"Serra da Boa Viagem", uma crónica com a assinatura de João Vaz, ontem publicada no jornal AS BEIRAS, onde fica demonstrado como nas pequenas voltinhas do dia a dia nos podemos surpreender com coisas que estão à vista, mas que quem tem a obrigação de o fazer nunca repara!
"Dezenas de famílias aproveitaram o sábado solarengo para um “picnic” na serra. Os parques de merendas mais próximos da estrada, e mais centrais, estavam cheios. Conseguimos lugar num local mais afastado.
Surpresa: o sítio das merendas estava limpo. Contentores para o lixo não havia. Informação, também não. Cuidados a ter: perigo de incêndio. Nada sobre o assunto.
Nota-se trabalho florestal, árvores cortadas, reduzindo as “infestantes“ (acácias). Os caminhos estão arranjados, permitindo o acesso à mata e descobertas bizarras. Uma torre de betão, com data de 1926, coberta de trepadeiras e fungos, sem indicação da “história”. Um enigma. Logo a seguir, uma vedação delimita uma pequena “gruta” que esconde algum veio de água. Informação? Nada.
Esta lacuna, a falta de informação, persiste no site da Câmara da Figueira da Foz. A descrição da serra é tecnocrática: “A rede viária tem 26,57 quilómetros de estradas”, repetindo-se a expressão “rico património natural”, mas sem conteúdo. Através do site, não sabemos o mais importante: nada é dito sobre flora e fauna; percursos, rotas, cuidados a ter, etc.
Quem escreveu o texto parece que nunca visitou a Serra da Boa Viagem, ou só passou de carro, foi à Bandeira e voltou. Se queremos informação sobre o património natural, temos os artigos do biólogo Horst Engels, que trabalhou este assunto, durante anos, sem qualquer apoio. A Serra da Boa Viagem merece mais atenção por parte do município."
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
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