“Antes de o Bloco o "inventar", Rui Tavares tinha
escrito o "pequeno livro" do terramoto de 1755. A coisa foi um
"sucesso" e Tavares andou de capela em capela para promover a sua
obra com a inevitável ajuda do comadrio do "meio". Tanto à esquerda
como à direita, o livrinho foi incensado e Tavares passou a existir oficialmente
O Bloco enfiou-o, presumivelmente pelo incontestável "prestígio"
intelectual da criatura, como independente na sua lista para as europeias de
2009. Em princípio não seria eleito mas os resultados colocaram-no em
Estrasburgo e à solta. Percebeu-se depois - o Bloco percebeu - que Tavares,
afinal, não vestia outra camisola a não ser a sua. Já tinham decorrido pelo
menos quatro anos desde que o homem havia adquirido o estatuto de subtil, lavrado
publicamente graças à sua alegada "originalidade", e nada o impedia
de o exibir lá fora contra a sua "barriga de aluguer" política. O
país, evidentemente, ignora que Tavares sente encarnar a figura de mais um dos
intermináveis salvadores da pátria a partir do lado esquerdino da mesma. Mas, à
cautela, Tavares formou um partido com quinze (15) porta-vozes porventura para
obrigar a pátria a reparar nele. Isto foi o suficiente para suscitar um tumulto
irrelevante na pequena tribo das esquerdas que vagueia entre o bicéfalo Bloco,
o dr. Louçã e os dissidentes fashion destes três que, tal qual Tavares,
imaginam que Portugal não se safa sem o seu pernóstico "contributo".
Com esta feira de pequenas vaidades urbano-depressivas, estas almas perdidas todas
juntas apenas ajudam à "respeitabilidade" institucional do PC
enquanto esperam por uma entrada ordeira e oportuna no PS que, vai para 40
anos, se habituou a recolher tresmalhados deste jaez. Um pequeno terramoto para
nada.”
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
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