quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

“Rodrigo morreu às 9.40 de sexta-feira, 18, na rua, frente ao Hospital de Anadia....

... Rodrigo ia fazer três meses.

... O pai do Rodrigo não acusa ninguém, leio no DN. Talvez atribua à má sorte a morte espantosa do seu bebé, conjecturo eu. O pai do Rodrigo é um pai que nunca vai deixar de o ser, embora o filho seja a ausência do estar, e a memória de um sonho feliz. O pai do Rodrigo vai preparar-se, devagar, para o eternamente inesquecível. Ainda não caiu bem em si. Confuso, perplexo, está tão longe estando tão perto. Olha tudo com estranheza e dúvida. E, no entanto, aquela hora medonha, a mediar o prazo entre a vida e a morte, nunca deixará de ser a marca de um sofrimento transformado em sacrifício.

... Observo a fotografia do pai sem filho. Se o espanto possui rosto: ei-lo. Se a resignação é o espaço esburacado onde tropeça toda a tristeza do mundo: ei-la.

... Choro de Rodrigo. Birra de Rodrigo. Sorriso de Rodrigo - nunca mais.|”


OS JOGOS DOS ACASOS, por Baptista-Bastos
escritor e jornalista

2 comentários:

Anónimo disse...

Ao Baptista Bastos a gente permite tudo, mesmo a demagogia emotiva. A outros que possam o mesmo, chamr-lhe-emos manipuladores da ignorância, aproveitadores da tristeza alheia, populistas baratos, conservadores insanos! Quem leu, ouviu e reflectiu sabe que não há causa efeito entre a morte da criança e o encerramento do serviço hospitalar que, por acaso, até já estava em funcionamento...

ANTÓNIO AGOSTINHO disse...

Pois.... a demagogia.