... Rodrigo ia fazer três meses.
... O pai do Rodrigo não acusa ninguém, leio no DN. Talvez atribua à má sorte a morte espantosa do seu bebé, conjecturo eu. O pai do Rodrigo é um pai que nunca vai deixar de o ser, embora o filho seja a ausência do estar, e a memória de um sonho feliz. O pai do Rodrigo vai preparar-se, devagar, para o eternamente inesquecível. Ainda não caiu bem em si. Confuso, perplexo, está tão longe estando tão perto. Olha tudo com estranheza e dúvida. E, no entanto, aquela hora medonha, a mediar o prazo entre a vida e a morte, nunca deixará de ser a marca de um sofrimento transformado em sacrifício.
... Observo a fotografia do pai sem filho. Se o espanto possui rosto: ei-lo. Se a resignação é o espaço esburacado onde tropeça toda a tristeza do mundo: ei-la.
... Choro de Rodrigo. Birra de Rodrigo. Sorriso de Rodrigo - nunca mais.|”
OS JOGOS DOS ACASOS, por Baptista-Bastos
escritor e jornalista
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
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2 comentários:
Ao Baptista Bastos a gente permite tudo, mesmo a demagogia emotiva. A outros que possam o mesmo, chamr-lhe-emos manipuladores da ignorância, aproveitadores da tristeza alheia, populistas baratos, conservadores insanos! Quem leu, ouviu e reflectiu sabe que não há causa efeito entre a morte da criança e o encerramento do serviço hospitalar que, por acaso, até já estava em funcionamento...
Pois.... a demagogia.
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