Miguel Sousa Tavares no Expresso desta semana.
«Ao pé de Soares e dos
da sua geração, nenhum
dos políticos de hoje vale
absolutamente nada.
Aqueles tinham causas;
estes têm oportunidades.
Aqueles, mesmo quando
aos tombos, queriam
o bem; estes, na melhor
das hipóteses, não
sabem o que querem.»
Santana Lopes, no dia 7 de Dezembro de 2023, na cerimónia de inauguração das comemorações do centenário do nascimento de Mário Soares, na Figueira.
«No tempo em que vivemos precisamos de inalar exemplos destes para podermos ter força para lidar com este mundo complicado em que vivemos».
No Portugal de 2024, em que os cidadãos têm medo do futuro, decorrido um ano, talvez tivesse sido esse o ponto mais relevante desta iniciativa de Pedro Santana Lopes: relembrar o enorme contributo de Mário Soares para o Portugal em que vivemos em 2024.
Em Dezembro de 2016, estava Mário Soares internado no Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa, a jornalista Maria Elisa que entrevistou muitas vezes o antigo Presidente da República, deu um testemunho emocionado sobre o papel de Soares na história da Democracia portuguesa.
Disse aos jornalistas: “tenho medo que as gerações mais novas não percebam o quão importante foi Mário Soares”.
Era eu muito novo, alguém me disse que "velhice é posto".
Agora que cheguei, confirmo: é um posto, mas muito ingrato.
Sem me vangloriar disso, sou do tempo:
- do Salazar. - do Marcelo Caetano. - do Palma Carlos. - do Vasco Gonçalves. - do Pinheiro de Azevedo. - do Sá Carneiro. - do Pinto Balsemão. - do Freitas do Amaral. - do Ramalho Eanes. - do Sócrates. - do Passos Coelho. - do António Costa. - do Montenegro. - do Toni de Matos. - do António Calvário. - do Artur Garcia. - da Madalena Iglésias. - da Simone de Oliveira. - da Shirley Bassey. - de Os Beatles. - do Eusébio. - do Carlos Lopes. - do Armando Aldegalega.
- do escudo. - dos surtos de cólera. - dos chiqueiros e esgotos a céu aberto. - dos filmes e livros proibidos. - da guerra colonial. - das barracas nas dunas da Cova . - da miséria. - da fome. - do pé descalço.
- em que se morria por falta de cuidados médicos. - do trabalho escravo, no mar e em terra. - da obrigatoriedade da disciplina de Religião e Moral no ensino secundário...
- do 25 de Abril de 1974.
E, também, sou do tempo de Mário Soares.
O 25 de Abril de 1974 permite que ande por aqui.
A nossa Pátria, em oito séculos de história, portou-se quase sempre mal com as suas gentes.
Reconheçamo-lo...
Quem somos nós para o contestar?..
Nos dias que passam, a injustiça, o silêncio, o medo e a fome aumentam neste velho País.
Sente-se e, por vezes, ouve-se, aqui e ali, um soluço que risca o frio muro da tristeza – o que, mesmo para gente com muita lata, mas pouca vergonha, não deixa de causar incómodo.
Mas, o pano de fundo é desolador: Portugal, quase moribundo e arfante, parece estar a morrer devagar.
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