A AUTARQUIA E OS PREGOS, uma crónica de Carlos Tenreiro.
..."em clara atmosfera propagandista, com a realização da cerimonia de atribuição do Prego de Ouro, o dito, foi cravado na presença de altas individualidades da comunidade científica internacional e nacional, sendo encontrado, mais tarde, caído, junto ao local, por alegadamente ter sido objecto duma tentativa de furto, gorada, em face do mesmo ser tão somente dourado e não de ouro (!?) , segundo reza a nota de imprensa da CMFF.
Atento à inabilidade que venho constatando por parte da autarquia em lidar com iniciativas que envolvam pregos, atrevo-me a discordar da referida notícia, inclinando-me mais para a tese do prego ter caído porque, simplesmente, foi mal pregado.
Já não é a primeira vez, nestes últimos tempos, que se assiste a pregos mal pregados por parte da autarquia, como é o flagrante exemplo dos novos passadiços colocados na praia da Figueira. Não que estes pregos tenham caído como o do Cabo Mondego, mas antes, porque não podiam ser ali pregados por razões de ordem legal, devido a normas actuais de segurança e saúde pública, precisamente, por não serem de ouro, nem dourados, mas sim de cobre e, enferrujarem pela acção do tempo(potenciais transmissores do tétano), assim como, encontrando-se sujeitos a grandes amplitudes de ordem térmica, tendem a despregar-se, fazendo com que as ripas dos passadiços se soltem, ao ponto de já terem causado, durante o corrente Verão, graves acidentes nos transeuntes com menor poder de locomoção – crianças e idosos –.
O caderno de encargos daquela obra impõe (e bem) a fixação dos passadiços com parafusos em inox, não só pelas referidas razões de segurança e defesa de saúde publica mas também como forma de assegurar a sua manutenção periódica, por reaperto.
Contudo, em manifesto desrespeito pela Lei em vigor e do supra indicado requisito concursal, cada uma das múltiplas ripas que se estendem pelos novos passadiços da praia, encontram-se, todas elas, pregadas com vulgos pregos...
Depois de ter perdido todo o seu esplendor por não ver limpo o areal, a Rainha das Praias arrisca-se agora a ficar conhecida pela praia dos pregos ferrugentos, pagos a peso de ouro!"
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
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1 comentário:
Simplesmente um aplauso a este post.
Assim se faz um bloge.
Assim se escreve.
Aprendam caros curiosos que o Agostinho não dura sempre.
Abraço camarada.
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