas tiveram que lá ir à amostra e com o intuito de que melhor entendessem o que as palavras e até os gestos, nem sempre conseguem explicar. Ora, esse estatuto de casa de família, íntima, acolhedora, despojada de formalismo, com as paredes cobertas de lembranças como um álbum de fotografias, era o que sabíamos que podíamos esperar do Picadeiro e por isso, o fazíamos, um bocadinho, coisa nossa. Eramos todos dali, como nunca o fomos de outros lugares onde nos sentámos à mesa para comer. Era o lugar a que sempre regressávamos, à espera de um sorriso conhecido (como no verso do Manuel António Pina “regresso devagar ao teu sorriso como quem volta a casa”…), da graçola repetida, da novidade segredada, do picante da crítica figueirense, da lamúria do estado das coisas, da partilha do sentimento. Ali celebrámos vitórias e enterrámos derrotas, discutimos vinhos - eu não, claro… - vaticinámos resultados desportivos e eleitorais e sempre nos despedimos uns dos outros, até à próxima vez. Recomendávamo-lo a outros amigos e conhecidos, com palavras de confiança e até o atrevimento de sugerir que, quando lá chegassem, dissessem que iam da nossa parte.
Isto não tem preço ! Isto não consubstancia uma mera transação comercial !
O segredo do Fernando e da Isabel, na criação e sustento deste ambiente diferenciado e tão humano, esteve na paixão com que se entregaram ao seu projeto e o bom resultado foi o que se viu, com claro e indelével contágio em todos nós. Faz-me lembrar aquela história que conta que o jovem Kaiser Guilherme II da Prússia terá perguntado ao seu mestre de equitação, o que era mais importante: se a técnica, os arreios ou a montada. E este ter-lhe-á respondido: - a paixão do cavaleiro, Sire…a paixão; o resto vem tudo atrás!
Sim, foi um privilégio de vida passarmos pelo nosso “Picas”, porque ali cada um foi o que já era e o que recebeu dos outros e, assim tendo sido, aqui estamos a agradecer, com um sentido abraço, a quem foi nosso cúmplice na construção de amizades para a vida e nos proporcionou momentos de genuína felicidade.
Esse é o verdadeiro sedimento das coisas essenciais !
Ficamos agora, momentaneamente, despernados, com a bússola sem norte, talvez até com sentimento difuso de orfandade, mas… como cantava o Fausto “atrás dos tempos vêm tempos e outros tempos hão-de vir!”
Eis, como um gajo que de comida e bebida nada sabe, teve o desplante de vos servir esta caldeirada de afetos, com tempero de alegria, uma pitada de memória e um toque discreto de nostalgia.
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E para acabar, parafraseando o Márinho, que de pequeno só tinha o diminutivo, digo agora:
“Ah meninos…!” vai um brinde à Isabel e ao Fernando!"