sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Na Figueira, a partir daqui, só se fizer comunicação social sem jornalistas! Portanto, só podemos estar optimistas...

A propósito duma polémica da treta, um dia destes, no facebook, li algures por aqui um comentário que dizia mais ou menos isto.
Quanto à comunicação social da Figueira, seria bom que as pessoas soubessem quantos jornalistas existem. Por muito bons que sejam, não conseguem acompanhar tudo. É fácil falar estando de fora, mas é difícil fazer melhor.
Sabem o que é estar 24h/24h em serviço? A Foz do Mondego, o Figueira na Hora e a Voz da Figueira têm UM JORNALISTA! Sabem quanto tempo demora editar, confirmar dados/fontes e divulgar uma notícia?“

Para quem acompanha de perto as fragilidades da comunicação social figueirense nos últimos 40 anos, isto não é novidade. Eu próprio sabia que a coisa funciona assim. E a situação tem vindo a piorar, ano após ano. Fecho de jornais, despedimento de jornalistas, falta de estabilidade profissional, falta de liberdade, essa foi uma realidade que o próprio autor deste blogue foi acompanhando ao longo dos tempos...
Neste momento, os órgãos de comunicação figueirenses sobrevivem com as redacções mais "magras", "leves" e "baratas", que é possível. A partir daqui, só se fizer comunicação social sem jornalistas. Crê-se, por isso, que "o pior já tenha passado"
Além da dimensão humana deste problema, também aqui na Figueira, a questão principal tem a ver com a falta de enquadramento em termos de paradigma com que estas alterações e despedimentos são feitos. Ou seja, está-se perante meras operações contabilísticas, sem qualquer sustentação naquilo que deveria ser o modelo do jornalismo no futuro e do negócio que o sustenta. Isso acontece, em parte, porque ainda não se sabe bem qual o caminho que o jornalismo pode seguir e, muito menos, que esquema de financiamento o pode viabilizar.
Como alguém ligado ao sector me disse recentemente, fazer depender hoje em dia um projecto jornalístico de receitas de publicidade e de vendas em banca (ou por assinatura) é a receita para o desastre... 
Como, aliás, se viu com projectos editoriais recentes em Portugal, que foram lançados cheios de pujança, mas alicerçados em modelos obsoletos e que, rapidamente, se viram confrontados com a dura realidade dos números. 
Então, que novas formas de negócio existem neste sector que possam viabilizar os jornais e o jornalismo num futuro próximo?
Um desses modelos já foi testado no Figueirense, depois de ser propriedade do Casino, e continua em vigor na Foz do Mondego Rádio do empresário e político Fernando Cardoso: passa, digamos assim, por uma espécie de mecenato.
No fundo, para abreviar, acredita-se que se parte do princípio de que o investimento financeiro é feito sem uma lógica de lucro inerente (e até mesmo a "fundo perdido")...
Então, qual seria o interesse?
Em causa, poderia estar outro tipo de "retorno", que pode ser prestígio cultural, social, “poder” pelo controle da informação, controle político, etc. 
Este, é apenas um caminho que o jornalismo e os jornais poderão vir a seguir nos próximos anos.
Para já, ainda não foi encontrada a fórmula que garanta a sua viabilidade saudável para o futuro. Como o exemplo do Figueirense provou.
Para já, continua a funcionar a Foz do Mondego Rádio...
Desde que me conheço, que me considero um observador atento da dura realidade dos meios de comunicação social figueirense.
Na Figueira, do meu ponto de vista, a comunicação social continua a ter os pecadilhos de sempre: falta de ideias próprias; e continua presa a velhas rotinas, que impedem a sua renovação.
Basta ver os conteúdos. O grosso da coluna das notícias veiculadas pelos órgão de comunicação locais, provem das fontes oficiais ou institucionais. 
Não falam das pessoas normais - as que no fundo lêem jornais e ouvem rádio.
Os jornais – e os jornalistas - gravitam em torno dos poderes, como mosquitos à volta duma lâmpada acesa numa noite escura, numa zona de águas estagnadas e mal cheirosas.
Culpa dos jornalistas?
Também, mas não só.
Os interesses – não só os económicos – é que determinam as regras do jogo.
Mas quais são os grandes pecados?
Na minha óptica, os grandes pecados dos media figueirenses são o comodismo, a desatenção, o respeitinho pelo poder, o alheamento da sua tarefa histórica de vigilância democrática.
Só que o público está cada vez mais atento e a ganhar uma postura cada vez mais pensada e interveniente.
Os tempos dos leitores e dos ouvintes se deixarem reduzir a simples consumidores de conteúdos, sem qualquer postura crítica relativamente ao menu mediático que lhe é proposto, estão a acabar.
Algo está a mudar.
Lenta, mas progressivamente, a influência dos media na sociedade está a impor leitores, ouvintes e telespectadores cada mais críticos e atentos à comunicação social e à sua mensagem.
No País em geral. E também na Figueira.

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